Acéfalos - In contos sem data
Lá longe, no interior de Goiás, perdidos entre matas virgens onde, ainda, era possível caçar catetus; javalis; capivaras, vivia a família Acéfalo. Os próprios não sabiam a origem do nome, sequer entendiam,contudo, eram felizes na santa ingenuidade que Deus lhe dera.
O primogênito Acefalinho já estudava e cursava o nono ano do ensino fundamental. Os pais Acéfalos chamavam-no de o grande gênio da família.
Certa feita, aconteceu um curioso diálogo entre a professora e Acefalinho:
- Você estudou para a chamada oral de hoje, Acefalinho ?.
- Presente, fessora.
- Não foi isso que perguntei. Você estudou a matéria ?.
- Sim, fessora. Tem matéria de calipo, de cedro, de árve, de mangueira...
- Ma-té-ria e não ma-dei-ra.
- Ah!
- Diga-me, Acefalinho, o que é latitude e longitude ?
- Fáciu, fessora. Latitude é distância perto e longitude é distância longe.
- Sério ? ?
- É, fessora. Você não sabia ?.
A professora boquiaberta o ignorou,rindo e prosseguiu:
" - Acefalinho, discorra sobre o seu dia. Faça uma pequena dissertação oral.
- Descurpa, fessora, mas não vou arresponder não.
- Por quê ?
- Porque para discorre até aqui, eu chegaria atrasado, e não dá para dissertar o que custei para consertar como a cerca do sítio todo. Se faço isso, meu pai me mata a pasada.
- O que ?. Você não entendeu a pergunta. O que é discorrer para você ?.
- Não correr ? ?
- E dissertar ?.
- Não consertar ? ?
- Escuta, Acefalinho, você percebeu que está respondendo a minha
pergunta com outra pergunta ?
- O quê ? ?
- Não é possível. Como você chegou até aqui ? ?
- Andando ? ?
- Não ant....- estacou a professora,pois veio-lhe a mente sábio conselho. " - Seja o vosso falar sim, sim. Não, não. O que passar disso
é de procedência maligna".
Esta lembrança a calou e pediu, gentilmente, que Acefalinho estudasse mais.
- O quê ? ? - respondeu ele.