A CRIAÇÃO DE PERERECAS
- Qualé as nova cumpade?
- Onte pareceu um agrômo lá na venda do Zé do Gôlo sinando nóis criá perereca.
- Criá isso praquê cumpade?
- Uai, pra nóis cumê e tamém vendê.
- Mais inté isso dá dano cobre?
- Diz que lá na capitar isso vale um cobrão sô!
- Antão bamo criá tamém cumpade?
- Essas perereca daqui serve não cumpade.
- Cumo anssim?
- Ês tem umas perereca que num sangra, intende?
- Queném pexe?
- Isso memo cumpade.
- Esse povo da capitar é zigente, hein cumpade?
- Fala não.
- Será que num compensa vendê a Mimosa e comprá uas perereca dessa não?
- Será ca cumade num fica cum ciúme não?
- Da Mimosa ou das perereca?
- Das perereca, é claro.
- Nóis cria eas lá no fundo do chiquêro.
- Pode não cumpade. Povo lá da capitar gosta de cumê perereca limpa.
- Mais que povo zigente, hein cumpade?
- Fala não.
- Antão nóis compra umas gaiola dessas de pexe e põe as perereca lá dento, cum ração e água.
- Pode não.
- Caos de quê?
- Fica uas perereca munto grande, balofa e sem gosto, povo da capitar gosta não.
- Mais antão manda esse povo caçá coquinho. Vô sortá essas perereca lá no arto da serra, viveno da água da chuva, cumeno vento...
- Cê vai ficá rico cumpade!
- Num tindi...
- Essas perereca que o povo da capitar gosta de cumê!
- Quês trem minguado?
- Diz qué mais gostosa....
- Sem cor?
- Mais gostosa ainda...
- ...
- Mais uma zigência do povo da capitar cumpade...
- Qualé?
- Quando ocê sortá as perereca, corta as pata da frente.
- Praquê essa sacanage?
- Preas só ficá preocupada in aprendê andá.
- Mais que povo zigente cumpade!
- Tô te falano...
- ...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES