Foto de minha árvore
Hoje em dia estão em desuso, mas a combinção e a anágua foram peças fundamentais do guarda roupa feminino. Juntamente com a calcinha eram denominadas roupas de baixo. Geralmente confeccionadas em casa com todo capricho, cheias de rendinhas, lacinhos e bordados. Mas nem todas as mulheres eram adeptas de tais peças. No tempo de minha avó, os vestidos e saias eram compridos e algumas senhoras usavam roupa de baixo apenas nos dias de “precisão” ou quando iam à cidade assistir à missa. Gertrudes, uma vizinha, era uma delas.
Gertrude era casada com o Zé Antônio. Moradores da Beira da Serra, ali também vivia um primo de meu avô conhecido por Chico Surdo. O homem não escutava praticamente nada, apesar de falar e entender o que as pessoas diziam. Era solteirão e andava de fazenda em fazenda realizando pequenos trabalhos em troca de pouso e um prato de comida.
Gertrude sempre fora meio moleca vivia trepada nas mangueiras, apanhando frutas para a criançada. Nem era bonita, mas o marido morria de ciúmes. Ficava doente só de pensar que outro homem estivesse esticando os olhos pra cima dela. A contragosto, precisou contratar o Chico Surdo para que o ajudasse a capinar uma roça. De qualquer forma ia ficar de olho nele, nem ia deixar que dormisse na casa. Ajeitaria seu pouso na casinha de guardar arreios.
Certo dia, o Zé Antônio mandou Chico buscar água e acabou ficando com a pulga na orelha quando este se demorou mais que o costume...Resolveu ir ver o motivo do atraso e se tranquilizou quando de longe o avistou sozinho debaixo da mangueira.
Zé Antônio não encontrou a mulher na casa e resolveu ir até o quintal indagar a algum dos filhos onde estaria a mãe. Confuso reparou que a esposa estava apanhando mangas num dos galhos mais altos e o Chico Surdo paralisado ali debaixo, feito bobo a olhar para cima. Seus olhos esbugalhados nem piscavam... Zé Antônio chegou onde estava o outro e olhou para cima também e nessa hora gritou furioso:
-Girtrudeeee...Sua danada, fedazunha, excumungada, diacha de muié severgonha sô! Desci daí qui ieu ti mato! Cê tá aí im riba dessa arvi sem carça, sua marvada? Daqui dibaxo dá pa vê tudo! Né pussive qui ocê é tão lerda qui num viu qui o Chico tá de zoio cumprido na sua...
Gertrude com um pé em cada galho, muito calma olhou para baixo e rindo do brabeza do marido e disse:
-Ô Zé Antõe...Larga mão de sê besta homi. O quê qui tem ieu tá sem carça? Intão ocê num si alembrô qui o Chico é surdo?...
Hoje em dia estão em desuso, mas a combinção e a anágua foram peças fundamentais do guarda roupa feminino. Juntamente com a calcinha eram denominadas roupas de baixo. Geralmente confeccionadas em casa com todo capricho, cheias de rendinhas, lacinhos e bordados. Mas nem todas as mulheres eram adeptas de tais peças. No tempo de minha avó, os vestidos e saias eram compridos e algumas senhoras usavam roupa de baixo apenas nos dias de “precisão” ou quando iam à cidade assistir à missa. Gertrudes, uma vizinha, era uma delas.
Gertrude era casada com o Zé Antônio. Moradores da Beira da Serra, ali também vivia um primo de meu avô conhecido por Chico Surdo. O homem não escutava praticamente nada, apesar de falar e entender o que as pessoas diziam. Era solteirão e andava de fazenda em fazenda realizando pequenos trabalhos em troca de pouso e um prato de comida.
Gertrude sempre fora meio moleca vivia trepada nas mangueiras, apanhando frutas para a criançada. Nem era bonita, mas o marido morria de ciúmes. Ficava doente só de pensar que outro homem estivesse esticando os olhos pra cima dela. A contragosto, precisou contratar o Chico Surdo para que o ajudasse a capinar uma roça. De qualquer forma ia ficar de olho nele, nem ia deixar que dormisse na casa. Ajeitaria seu pouso na casinha de guardar arreios.
Certo dia, o Zé Antônio mandou Chico buscar água e acabou ficando com a pulga na orelha quando este se demorou mais que o costume...Resolveu ir ver o motivo do atraso e se tranquilizou quando de longe o avistou sozinho debaixo da mangueira.
Zé Antônio não encontrou a mulher na casa e resolveu ir até o quintal indagar a algum dos filhos onde estaria a mãe. Confuso reparou que a esposa estava apanhando mangas num dos galhos mais altos e o Chico Surdo paralisado ali debaixo, feito bobo a olhar para cima. Seus olhos esbugalhados nem piscavam... Zé Antônio chegou onde estava o outro e olhou para cima também e nessa hora gritou furioso:
-Girtrudeeee...Sua danada, fedazunha, excumungada, diacha de muié severgonha sô! Desci daí qui ieu ti mato! Cê tá aí im riba dessa arvi sem carça, sua marvada? Daqui dibaxo dá pa vê tudo! Né pussive qui ocê é tão lerda qui num viu qui o Chico tá de zoio cumprido na sua...
Gertrude com um pé em cada galho, muito calma olhou para baixo e rindo do brabeza do marido e disse:
-Ô Zé Antõe...Larga mão de sê besta homi. O quê qui tem ieu tá sem carça? Intão ocê num si alembrô qui o Chico é surdo?...
* Eu conheci esses personagens, mas quem me contou a história foi a dona Gininha Bernardes, avó de meu aluno kaíque.
(Anágua) Imagem da internet