O escritor convida-o (a)

Venho humildemente por meio desta, convidar-lhe para uma inusitada viagem. Não compare com ninguém, nem com outros contos. Vou falar sobre um caso real que aconteceu no início do século 19. Trata-se da história de um marinheiro holandês que trabalhava em um navio negreiro, transportando escravos da África para o litoral de Pernambuco.

Patrick, um holandês de um metro e noventa de altura, cabelos loiros, olhos azuis e era bastante musculoso, trabalhava no convés de um navio transportador de escravos. Preparava-se para mais uma travessia oceânica, viagem que seria da África para o litoral brasileiro. Desta vez o navio estava com superlotação de escravos, pois já havia em muitos países a abolição da escravatura. Ele sabia que aquela poderia ser a sua última viagem por conta disso.

Antes de zarpar de um porto clandestino no litoral Africano, Patrick desceu aos porões do navio como fazia de costume antes de iniciar a viagem, para verificar se todos os escravos estavam vivos e devidamente acorrentados. Durante a revista, uma escrava em particular lhe chamou a atenção. Era uma negra alta, pele reluzente de cabelos longos e lisos. Uma linda mulher. Eles se olharam por uns instantes, o suficiente para despertar em Patrick uma profunda admiração por aquela linda mulher. Subiu ao convés e foi cuidar de seus afazeres para seguir viagem.

Nos dias que se seguiram, Patrick não tirou aquela mulher de seus pensamentos e no terceiro dia de viagem resolveu descer aos porões para vê-la. Ao encontrá-la amarada e bastante faminta, Patrick resolveu ajudá-la, arranjou comida e água e levou para ela. Por sua vez, a moça com muita fome e sede aceitou gentilmente, mas comeu e bebeu desesperadamente, pois sabia que talvez não resistisse à longa viagem.

Enquanto a moça comia, Patrick a observava pensativo “Como é bonita essa jovem escrava”. Nos dias que se seguiram, Patrick sempre levava comida para ela, mas como sempre, ela não comia toda a comida que ele levava, sempre guardava uma parte por baixo de suas vestes junto ao chão. Num desses dias Patrick entregou-lhe a comida e levantou para ir embora, mas, voltou alguns segundos depois e viu que a moça distribuía o pouco de comida que ela havia guardado com as pessoas que estavam perto dela. Ele achou aquela atitude nobre de sua parte.

Durante toda a viagem houve vários encontros entre eles dois, sempre com o mesmo propósito de levar comida e água. Foram tantos os encontros que despertou entre eles uma profunda admiração.

Após muitos e longos dias de viagem, chegaram ao lugar do desembarque. Como o navio trazia uma carga clandestina, não pôde aportar a luz do dia. O capitão decidiu esperar a noite com o navio ancorado em alto-mar para desembarcar a carga que trazia. Foi então que Patrick resolveu mudar o rumo da história dele e dela. Na madrugada ela voltou ao porão, desamarrou a moça, e fugiu do navio com ela a bordo de um pequeno barco que ele havia improvisado. Ninguém soube do paradeiro daqueles dois, mas, foi assim que começou uma família que dela veio o meu bisavô, meu avô e meu pai. História contada pelo meu avô ao meu pai em 1943.

Charles Silva.

25/07/2012 – Em homenagem o dia do escritor.

CharlesSilva
Enviado por CharlesSilva em 26/09/2012
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