Morte no Cabaré de Pendura Saia
Nos finais dos anos cinqüenta para sessenta mesmo sendo somente um pequeno povoado encravado no interior de Goiás, Pendura Saia ás vezes surpreendia pelos acontecimentos e esse causo é mais um deles.
Lá tinha uma fazenda de quase mil alqueires de terra onde a porteira de entrada ficava no final da rua principal de Pendura por nome de Fazenda Fundão cujo dono dela se chamava Raul, homem de idade entre trinta e cinco a quarenta anos. Era um homem muito rude e bruto de poucos amigos, em sua casa, pouco falava com os seus. Ele era assim, devido à criação que havia recebido do seu pai que era um homem matuto e muito ignorante que achava que tudo resolvia na bala ou na ponta de seu chicote.
Raul cresceu vendo seu pai maltratar sua mãe, quando se casou fazia o mesmo com sua esposa, que era um doce de pessoa até mesmo no nome. Dulce é seu nome, mulher trabalhadeira, mais morria de medo do marido, porque ele não somente batia nela como também judiava com palavras duras. Dizia sempre que ela era um nada, uma imprestável porque nunca tinha lhe dado filhos. A única pessoa que ás vezes ela ainda tinha coragem de desabafar era com dona Helena esposa do seu Bento dono do armazém de Pendura. Quando ela falava dona Helena escutava e sempre dizia a ela
-Dulce você é uma santa, não sei como agüenta tanta coisa desse brutamonte, nem devia ter casado com ele.
-Helena me casei com ele para fazer gosto para meus pais que pensava que ele fosse um homem bom. Pois quando ia lá a casa era educado e gentil.
-Você deveria contar para sua família como é que ele te trata.
-Claro que não Helena! Eles iriam morrer de dor, pois tem o Raul na mais alta estima.
Essas coisas eram ditas quando Raul ás vezes resolvia levar a esposa para alguma visita para não dar muito na cara o quanto ele era mal em casa.
E assim, Dulce ia levando a vida até o dia que o marido chegou muito tarde em casa e ainda por cima muito bêbado. Ela fingiu que estava dormindo porque sabia se dissesse alguma coisa com toda certeza iria apanhar muito. No outro dia durante o café da manhã, ele foi logo dizendo a ela sem a menor cerimônia.
- Lá no cabaré da Arminda chegou uma rapariga nova. Muito bonita muito cheirosa e toda cheia de dengo. Sabe como fazer a felicidade de um homem.
Dulce ouviu e ficou calada porque sabia se dissesse alguma coisa, com certeza levaria um soco na cara. Engoliu o choro e humilhação. A partir deste dia o marido só chegava muito tarde e quase sempre bêbado.
Cada vez mais agressivo em casa ás vezes mesmo fingido que estava dormindo quando ele chegava, fazia-a levantar com puxões de cabelos e tapas na cara dizendo,
-Acorda sua imprestável! Vá esquentar água, e colocar no chuveiro para eu tomar banho.
Porque nesta época em Pendura Saia o chuveiro era manual. Era um balde grande com tipo bico de regador de planta em baixo, era colocado uma carretilha nos caibros do banheiro e ele era preso na carretilha com uma corda. Nele havia uma manivela que abria e fechava para abrir e fechar a água. E olha que só usava esse tipo de chuveiro quem tinha dinheiro, pois quem não tinha tomava banho de bacia ou enchia um balde com água dentro e jogava no corpo com um litro, era o famoso banho de litro.
Esse terror Dulce foi vivendo por meses. Seu pai foi com seu irmão até sua casa quando ficou sabendo que o genro estava enrabichado de uma mulher dama que toda noite estava no cabaré até já estava pensando em montar casa para a rapariga. Mais ela tranqüilizou-os dizendo que estava tudo bem e feliz. Eles pensaram que ela não devia saber de nada que o genro estava sendo muito discreto em casa. Ela fez isso porque sabia que se dissesse o quanto estava sofrendo com certeza um dos dois iria matar seu marido, não querendo vê-los presos achou melhor mentir e continuar sofrendo calada. No final da tarde quando Raul chegou foi logo dizendo
-Fiquei sabendo que seu pai e seu irmão estiveram aqui, espero que não tenha dito nada a eles porque se dizer acabo com sua vida.
Já pegando ela pelos cabelos e batendo muito nela com socos e chutes desta fez a deixou quase morta de tanto pancada. Ainda dando um último chute disse,
-Levanta daí! Vá arrumar a janta enquanto vou tomar um banho e ficar perfumando para a mulher mais linda e cheirosa, pois hoje estou com muita fome e tenho que estar bem alimentado para aquela fogosa mulher que me deixa louco.
Quando voltou a cozinha foi logo dizendo,
-Essa surra foi somente um lembrete para você saber que não estou brincando. Desta vez tirei somente sangue da próxima posso tirar sua vida. Tem mais, vou montar casa para a cheirosa, pois ela sim merece ser tratada como uma rainha. Pra ela vou dar tudo de bom. Até já disse para ela olhar uma casa lá em Pendura para alugar ou para eu comprar.
Mais uma vez, Dulce se calou engolindo sua humilhação porque sabia se dissesse alguma coisa acabaria apanhando novamente e seu corpo já estava muito machucado, sabia que não agüentaria outra surra como a que havia acabado de apanhar.
Raul jantou bem, comeu bastante como se nada tivesse acontecido, como se a esposa estive feliz e alegre e não muito machucada. Quando acabou de comer o que sobrou no prato juntou tudo e jogou na cara de Dulce dizendo,
-Sua imprestável essa comida estava horrível você não presta nem para fazer uma comida boa. Deveria ter feito comida boa para eu poder ir me divertir com a cheirosa. Fique sabendo que agora ela é só minha, está no cabaré mais por mim conta, estou bancado tudo para ela dormir somente comigo.
Disse isso e saiu assoviando todo feliz montou no cavalo foi para Pendura Saia com endereço certo, o cabaré. Lá chegando a cheirosa já veio ao seu encontro dizendo toda dengosa.
-Raulzinho, meu docinho de coco, você todo cheiroso é para mim?
- É sim!
Então ele a pegou pela mão a conduzindo para um dos quartos.
E já foi agarrando-a e arrancando toda a roupa todo afoito.
Só que, como ele havia comido muito, da sua casa até ao cabaré não levava mais do que vinte minutos, ele ainda não havia feito digestão. Durante o ato sexual o coração de Raul não agüentou a pressão parou de bater, ele morreu em cima da cheirosa. Ela notou que ele havia ficado muito quieto durante o coito. Então o chamou e nada, o sacudiu e ele quieto. Foi quando ela notou que ele havia parado de respirar. Foi aí que ela deu um grito muito estridente assustando a todos que estava no cabaré.
Com esse grito até a música que tocava em uma vitrola ficou muda de tão estridente. Arminda a dona do cabaré foi à primeira reagir, saiu correndo rumo ao quarto. Um outro homem que estava no cabaré foi que meteu os pés na porta a arrombando, entraram, viram o corpo de Raul inerte sobre a cheirosa ela em pânico gritando. O tiram de cima dela. E disseram
-Está morto!
E foi Arminda que viu que além de morto Raul estava com o pênis em ereção ainda.
Ela disse,
-E agora o que vamos fazer?
O homem que havia arrombando a porta por sinal era o irmão solteiro de dona Helena que morava com eles disse
-É ir contar para a esposa.
Arminda disse
-Mais quem irá dizer a ela que o marido morreu no cabaré transando com a cheirosa, que além disso ainda ficou com ereção depois de morto.
Sergio esse era o nome do irmão de dona Helena disse
-As únicas pessoas capazes de dizer isso a ela são Helena e Bento, pois Helena é grande amiga dela, são amigas desde criança.
Arminda disse
-Sergio, então vamos até a casa de Bento conversar com eles. Pois não vejo mais ninguém para fazer isso além Helena.
Lá se foram para a casa de Bento, depois de conversar com eles Bento tirou o carro da garagem enquanto Helena se aprontava, foram para a fazenda de Raul.
Lá chegando, chamaram por ela que levantou assustada. Quando Helena entrou vendo a amiga toda machucada sentiu um ódio profundo do Raul. Não fez rodeio para contar para amiga. Pois pensou que ela havia se livrado de um mostro. Quando ela acabou de contar Dulce disse tranquilamente
-Helena, ele morreu no cabaré, então que seja velado lá mesmo. Não o quero aqui dentro da minha casa. Já sofri muito, já fui muito humilhada e mais essa humilhação ele não irá me fazer. Como também não vou lá para velá-lo
Todos em Pendura não achou errada a atitude de Dulce. A única pessoa que achou ruim foi o pai de Raul, porque quando ficou sabendo, montou em seu cavalo apanhou um chicote e foi até a casa da nora, chegando lá mesmo sem descer do cavalo foi logo dizendo,
-Sua atrevida quem pensa que é para fazer assim com um filho meu? Vou te ensinar como respeitar um filho meu mesmo depois de morto.
Foi descendo do cavalo com chicote na mão para entrar, foi recebido com um revolver na mão pelo irmão de Dulce que foi logo dizendo,
- Pois sou eu que vou ensinar o senhor a respeita filha e família dos outros, Agora é que ficamos sabendo o tanto que Dulce apanhou e sofreu na mão do canalha do seu filho. Ela escondeu o tempo inteiro para que não fizéssemos nada. Se o senhor colocar a mão em Dulce aqui em Pendura não irá ter apenas um velório e sim dois no mesmo dia, porque o senhor não sai vivo daqui. Então é melhor o senhor montar no seu cavalo e ir para Pendura velar aquele canalha.
O pai de Raul saiu pisando duro, mais saiu.
Sem ter onde velar o corpo de Raul, Bento foi até a casa do zelador da igreja e conversou com ele para que ele fosse velado lá. O que aconteceu porque seu Bento era um homem muito honrado e muito amigos de todos. O corpo de Raul foi o primeiro corpo que foi velado com flores dentro do caixão porque lá, ninguém tinha esse costume, foi preciso fazer isso porque a ereção dele não acabou, colocaram as mãos dele posta sobre o pênis e flores para disfarçar. Esse foi um velório muito concorrido em Pendura, pois todos ficaram curiosos para ver o defunto que morreu com ereção. Quando o pai viu o filho daquele jeito ficou muito envergonhado que foi embora para sua fazenda não saindo nunca mais de lá nem para fazer compras em Pendura quem ia era seu outro filho. Quanto à cheirosa, Arminda a aconselhou ir embora naquele mesmo dia, pois quando as pessoas ficassem sabendo o quando Dulce havia sofrido e apanhado por causa dela, sabia que após o velório eles iriam atrás dela, iriam bater nela e com certeza ela não sairia viva da surra. Mandou duas de suas meninas irem com ela de carroça até a cidade mais próxima e a colocar em jardineira para longe da região. A última noticia que Arminda teve dela é que depois do acontecido em Pendura ela ficou tão traumatizada que entrou para um convento. Quanto a Dulce, seis meses após a morte do marido estava casada novamente. Casou com Sergio irmão de sua melhor amiga Helena. Pois ele a amava muito antes dela ter se casado, só não havia dito nada antes porque tinha medo de ser rejeitado por ser dois anos mais novo do que ela. Ela ficou grávida e estava muito feliz. Ele nunca mais nem passou perto do cabaré pois sabia o quanto a esposa havia sofrido ele não queria trazer nenhum tipo de sofrimento a ela. A amava muito para vê-la sofrer. A fazenda do Raul ficou toda para ela, pois naquela época os casamentos eram feito em comunhão total de bens.
Lucimar Alves