O MENINO DO PORMIGUEIRO (6º PARTE)

Era fim de ano o segundo no qual Margarida lecionava, trabalhando o dia inteiro em três turnos, 1º, 2º, 3º anos, sendo o 3º a classe que o professor falecido lecionou no 1º ano. Genaro chegou de viagem, vindo em sua carruagem da estação ferroviária, passou pela escola, ao saber do resultado da conversa que Margarida tivera com o filho, convidou o garoto para um passeio.

Com o consentimento da mãe que o liberou da sala de aula, o levou à fazenda, durante o percurso conversou com ele, a respeito da tragédia ocorrida por ocasião de seu nascimento, colocando a par do esforço de Amélia sua avó que o salvou da morte. Ficou admirado quando o garoto o respondeu: -- sabe de uma coisa tio, eu estou muito feliz com esta revelação, não guardo nenhum rancor de meu avô, mas vou me vingar! – Tavinho o ódio e a vingança não são aconselháveis, ao contrário do perdão ele envenena a alma e corrompe o sentimento. Enquanto o perdão dignifica o homem e o torna virtuoso caindo na graça Deus. –Não sei como tio, mas ele vai pagar pelo que fez, não será uma vingança criminosa nada de tortura física, ele será torturado psicologicamente. – Oh guri donde foi que aprendeste conversar desta maneira, com tamanha sabedoria? –Nos livros né tio, não foi pra isso que senhor trouxe este mundão de livros da capital pra nossa escola? –Pois és um molequinho muito do esperto, tu ta me saído muito melhor que a encomenda! Mas ódio e vingança não são aconselháveis! Repito! -Eu sei é por isso que quero me vingar sem violência!

Chegando a sede da fazenda Genaro ordenou ao cocheiro a soltura dos animais que conduziu a carruagem, ele próprio selou dois cavalos, um, manga larga, puro sangue, o outro um pônei piquira pampa. –Sabe montar Tavinho? --Só no pangaré de padrinho Joaquim! Não tem problema, o piquira é tão manso quanto o pangaré. É uma raça própria para criança, segure a rédea, encurte-a e segure com a mão direita, coloque o pé esquerdo no estribo, vá levante o pé direito e jogue o corpo sobre a sela... Isto peão! Agora solte a rédea aos poucos, mas tenha o cuidado em mantê-la com as pernas sempre iguais, isto mesmo, pode ir?—Como quiser tio vamo-nos La!

Passando pela porteira que dava acesso à lavoura de algodão, seguiram cada por uma rua, da verdejante plantação que cobria a encosta, estendendo até a margem do ribeirão das antas, um manancial descendo sereno com seu caudal volumoso até desembocar no rio das almas que vinha da outra banda da serra, no lado quilombola. Caminhando vagarosamente os animais desceram margeando o ribeirão rumo a sua desembocadura, um bando de garças brancas sobrevoava inspecionando a área ora sobre o leito do ribeirão, ora sobre o leito do caudaloso rio, contornando a serra, bandos de marrecos selvagens passavam com seus vou rasantes numa velocidade incrível. Um gaviãozinho que borboleteava no ar, deu um mergulho rasante como se fosse estourar o peito contra o solo. Curioso Tavinho exclamou veja tio que coisa incrível, pareceu-me que a ave ia arrebentar no chão e La vai levando alguma coisa nas garras!-É a lei da selva Tavinho, ela capturou sua presa parece ser uma cobra, veja como ela debate tentando escapar, agora vai pousar naquela arvore seca lá está seu ninho! --Que legal tio como ela esta batendo com ela na arvore que coisa incrível... Ela está tentando matá-la para alimentar seus filhotes! --Observe ela aproximando do ninho na outra galha da arvore! São assim as vidas selvagem, os animais defendendo sua sobrevivência, cada um a sua maneira.

—Bom voltemos pra casa que daqui a pouco o sol mergulha no horizonte, e os pernilongos vão querer fazer conosco igual o gavião fez com a cobra, e eu prometi pra sua mãe te devolver antes do anoitecer. --Tavinho ficou encantado com o grande empreendimento do tio. As lavouras, e as maravilhas do cenário apresentado pela natureza, um primor aquela bela paisagem ecológica.

Agora seu Otávio, Chico rei vai acompanhá-lo até o cruzeiro, o tio tem umas escritas a serem colocadas em dia! – Precisa não tio eu tenho coragem de andar sozinho! –Tem, mas não vai já é quase noite ta na hora das onças descerem a serra em busca de suas presas! – Oh Chico monte o cavalo e acompanhe Tavinho ate o cruzeiro! – Tio e o piquira, ta cansado não será melhor Chico soltá-lo primeiro?— E tu Tavinho vai do que? – Na garupa do Chico tio! --Tu vais é no piquira ele a partir de hoje é seu, você comportou como um verdadeiro cavaleiro mereceu ganhá-lo como premio a partir de hoje será seu dono! – Ta de brincadeira tio? -- Não, vá logo antes que escureça! –Primeiro um abraço tio o senhor não existe! Você merece garoto... Vou levá-lo pra estudar no Rio de Janeiro e daqui a pouco será meu administrador meu braço direito moleque-, pense nisto já falei pra sua mãe ela ficou meia em duvida, mas será bom pra você. Mas agora vá, este assunto, é outra historia.

Feliz da vida Tavinho rumou pra casa protegido pela escolta do Chico rei. As primeiras estrelas já começam a pintar no infinito, Margarida recolhia as roupas que Benedita deixara a secar no varal. Joaquim jogava as espigas de milho recém-cascadas aos porcos e voltava pra dentro trazendo uma cestinha com palhas e sabugos para acender o fogão de lenha na manhã seguinte. Chico se despediu, voltando da parteira do curral. —Oh Chico brigadão amigo e vá com Deus! Ah porque o apelido Chico rei? – Fui campião de rodei treis veis insiguida mim dero esse nome! –Qui legal Chico, deve ser o máximo esse privilégio!

—Vovô poderia o senhor me ajudar a soltar o cavalo?—Que cavalo é este Tavinho? – É meu... Mamãe! Presente do tio, sabia que aquele homem não existe?—Que historia é esta, menino, conta outra, seu tio deve tê-lo cedido como empréstimo! – Foi não me deu de verdade.

–Passe o animar pra dentro Tavinho deixe o vô mostra procê. Primero ocê dismancha o nó do lático e disaperta a barriguera pindura os istribus na cabeça da sela mode num fica imbaraçano praqui pra li, agora bamo pindurá num gancho na varanda do paió, istende os baxeros aberto na cerca de régua da varanda, mode secá e leva o animar na bica d’água pá lavá o suor, issee importante mode num istraga o animar, agora pega duas ispigas de miu e vai ponha no cocho prele, toda veiz cocê anda num cavalo Tuma ees cuidado é bão fais ele gostá docê. Quando ele caba de cumê o mio ocê sorta pu pastim da mimosa num Poe junto cu pangaré não, mode ele num batê nele dispois qui eze fica mais cunhicido e amigo ocê vai ponhá os dois no memo pasto.

–Gostou do passeio Tavinho? –Mamãe o tio me ensinou tanta coisa, ah ele esta querendo que eu vá estudar na capital vai pagar tudinho, será que devo ir? –Vamos deixar este assunto para outra oportunidade, agora vá tomar seu banho, e jantar, por hoje chega de sonhar acordado. –Tudo bem, to dizendo por que ele mandou pensar no assunto. –Bom, mas deixa isto de lado e vá tomar seu banho amanhã, falamos sobre isto.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 03/09/2012
Reeditado em 03/09/2012
Código do texto: T3863012
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