O MILAGRE DA MEDALHINHA DE OURO (5 ª PARTRE)

Na imensidão da selva amazônica um pensamento vasculhava centímetro por centímetro da densa floresta; era o sentimento materno, que o coração de mãe nutria alimentado pelo desejo do seu reencontro com o filho. Amália prometera a si mesma, esperá-lo, mergulhada no silencio sem jamais pronunciar seu nome e tampouco afirmar verbalmente, que o mesmo estivesse vivo, para não ser julgada como uma louca obsessiva.

Mas no fundo de sua alma ela aguardava o sublime momento de abraçá-lo novamente mostrando ao mundo o poder de premonição que tem um coração de mãe. Em oração ela permanecia em sintonia com Deus, na certeza que ele estava protegendo seu filho, não importava o lugar onde estivesse. Seu coração lhe dizia que ele estava sendo bem cuidado. Palavras de conforto e apoio de amigos e de seus familiares não lhe faltaram em momento algum, e no fundo da sua alma uma fé inabalável alimentava a certeza e esperança de um final feliz,

Enquanto isso, lá muito além no coração da selva, um helicóptero pousa numa clareira próxima a uma aldeia indígena. Assim que seu motor silenciou, um intérprete faz um gesto de positivo ao índio que assistiu o pouso na entrada de uma trilha que mergulhava mata adentro. Gesticulando ele o autoriza a caminhar em sua direção. Logo após uma rápida conversa os demais ocupantes são autorizados a descerem da aeronave o piloto e o bioquímico Artur, funcionário do laboratório homeopático, cuja missão é realizada a cada trimestre recolhendo as ervas e raízes fornecidas pelo silvícola da aldeia que são pagos em bens de consumo, ferramentas rudimentares, incluindo alguns medicamentos fabricados com os próprios produtos extraídos pelos Índios. Por uma trilha eles seguem acompanhando o Page.

No entorno da maloca as crianças brincam com dois papagaios e um sagüi, que ao vê-los, abandonou as crianças, e saltitando aqui e ali vai de encontro ao grupo, tentando logo em seguida bisbilhotar a maleta de Artur. O índio o repreende com palavras incompreensíveis, ele sai grunhindo como se tivesse tomado uma dolorosa chibatada. Eles ficaram admirados com atitude do animal, mas o interprete explica: o índio disse a ele que se teimasse colocaria pimenta no seu olho. Abismados com o procedimento do animal, eles seguiram adentrando no interior da maloca. Antes de qualquer negociação, o índio os conduziu a uma rede e retirando uma pele de animal, cobrindo alguém que lá estava exclamou: -- Home branco qui mim tirô no grande rio. Mim fez home branco durmi muntas luas, mim querê home branco curado! O interprete perguntou como ele o encontrou. -Mim achô home branco cum corda cor de lua in tora qui num afunda. – Ele disse que o encontrou preso com uma corda cor da lua sobre uma tora de madeira que flutuava descendo rio abaixo. Provavelmente deve ser uma, corrente de ouro com um amuleto ou coisa semelhante.

Tocado delicadamente no ombro pelo índio, o homem acordou baixando as pernas levando a planta dos pés sobre o chão aquietou o balanço da rede provocado pelo silvicola, com aparência moribunda, barba crescida e roupas um pouco encardidas, ele tirou da algibeira um pente que faltava alguns pinos, ajeitou com ele os longos cabelos, passou a mão pela barba, que estavam caprichosamente bem lavados, e se pôs de pé. Alguns segundos de profundo silêncio, enquanto ele mantinha o olhar fixo no bioquímico.

-- Estou sonhando ou você é o Artur? -- Quem está sonhando sou eu-, acaso conheço-o de onde? -- Da faculdade fomos colegas não de cursos, mas estudando na mesma instituição! --Como viestes parar aqui? –Me precipitei no rio não sei quando nem como vim parar aqui foi salvo por este índio maravilhoso, perdi a noção do tempo, ele apesar de ser um anjo entende pouco ou quase nada do que falo, e eu da mesma forma sei apenas que me manteve dormindo, a maior parte do tempo dizendo: durmi muntas luas pra sara home branco. —Desculpe-me ainda não o reconheci! – Sou o Claudio cursei engenharia. – Então é você meu amigo, acompanhei a saga de o seu desaparecimento através do noticiário da T.V., mas nunca imaginei que seria você, seus familiares procuram por seu corpo vários meses seguidos, até desistirem, o que aconteceu?- é uma historia que nem eu mesmo saberei narrar, só sei que quando dei por mim um pelotão de índios dançavam no meu entorno atirando uma fumaça enorme com o cheiro insuportável no meu rosto, entoando tambores.

Tudo bem Claudio deixemos a história, de lado o importante agora é te conduzir a um hospital vamos acertar com os índios, e partir o mais rápido possível. – Responda-me como chegaste até aqui?—Estou de helicóptero a serviço do laboratório para o qual eu trabalho, trouxe bens de consumo e ferramentas que serão trocadas por raízes, ervas, e essências extraídas pelos silvícolas. –Dormia um sono tão profundo que não ouvi nada, é o medicamento com o qual salvaram minha vida, eu que sempre fui incrédulo agora me rendo ante a fé de minha mãe, pobre mãe -, como estará ela?—Breve ela será a mãe mais feliz do mundo assim que atingirmos o local de cobertura telefônica você poderá comunicar a ela que está vivo são e salvo. -- Prefiro comunicá-la quando chegarmos bem próximo de nossa casa. No pátio da indústria de meu pai, se não se importa e seja eu pedir muito, me conduza para lá. O local garante um pouso com segurança. – Além de não ser nenhum incomodo quero ter a honra de devolvê-lo a sua mãe, e presenciar a felicidade dela. Não seria prudente procuramos um hospital antes de tudo? – Artur meu amigo o único tratamento que eu necessito é o aconchego de minha família em especial o carinho de minha mãe! Você o terá hoje ainda antes do anoitecer!

Acertado todos os detalhes da negociação com o chefe indígena, Artur anunciou que partiria imediatamente levando o amigo Claudio, mas o índio não permitiu, através do interprete que o colocou a par de toda a tragédia da qual Claudio foi vitima, ele afirmou que só o liberaria após um ritual de agradecimento ao deus tupã. Seus guerreiros teriam que caçar três javalis e num ritual de danças festejarem em agradecimento pela vida do home branco. – índio oferece fumaça tupã home branco come carne! Uma grande ansiedade tomou conta do grupo, apenas Claudio manteve-se calmo já acostumado com o ambiente. Não tiveram alternativa só lhes restando aguardar pela captura dos animais.

(Continua na próxima semana)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 29/10/2012
Reeditado em 17/08/2020
Código do texto: T3957694
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