O MENINO DO FORMIGUEIRO (7 ª PARTE )

Atarefada com os preparativos para as provas finais, Margarida desdobrava em seu trabalho. Seu filho tavinho com o ensinamento que tivera antes de freqüentar a escolinha de Jerimum, Mais os dois anos, acrescidos do numero de livros que já lera, estava apto para concluir o 4º ano primário. Como no sertão a escola limitava ao 3º ano seria mais um motivo para que a mãe aceitasse a oferta do tio custeando seus estudos na corte.

Genaro notando Margarida sobre carregada de trabalho, sugeriu a ela escolher entre as alunas que se formariam no3º ano duas mais aplicadas que assumissem o 1º e 2º anos da escolinha sob sua supervisão, uma vez que Tavinho teria que partir, ele, que mito auxiliou a mãe sempre fez a diferença. A tendência era aumentar constantemente o numero de alunos, uma vez que naquele sertão nem radio tinha a única diversão do sertanejo era a de se fabricar criança.

Em fim chegou o tão esperado momento por Tavinho, partiria no final das férias para a capital. Mais esclarecido agora já entendia o motivo a que referia o Rio de Janeiro como capital, reino ou corte. Segundo o explicou tio Genaro antes da recém proclamação da republica o sistema de Monarquia sediou a corte real vinda de Portugal seguida de príncipes e princesa.

Enquanto Genaro desempenhava um papel fundamental, naquele sertão sem eira nem beira, seu cunhado La bem próximo do Rio remoia a saudade da única filha e o remorso pelos erros que o levou a expulsá-la de casa. Chegou até montar por conta própria um orfanato em sua fazenda, acolhendo menores abandonados. Como afirmou Genaro o homem mudou da água para o vinho. Fazendo de tudo para redimir seu erro o velho coronel não media esforço para dar uma boa educação aos seus filhos adotivos. Seu maior desejo era o perdão da filha contratou um investigador carioca para encontrá-la. Mas sem sucesso. O homem levou dele uma nota preta, sem resultado nenhum. Mal sabia que ela estava amparada pelo próprio cunhado.

Chegou o natal desta vez Genaro inverteu a situação comemoraria na fazenda, ao invés da fabrica, sua esposa se dispôs há passar uns dias com ele no sertão, ficando acertado que a apanharia na estação. Tavinho que acompanhou a mãe até a estação, a pedido do tio ficou irradiante, poucas, foram às vezes que tivera a oportunidade de andar de carruagem. Como houve certo atraso, na chegada da locomotiva Margarida e o filho ficou ansiosa, ela por que fazia anos que não encontrava a tia, alem das recordações que o local lhe apresentava. Ele pelo desejo em conhecê-la. Quando o trem parou na estação cujos freios rangeram estridentes nos trilhos Margarida, voltou no tempo, e imaginariamente visualizou a mesma sena de nove anos atrás quando tomada pela incerteza que a atormentava desceu, com o filho nos braços acompanhados do carreiro Joaquim ouvindo o mesmo chiado provocado pela pressão da caldeira que movia a locomotiva, naquele cenário pretejado pela fuligem expelida pela locomotiva.

Dominada pela emoção permaneceu estática de pé, alheia ao que ocorria no momento, nem percebeu que o cocheiro já havia recolhido a bagagem e a colocado na carruagem. –Mamãe... Estamos prontos! Foi ai que ela virou para a carruagem e deparou com figura da mãe de pé ao lado da tia. Mãe e filha se abraçaram e sem palavras ouvia-se apenas o soluço ofegante, a forte emoção tomou de assalto o cocheiro a tia Tavinho e mais meia dúzia de expectadores que logo perceberam o motivo que ocasionou a sena. As primeiras palavras só foram pronunciadas após as lágrimas serem contidas. Tavinho apesar da emoção quebrou o silencio – O que isto minha gente é hora de alegria não de choro, vamos erguer a cabeça e tocar a bola pra frente! Dá-me logo um abraço vovó minha anja salvadora, pensa que não sei o que fezestes por mim, se estou aqui assistindo a sena de duas choronas devo a você! Não me deve nada meu querido fiz apenas o dever de avó! Oh tia Nilda mil perdões, tanta emoção nem a complementei! Tudo bem minha filha a mãe tem sempre prioridade e alem do mais teremos tempo pra tudo. Admiradas com a esperteza e elegância do sobrinho e neto elas tomaram seus lugares na carruagem e rumaram para a fazenda. Os quinze quilômetros foram transpostos pelos animais como num estalar de dedos, tamanha era emoção causada pelo encontro entre mãe e filha.

Passaram pelo povoado de jerimum e foram até a fazenda. Margarida recusou o convite do tio em pernoitar na fazenda. -- Eu entendo perfeitamente e não devo insistir você e sua tem muito que se falar, o cocheiro as levarás até o sitio. –Gostou da surpresa? –Tio o senhor é o homem mais generoso que eu conheço, quando me pediu ir à estação buscar a tia eu estranhei, mas, quem sou eu para negar um pedido seu! – O importante agora é você curtir sua mãe e aproveitar bem este momento junto a teu filho, vá com Deus e que ele te abençoe!

No sitio a noite sempre chegava primeiro levada pela sombra da serra, Joaquim lidava ali pelo chiqueiro cuidando dos porcos quando a carruagem entrou no curral. Benedita saiu com umas pencas de bananas doadas pelo Joaquim. -- Inté manhã Joaquim, inté manhã Margarida, vancê chegano ieu saino dexei tudo rumado! – Um momento Benedita, ti apresentar minha mãe! Ao ouvir Joaquim quase perdeu o chão, correu a bica d’água e com as duas mãos em forma de conchas deitou água fria no rosto, segurou na bica para se equilibrar respirou fundo e falou La com os seus botões: - meu Deus devo estar sonhando! O cocheiro desceu as malas entrou na carruagem deu meia volta e tomou ruma a estrada de volta. Benedita colocou o cesto com as frutas sobre o banco de tábua do terreiro e aguardou. –Te atrasando em Benedita, mas quero que conheça minha mãe! As duas frente a frente se entreolharam fitando uma a outra: num to querditano nu qui tô veno é vancê sinhá Amélia? –Em carne e osso pretadita!—Mas o que isto vocês se conhecem? –Pretadita é uma escrava fujona qui tava na turma de escravos qui não suportaram mais os maus tratos do teu pai, e fugiram todos sem deixar rastros, aliás, o que fizeram muito bem! –Ieu só sinti tê dexado a sinhá caquela trabaiera toda cu home malgradicido Ca sinhora tem. Mim perdoa sinhá mais guantá um home daquele, sinhá vai direta pu céu! –É verdade pretadita, mas nada como a escola da vida e a velhice para educar as pessoas, agora ele ta La remoendo o remorso e purgando os pecados. —Quando perceberam a noite tinha caído e a escuridão era total, alguém descia assobiando a encosta do lado do cruzeiro era um neto de Bendita que vinha ao seu encontro, ela apanhou sua sesta de frutas, despediu seguindo em sua companhia. Adentraram a casa. –Mamãe e o vô Joaquim não está em casa? --Assustados saíram os três a procurar o velho, e nada de encontrá-lo!

A alegria com a chegada de amélia, transformou em pavor e preocupação com o desaparecimento do velho carreiro.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 13/09/2012
Reeditado em 13/09/2012
Código do texto: T3879430
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