Um amante de batina
No dia 22 de setembro comemora-se a chegada da primavera, mas também, o “Dia do Amante”.
Como que, cá pelas Gerais abundam amantes, contarei um causo que remonta ao século XVIII. Uma ilustre pessoa, de paramentos sacerdotais, fora amante da filha de Chica da Silva, a Quitéria Rita.
Chica da Silva, filha da escrava Maria da Costa e do português Antônio Caetano e Sá, foi registrada no Arraial de Milho Verde – Serro, indo morar em Diamantina (antigo Arraial do Tijuco), após alforriada.
Casada com o contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira, Chica da Silva teve treze filhos. Dentre esses, a filha, Quitéria Rita, sua décima primeira, com a qual, o Padre Rolim viveu amasiado.
José da Silva e Oliveira Rolim, o “Padre Rolim”, segundo estudos da época, não era muito afeito à carreira eclesiástica, não. Seguiu estudos no “Semináro Menor de Mariana” para se ver livre de acusações de seus envolvimentos com mulheres casadas. Nos “Autos de Devassa” rezava que, embora muito observado pela Coroa, possuía crédito (só que há quem escreva que, ele, nas horas vagas era agiota; contrabandeava diamantes e traficava escravos para as extrações).
Cavalheiro e cavaleiro, moço de fino trato e também bom atirador quando perguntado se já havia abatido alguém, logo respondia:
- Só alguns desafetos e inimigos!
Segundo Roberto Wagner de Almeida, biógrafo do padre Rolim, “O padre pôs pólvora no lugar da poesia... Um amante inveterado do perigo,vivendo entre a cruz e a espada, porém sem ambiguidade preferia o gume que fere ao madeiro que perdoa”.
Homem destemido e valente, seja pelas ladeiras, nos porões sombrios e alcovas de Ouro Preto via-se sempre a figura desse Padre em “confidências”com aqueles que, mais tarde, fariam insurgir a “Inconfidência Mineira”.
Certa vez em interrogatório, a ele fora perguntado, o quê tanto “confidenciava” com “Tiradentes” pelos cantos. Ele então respondeu:
- Estou intermediando seu casamento com minha sobrinha, Ana!
Cecília Meireles em seu “Romanceiro da Inconfidência” menciona Padre Rolim da seguinte forma:
(…) “Por escândalos de amores, sacerdote se ordenara”.
Mas, seu fim, como os fins de outros inconfidentes, fora o degredo. Só que antes de partir em fins do século XVIII, alojou sua amante, Quitéria Rita Fernandes de Oliveira, (pasmém!) como freira no clausto do “Retiro das Macaúbas”, em Santa Luzia, com sua filha Mariana Vivência (outros historiadores dizem que eram cinco filhas). E, em 1805, já de retorno, passou por Santa Luzia e retirou o pessoal de seu concubinato para viverem mais próximos.
Enterrado sob o altar da Igreja do Carmo, em Ouro Preto, com paramentos maçônicos, há quem diga que, ele, manifestara, em seus testamentos, de sua vontade de ter um sepultamento eclesiástico, com vestes sacerdotais.
Tags: Padre Rolim, Quitéria Rita, Chica da Silva, Inconfidência Mineira, Retiro das Macaúbas, Milho Verde, Serro, Diamantina.
Antônio Calazans
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