O falso veterinário e o cavalo empazinado

Mandou a filha estudar na cidade. Quando chegou para as férias, ao invés de um diploma, a moça trouxe um candidato a genro. Muito bem apessoado, mas era um pé rapado. Para causar uma boa impressão ao velho fazendeiro, o casal veio com tudo preparado, inventou que o rapaz seria estudante de veterinária. Depois, voltaria para a cidade e poderia arranjar uma mudança de profissão, um abandono acadêmico, ou coisa parecida para embromar o velho.

Foi recebido muitíssimo bem pelo sogro. Mas o fazendeiro não ia perder a chance de testar as ciências do jovem. Em um lugar como aquele, cheio de animais, era fácil arrumar um candidato a paciente.

Havia um cavalo corroído pelos anos. Como a velhice do pobre animal constava em pastar e pastar, acabou empanzinado, e por tabela, também sendo escolhido para o teste.

-Um genro veterinário!

-Estudante, papai! Ainda estudante! – Respondeu a filha enquanto segurava o namorado pelo braço.

-É, mas ele pode ir lá dar uma olhada no pobre do Ventania. Agora que aposentou do serviço, adoeceu!

Sem alternativa, o casal seguiu o fazendeiro.

No curral, igualmente encurralados, estavam o cavalo e o aspirante a genro. Cada um parecia mais assustado do que o outro, nenhum dos dois parecia gostar daquela situação. O único tranqüilo era o velho, que aguardava o desfecho da consulta, segurando o cavalo pelo cabresto.

-E aí Ventania, o que você anda sentindo? – Indagou o moço ao cavalo, como se esperasse realmente uma resposta vinda do bicho, mas quem respondeu foi o velho:

-Ele anda meio empazinado, não quer pastar.

-O senhor lhe deu alguma medicação?

-A muié fez uns chá pra ele, mas num teve resultado.

O moço se aproximou do cavalo, segurou o cabresto, apontou o dedo para o traseiro do cavalo e disse:

-Deixe eu examiná-lo daqui enquanto o senhor examina de lá.

O velho sem saber o que ia acontecer, obedeceu. Pois tinha plena confiança nas ciências do genro veterinário. Com uma das mãos alisou as ancas do animal enquanto espera a nova ordem, que demorava a chegar. Já meio impaciente, perguntou:

-E agora? O que eu faço?

O moço respondeu:

-Vou tentar abrir a boca, enquanto isso o senhor levante o rabo dele.

Assim o fez. Ergueu o rabo, enquanto lá na frente o moço ainda pelejava para abrir a boca do pobre animal.

Vendo a dificuldade do genro, o velho gritou lá de trás.

-Você quer ajuda? A minha parte aqui foi moleza.

-Estou quase conseguindo. Esse cavalo é teimoso, heim?

Quando finalmente conseguiu abrir a boca do animal, o moço disse ao velho:

-Agora, levante o rabo dele, e tente olhar.

-Olhar? Olhar o que? Não dá pra ver nada, você é o médico aqui. Não é você que deveria olhar?

-Olhe daí e eu olho daqui!

Enquanto o velho encarava o “fiofó” do cavalo, o moço olhava pela boca. Depois de alguns segundos nessa posição, o jovem disse:

-Como eu imaginava. Não estou vendo o senhor. E daí, não dá pra me ver, dá?

-Só de fora!

-Não de fora, olha por dentro!

-Você quer que eu te veja por dentro? Tô tentando, mas não dá pra ver nada daqui não.

-Como eu suspeitava...- Largou a boca do animal e olhou para o velho - Ele tem é nó nas tripas.

Meire Boni
Enviado por Meire Boni em 16/10/2012
Reeditado em 16/10/2012
Código do texto: T3935357
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