Mãe!

Desci as escadas e me deparei com uma mulher de costas para mim com um vestido azul, uma bolsa preta sobre o ombro direito. Ela tinha cabelos longos e quando se virou pude ver seu nariz aquilino parecidíssimo com o meu, seus olhos cor de esmeralda e sua pele enrugada devido às tantas primaveras. Meu coração parou. Eu senti que parou! O mundo pareceu se congelar. Minha respiração estancou no peito e não quis sair.

Não era possível. Eu estava diante da minha mãe, daquela que há tantos anos se foi, deixando apenas um bilhete.

-Bela casa, parece que você se deu bem, mesmo sem muita coisa.

- Como ousa entrar em minha vida, depois de tudo o que você me fez passar?

-Não vai me convidar para sentar?

-Sente-se. Disse apertando os dentes. - O que você quer?Ela nada respondeu, apenas sorriu e virou para um imenso quadro de Pietro que havia em cima da lareira.

-Você desapareceu da minha vida e acha que pode voltar aqui depois de oito anos e fingir que nada aconteceu?

-Eu sou a sua mãe, mesmo depois de tudo o que aconteceu.

- Se arrependeu?

-Sim, me arrependo de tê-la deixado. Você sempre foi uma boa filha, quero que me perdoe, não vim atrás de seu dinheiro, eu estou bem de vida, mais a morte se aproxima. Eu acredito que você seja capaz de me perdoar. Não é?

-Eu não seu Priscila, você é minha mãe mais eu não posso perdoá-la assim, você me abandonou, me deixou sozinha, sem uma casa sem grana, você se quer sabe que aconteceu comigo?

-Não mais pode me contar.

Eu senti um aperto imenso no peito e meu coração lembrou-se da dor da perda de Henrique e da maior perda de minha vida. A minha mãe me fez lembrar de coisas que eu preferia deixar guardadas e interadas em meu a um coração amargurado. Quando eu era pequena minha mãe, meu pai e eu nos mudamos para Sorocaba, meu pai um homem alto de olhos pretos e cabelos loiros a cor de leite de sua pele era linda, ele trabalhava numa empresa de telefonia. Meu pai era especial e naquela época éramos felizes minha mãe cuidava da casa e de mim, eu era filha única eles se amavam, e eu os amava, mais então quando eu tinha doze anos meu pai morreu de um derrame. E nossos dias começaram a mudar, anos depois minha mãe arrumou um“namorado” e desapareceu me deixando perdida. Graças a Deus Cibele, uma amiga que me apresentou uma tia rica dela que eu não passei fome e tive onde morar eu passei a trabalhar na casa dela, me mudei para o período noturno do colégio, e nos fins de semana fazia curso de inglês, me lembrei de Henrique um ex-namorado e do seu sumiço inexplicável.

-Filha, fala comigo? No que você está pensando?

-Mãe, você não tem noção o quanto foi difícil ficar sozinha sem você sem o papai. Você me deixou nem se despediu eu ainda era só uma menina, tinha dezesseis anos mãe. Você foi mal comigo, me magoou tão profundamente que eu nem sei como explicar. Eu te odiei por dias e por dias as lagrimas insistiam em correr por minha face, se você queria morar com aquele cafajeste apenas deveria ter me dito você não tem amor por mim? Você me abandonou e nunca mais voltou. O que fez todos estes anos? Com quem estava? Por que está aqui? Casou-se de novo teve filhos? Como me encontrou?

-Eu te amo minha filha.–Dizia ela com lagrimas nos olhos. –Me casei de novo sim, tenho um menininho de dois anos, ele se chama João Antônio, meu marido é bem de vida, e me ama muito, ele se chama Alberto e é uma pai maravilhoso, não amo ele, como amei seu pai, mais eu o amo, quero que me perdoe, eu estou com câncer no cérebro e posso morrer a qualquer momento, eu te encontrei porque Alberto me ajudou.

Eu te amo muito e durante todos esses anos tive vergonha de voltar e te reencontrar, tive medo de você me rejeitar.

-Eu nunca rejeitaria você. Apesar do que fez você ainda é minha mãe.

-O que aconteceu com você minha filha?

Era estranho mais realmente e eu estava feliz em ver minha mãe ela continuava com o mesmo cheiro, com o mesmo sorriso, com a mesma sua voz que tantas vezes orou comigo antes de dormir. Como era estranho ver seus olhos verdes depois de tanto tempo. Ela nem imaginava o que tinha acontecido comigo todos estes anos, mais eu diria a ela, talvez eu a fizesse sentir um pouco da dor que eu senti durante anos.

-Eu fiz Direito, me apaixonei ainda no colegial, mais ele me deixou. Casei-me aos vinte e dois, quando finalmente estava feliz, quase completa, sem ter um buraco negro que você e aquele que eu amei me fizeram, meu marido bondoso, gentil e amável foi tomado de mim de uma maneira tão impiedosa que nunca imaginei ser capaz, ele atravessava a rua quando um motorista bêbado o atropelou.

-Meu Deus, eu sinto muito.

-Não sente não mamãe, porque se você sentisse teria vindo antes, ou melhor, jamais teria me deixado, jamais teria feito um abismo entre nós um abismo tão imenso que não sei se agora estou preparada para encará-lo. Este abismo sem fim, este muro imenso feito de concreto com barras grossas de ferro para melhor segurança, eu não sou capaz de derrubá-lo, você construiu este muro e cavou o buraco para este abismo também, eu estou infeliz, triste, sou incapaz de ver beleza nessa sua volta, não consigo ver as coisas como via antigamente, por que Pietro me disse que jamais devia acreditar em pessoas más, e você foi má comigo, ao me deixar, ao não se despedir, ao me abandonar, ao ser incapaz de compaixão, eu era sua filha, sua única filha, a filha que o homem da sua vida havia te dado. E eu te amava, ainda amo, mais você não pode chegar aqui do nada, e achar que eu vou te perdoar com tanta facilidade assim. Eu lamento mais, eu não posso te perdoar, não agora. Quero que saia e volte amanhã, estarei mais calma. Você pode fazer isso?

-Claro que sim.

Vi minha mãe sair dali, com lagrimas derramando de seus olhos, eu queria sim lhe causar dor, e eu lhe causei, eu sinto muito se eu não consegui ser bondosa com ela, mais eu estava muito ferida, muito magoada, isso não devia estar acontecendo.

No dia seguinte da janela de minha casa a avistei atravessando a rua, ela me olhou nos olhos, vacilou quase abaixou a cabeça, mais ergueu os olhos e sustentou o olhar, dando-me um largo e bondoso sorriso. Fiz-me saber naquela hora, que nada do que ela me fez passar apagaria o amor que ela me tinha e que eu tinha por ela.

Eloisa Elena Delacroix
Enviado por Eloisa Elena Delacroix em 26/09/2012
Reeditado em 15/07/2013
Código do texto: T3902759
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