A VINGANÇA DA NATUREZA

     Antigamente a caça não era proibida, alguns moradores das fazendas que gostavam, costumavam caçar sempre. À noite caçavam tatu com cachorros, ou durante o dia geralmente à tarde no mato com espingarda.
     Descobria-se por onde andavam os animais que chamavam de carreiro de pacas, antas ou outro animal qualquer, então passavam a colocar em um ponto do carreiro alimento como milho ou outro.
    No tronco de alguma árvore, numa altura que ficasse escondido entre as folhas, amarravam-se uns galhos cortados que parecia uma esteira, de modo que pudesse ficar em cima uma pessoa sentada, ali posicionava o caçador com a espingarda para esperar o animal chegar ao alimento.
   Geralmente iam no domingo ou levavam a espingarda para a roça no sábado, trabalhavam até umas três horas da tarde e depois iam para a caçada.
   Hoje felizmente isso não acontece mais, ainda existe pessoas que descumprindo a lei caçam escondido, mas comparando com o que era antes são poucos. Dito isso, vou contar um causo que ouvi dos mais antigos.
    Havia dois caçadores eram amigos e compadre era o Zé e o Antonio, casados e com filhos pequeno, eram fanáticos caçavam constantemente, certo que comiam a caça, mas caçavam mesmo por prazer não como o índio primitivo por necessidade de alimento.
     Pelo menos uma vez por semana, no sábado ou domingo eles iam caçar e às vezes também durante a semana a noite caçar tatu.
    Havia uma diferença entre os dois, pois o Antonio tinha alguns princípios religiosos, que ele não abria mão de jeito nenhum, um deles era não caçar durante a quaresma. O Zé não pensava da mesma forma, para ele qualquer dia era dia de caçar. Mas naquele ano Antonio o tinha convencido a não caçar durante a quaresma, ele conseguiu segurar até aquele dia, já estavam na penúltima semana a que antecede a semana santa, chamada semana das dores.
    No sábado o Zé chega na roça com sua cartucheira, o compadre estranhou porque eles haviam combinado de não caçar, Antonio disse:
__ Ué compadre você vai caçar, ainda não acabou a quaresma
__ A compadre eu to com vontade de dar uma caçada, estou essas semanas todas sem caçar, mas estou cevando umas pacas que eu achei um carreiro, hoje vou buscar uma só.
__ Não faça isso compadre, não presta caçar principalmente essa semana que é a das dores.
__ A compadre isso é bobagem dos antigos.
__ Eu acho que você não deveria ir, estou com um mau pressentimento.
    À tarde quando pararam o serviço, o Zé pegou sua cartucheira e foi para o mato e Antonio foi para casa, preocupado. À noitinha já tinha escurecido Antonio já tinha jantado, estava sentado na porta conversando com o vizinho, quando chega a comadre aflita e diz:
__ Compadre, o Zé não chegou ainda, já estou preocupada.
__ Comadre eu vou procurá-lo, a senhora não se preocupe que não há de ser nada não. Disse isso da boca para fora, pois lembrou a conversa que tivera com o compadre a tarde no serviço e ficou com o coração apertado.
    Antonio chamou o vizinho e mais um companheiro, calçaram suas botas, pegaram cada um sua espingarda, facão e dois cachorros caçadores que tinham, acenderam o lampião e foram em direção ao mato, que todos conheciam.
    Entraram por uma roça de milho que terminava no mato, logo na entrada do mato tinha uma mina de água muito boa, onde eles e os cachorros beberam uma água fresca, foram adentrando no mato, Antonio conhecia o local da ceva não foi difícil encontrá-la, a caminhada no mato foi um pouco lenta devido a cipoeira e uma leve inclinação do terreno.
    Chegando ao local havia vestígios de que algum animal tinha passado por lá e sinais da presença do caçador como alguns galhos cortados recentemente, mas o compadre não estava lá.
    Chamaram, não tiveram resposta, lumiando com o lampião olharam tudo ao redor, mas nada do compadre. Antonio ficou ainda mais intrigado, pensava o que será que aconteceu, disse aos companheiros:
__ Não estou gostando nada disso, acho que alguma coisa aconteceu com o meu compadre, vamos procurá-lo mais para baixo.
   A água que descia da mina formava um pequeno riacho e para lá seguiram, soltaram os cachorros que até então estavam preso pelas coleiras e foram em direção a uma grota, onde corria a água, olhando tudo procurando algum sinal e chamando, mas nada encontraram.
    Os cachorros quando soltos saíram à frente farejando, não demorou muito pegaram uma direção dando alguns latidos sinal que tinham farejado algo.
    Seguindo em direção a um local de mato bem fechado quase chegando à água, os três para lá seguiram guiados pelos latidos.
    O cachorro caçador quando está seguindo uma pista da caça, costuma dar latidos intermitentes com pequenos intervalos entre eles, que é para orientar o caçador na direção certa, e quando encontram ou encurralam a caça, passam a latir mais aceleradamente, como diziam os caçadores o cachorro está acuando .
    Foi o que aconteceu passado algum tempo que para eles pareceu uma eternidade, devido à ansiedade, mas que não chegou a uma hora de procura, embaixo de uma grande árvore onde tinha muitas plantas pequenas e formava um emaranhado de cipós, os cachorros acuaram. Os três homens foram rápidos para lá lumiando com o lampião.
    Chegando, a hora que o claro do lampião alcançou embaixo da cipoeira, avistaram o Zé caído no chão, chegando perto viram que ele estava morto.
    Passaram a imaginar o que teria acontecido e chegaram à conclusão que o compadre estava perseguindo uma caça, correndo no mato com a espingarda na mão esquerda, na ânsia de alcançá-la pode ter descuidado da espingarda e ao passar embaixo da cipóeira, ficando a mão para traz, o cão da espingarda (aquela peça no pé do cano que levanta e desce disparando o tiro), enroscou num cipó, levantou e quando escapou disparou um tiro que entrou do lado esquerdo por baixo das costelas.
    Concluíram isso a partir de suas experiências em caçadas no mato e pela posição que o encontraram com a espingarda do lado esquerdo um pouco atrás.
   O Zé estava deitado de bruços, ao lado num saco de estopa estava uma paca morta, clarearam bem de perto e viram que a paca estava com as tetinhas cheias, sinal de que estava com filhotes pequenos, em cima de uma poça de sangue estava os dois caça e caçador o sangue de ambos misturaram-se na terra.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 13/09/2012
Reeditado em 08/08/2015
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