O MENINO DO FORMIGUEIRO ( 8ª E ULTIMA PARTE)

Angustiados por não encontrar o velho Joaquim, após vasculhar os derredores da casa, iluminando com a fraca luz da lamparina, tomaram uma decisão, ir ao quilombo a busca de informação com a preta Benedita. – Mamãe quem sabe o vovô foi pescar! – Ah é verdade pode estar pescando!-- Não pode ser, quando chegamos ouvi Benedita se despedindo dele, censurou Amélia.

-Falando de mim? – Oh vooô!... Donde que o senhor se meteu ta querendo matar a gente de preocupação? – Oia oceis mi discurpa, mai na verdade, fiquei tão istuntiado quando vi a chegada de cumade mélia que cumecei passa mar, intrei in parafuso, risurvi andá um mucado, travessei o currá sem coceis aprecebesse e sai istrada afora mode mi isparecê, inté chorá ieu chorei mode disbafá, fui pu cruzero rezei pra arma daqueze difunto qui ta La sipurtado, pidi preze acrariá minha idéia rispirei liviado dispois vortei. Mais agora ta tudo bão traveis, ieu to aqui mode cumprimentá ela!—Então me da logo um abraço meu compadre querido!--Ah se coroné sabe Ca cumade ta braçano ieu capais de inté mata a gente---Coronel vai saber coisa nenhuma compadre, e o tempo de seu carrancismo já passou, agora é outro homem, eu faço o que bem entendo.

Estou muito feliz compadre Joaquim, vejo que cuidou bem de minha filha e de meu neto, só Deus poderá te recompensar por tudo!—Qui nada eze qui tão cuidano de ieu. –compadre e a Benedita você não a reconheceu homem do céu? –Pruquê ieu divia de ricunhecê?- Ela é a pretadita que fugiu com os escravos não se lembra?—Lembro cus negos fujiro mais num tinha muito custume queze não!—Bom mais de qualquer forma foi tudo guiado por Deus, pelo que vejo ela tem sido muito útil pra voceis!-Ah se tem falô verdade, fais o paper qui u, a boa mãe fais pafía e inté pra mim tem sido u a boa culega!

— Bom. Mãe agora tudo está bem o fujão apareceu, a angustia acabou o susto passou, vamos desmanchar sua mala tomar banho e comer alguma coisa. Amanhã a senhora vai comigo La no quilombo, quero que veja como é bela a vivencia daquela gente, tudo muito simples, as casas, os quintais, mas olha da inveja tanta paz e união daquela gente!

E foram dias de muita felicidade para aquela família um Natal primoroso como nunca visto. Amélia voltou para sua cidade de alma lavada, sabendo que filha e neto estavam bem amparados.

Passou-se o tempo chegou o tão esperado momento que Tavinho deixaria seu adorado avô e partiria em busca do seu destino, um misto de tristeza e alegria tomou os três: mãe filho e avô, mas seria o melhor caminho e eles tinham a convicção que tudo que estava acontecendo era necessário.

Tavinho se destacou nos estudos. O tempo corria e Joaquim e Margarida, mal poderiam esperar o período de férias para rever o garoto que a cada ano surpreendia com a sua capacidade. O mais aplicado da classe superando todos os colegas. Participando de eventos e trabalhos voluntários nas regiões periféricas e rurais do Rio de Janeiro.

O povoado de jerimum com a explosão demográfica de sua gente se transformou num vilarejo auto- suficiente graças ao apoio do líder Genaro em apenas cinco anos já contava com uma boa farmácia loja de tecidos, boa escola, capela onde a cada dois meses aconteciam celebrações de missas. Entercaladas de outras manifestações religiosas.

Tavinho era visitado constantemente pela avó, que a seu pedido nunca revelou ao marido sua história. Por ele seu neto foi devorado pelas saúvas. Seu tormento pela atrocidade cometida era um verdadeiro martírio, em cada um dos filhos adotivos que se destacava em sua fazenda ele via nele a imagem do neto.

Com apenas quatorze Tavinho já dominava a teoria agrícola. Cursando a única escola de agricultura existente no país. Tornou-se uma referencia nacional, passou a visitar as fazendas mais produtivas especialmente de café e algodão orientando os proprietários e produtores. E numa destas oportunidades coronel Genésio o avô maldito tomou conhecimento do menino prodígio através de um amigo. Surgiu a idéia do avô, em convidá-lo para uma palestra aos seus filhos adotivos acolhidos em sua fazenda.

Amélia sua avó assim quando tomou conhecimento através do marido, que um garoto de apenas quatorze anos famoso pela inteligência vinha à fazenda dar uma palestra, aos meninos ali acolhidos, encheu de preocupação, e partiu ao encontro do neto, tentou convencê-lo desistir do compromisso, ele não concordou. O aconselhou a revelar ao avô sua historia... Mas ele foi taxativo: --vovó fique tranqüila vai dar tudo certo, a senhora vai me ajudar fingindo que não me conhece, Chegou a hora de minha vingança, aguarde e verá o que vai acontecer. O velho coronel entusiasmado com a promoção do evento convidou todos os grandes proprietários e sitiantes das redondezas, para assistirem a palestra do garoto prodígio. Preparou uma grande festa. Ultimamente ela aliviava seu peso consciência realizando pequenos eventos para os garotos.

Tavinho arrasou em sua em palestra, respondeu todas as perguntas dos participantes, teve respostas para as questões mais polemicas, orientou a respeito dos mais complexos problemas que afetavam a dinâmica rural, foi aplaudido de Pé, Terminada a palestra. Um coronel latifundiário sugeriu ao garoto falar um pouco de sua vida. Ele com muita simpatia, respondeu, minha historia é uma história comum talvez como a de qualquer um destes garotos que aqui estão amparados pelo generoso coronel Genésio. Mas façamos o seguinte contarei a historia de um garoto, que é bem idêntica a minha, como afirmou meu avô no dia que o perguntei a ele se era essa minha história, ele respondeu-me: --é pirtinho dessa, ai fio; bem paricida cu a sua, mai ocê teve mais sorte! Quero vê socê vai sai um bão contadô de causo, e um dia conta pa Deus e o mundo!

Eu quero que fique bem claro qualquer semelhança com fatos reais será mera coincidência. Vamos a ela! –,A cerca de quinze anos, a filha de um rico coronel se apaixonou pelo filho do carreiro da fazenda, gente boa inclusive. Por ser ele moço pobre, seu pai que por sinal era padrinho da moça, foi expulso e proibido pelo coronel de pisar aquelas terras. Estava veemente proibido o namoro. Um fazendeiro vizinho acolheu a família. Mas o amor quando é proibido cresce em proporções incontroláveis, e foi o que ocorreu com o casal de jovens, por um curto prazo de tempo, a paixão e o amor falaram mais alto do que ódio. Sem pensar na maldade do coronel, o casal fugiu. Ele colocou seus jagunços no encalço. Os capturou levando-os de volta á fazenda amarrados no rabo dos cavalos como dois cães vadios. Amarrou o moço no esteio do curral o entregou a policia da cidade local, donde o coronel mandava e desmandava, colocou a filha num cativeiro e a tratava como se trata de porcos no chiqueiro, dias após o moço apareceu morto pendurado na sela, com afirmação de suicídio, com uma corda novinha adquirida pelo coronel segundo afirmou um comerciante local que desapareceu misteriosamente após prestar depoimento na delegacia. O coronel retirou à filha do cativeiro a fez acompanhar seu amor ao cemitério para sua ultima morada.

Ao descobrir que a pobre moça estava grávida, as maldades do homem se multiplicaram a torturava sem dó nem piedade, até que recebeu a visita de um irmão que o obrigou a deixar a que mãe cuidasse da filha. Mas sua intenção era matar mãe e filho, assim que o bebê nascesse. Sua mulher o ameaçou abandoná-lo, mas nada fazia com que o homem mudasse de idéia. Quando o bebê nasceu ele mandou seu pior e mais cruel jagunço abrir um formigueiro, alvoroçando as formigas, e sobre a mira do revolver a parteira foi obrigada a atirá-lo para que as formigas o devorassem. A filha fugiu com a ajuda da mãe para nunca mais voltar...

Esta. História, senhoras e senhores, são fatos verídicos, só são contados a estes garotos que aqui se encontram, amparados por este generoso coronel Genésio, para que eles saibam, que por mais tristes que sejam suas historias, ainda devem louvar a Deus por estarem vivos e protegidos por este anjo que se chama coronel Genésio para quem eu peço uma salva de palmas.

Naquele momento alguém que se fazia presente roubou a sena!

– Oh coronel... Coronel... Socorro pessoal acuda o coronel o homem está passando mal! Socorro dona Amélia traga qualquer coisa, álcool, alho, alcanfor, vosso marido está enfartando e carece de um medico!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 17/09/2012
Reeditado em 17/09/2012
Código do texto: T3885739
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