O ESPELHO, AS BOTAS E A VELA
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Recontando Contos Populares
Eram três irmãos que amavam a mesma moça. Os três eram muito unidos, mesmo quando começaram a gostar da mesma moça, porém, com o tempo a paixão era tanta que começaram os desentendimentos. E a moça não se decidia por nenhum.
O pai dos rapazes, já bastante velho e sofrendo com as desavenças dos filhos, achou por bem lhes mandar que saíssem a correr o mundo, assim, quem sabe, esqueciam aquela paixão. Mas avisou-lhes que nesta peregrinação não os queria separados. Os três obedeceram (esta história se passa no tempo em que os filhos tinham obediência aos pais).
Os irmãos já estavam muito longe de casa, muito longe mesmo, quando ouviram latidos de cães e gritos de caçadores. Logo em seguida, aproximou-se deles, pondo o coração pela boca de tanto correr, uma onça que lhes caiu aos pés, quase morta de cansaço. Recuperado o fôlego, a onça queixa-se da maldade dos caçadores e de um espinho que lhe havia entrado numa das patas, enquanto fugia.
Os moços, penalizados, socorreram a pobre fera. Um foi buscar água; o outro segurou a pata da onça, e o mais moço, com todo o cuidado, mais que depressa retirou a espinho. A onça agradecida pela bondade dos irmãos, ao se despedir, lhes deu de presente três coisas, uma a cada um: um espelho, no qual se podia ver tudo o que se passava ao longe, por maior que fosse a distância; um par de botas que era só calçá-las e já estar onde se queria; e, por último, uma vela que se colocando na mão de uma pessoa morta, esta ressuscitaria.
Os três continuaram a caminhada. Passado dias, o que tinha o espelho quis ver nele a moça que amava e enxergou-a morta, deitada num caixão, pronta para ser levada para o cemitério.
Contou a visão aos irmãos e os três mais que depressa se meteram nas botas, sendo que os dois mais magros ocuparam um dos canos e o mais gordinho o outro. E partiram como se fossem um corisco.
Chegando à casa da moça, lá estava ela, de fato, morta, cercada de toda a família que chorava de fazer pena. O que tinha a vela colocou-a na mão da defunta que logo ressuscitou. O seu pai, imediatamente, ordenou que ela decidisse com qual dos três queria casar, mas ela não conseguiu decidir-se, porque a todos devia a sua salvação.
O do espelho foi quem a viu, morta; o das botas transportou-os e o da vela ressuscitou-a. Como escolher? Os irmãos também começaram a reivindicar, cada um, o seu direito ao casamento. A questão correu muitos anos, e não ficou resolvida. Até hoje se pergunta qual dos três devia ser o preferido: o do espelho, o das botas ou o da vela?
Responda for capaz. ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Este conto foi registrado na cidade de Rio Pardo (MS). Recentemente, em conversa com amigos, também pesquisadores, fui informado de que este conto é variante dos Contos Populares Portugueses.
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