A Capivara e a Melancia
“...perdido por perdido, truco!!!”
Aqui vão aparecer "Causos" que poderão não estar politicamente corretos em termos de meio ambiente. Mas é bom lembrar que nasci no final dos anos 30 e a abundância de matas, caça e peixe, nessa época nem sonhava ser preocupação de qualquer autoridade. O matuto nessa época não era predador da natureza. Era parte integrante dela. Das matas e dos rios vinham as fontes de proteínas do caboclo. O rodeio no assunto serve pra justificar nossa posição.
O ângulo formado pela confluência da água do Limoeiro (perto de Roseta) com a margem do Rio Capivara (ambas à esquerda), era um pequeno pedaço de terra formado por aluvião, areia misturada com terra roxa, rica em húmus trazido das cabeceiras do Limoeiro, encravado num oceano de terra roxa pura. Local excelente para a prática da agricultura, pricipalmente arroz e melancia como é nosso caso.
Meu Pai (Chico Português), pediu ao Tio ( Chico Alves) de minha mãe (Preta como era conhecida) aquele pedaço de terra para plantar arroz que dava pro gasto. Foi concedido porque era um capoeirão nos fundos que "não servia pra nada." Morávamos num sitiozinho em frente, que minha mãe havia recebido do Vô Norato como herança. A travessia do rio Capivara era feita por uma boa pinguela com corrimão de bambu. A foice derrubou e o fogo limpou. Feita a descoivara o arroz foi plantado de matraca, sem destoca. E como era costume da época, foram " picadas", por minha mãe, covas de melancias. Deu muita fruta. Se sobrasse a porcada dava conta do resto. Todos os vizinhos faziam o mesmo, quer dizer quase todos. Só tinha um problema: CAPIVARAS. Se não se cuidasse comiam todo o arrozal. E o recurso menos perigoso e mais barato era o "foge", um buraco, a prumo, em forma de pararalepípedo (2X1 mais 2,5m. de profundidade), coberto com palha grossa ou então, uma tampa basculante de tábua fina, como era o caso. Era só deixar. No dia seguinte tinha uma ou mais concorrentes fora de circulação. E a fonte de proteínas estava garantida.
Certo dia, ao fazer a ronda matinal, meu Pai notou que havia algo na armadilha. Foi chegando com cuidado e espiou o conteúdo: Uma capivara, das grandes, num canto. No ângulo oposto o compadre Paulo, e, no meio, um saco de estopa com duas enormes melancias. Compadre Paulo, descendente de italianos que tinha vindo de S. Paulo, onde trabalhara com auxiliar de enfermagem na Beneficência Portuguesa. Era um dos poucos vizinhos que não plantava melancias porque trabalhava por dia pra todo mundo. E por isso não tinha roça. Mais que depressa, acho que até sem cumprimentos, meu pai estendeu o cabo duma enxada que portava e içou o matinal apanhador de melancias.
Passada a surpresa, os dois sem jeito, partiram pras despedidas, quando meu Pai, lembrou: Não vai levar as melancias, compadre?! E a resposta veio mais que depressa "Non, as merancias son da capivarra". (Oldack/05/04/010).