Asneiras em Família - Parte 12

Esta é outra do meu pai.

Certa vez ela veio pra Uberlândia, acho que me trazer por algum motivo, não lembro bem. Lembro que veio sozinho e que levei ele pra ver onde eu trabalhava, conhecer a empresa. Não sei se mencionei isso antes, trabalho na mesma empresa desde que formei. Na verdade, meu patrão foi meu professor na época de faculdade. Ele me chamou pra trabalhar com ele no desenvolvimento de um equipamento e, entre tapas e beijos, estamos juntos até hoje, a quase quinze anos. O professor (ainda o chamo assim) é um sujeito bom de papo. Meu pai também não fica atrás. Conversaram bastante, ele recebeu muito bem meu pai e, por fim, já era perto da hora do almoço, convidou meu pai pra almoçar. Ele convidou um outro engenheiro que trabalhava com a gente pra ir junto e fomos os quatro no carro dele. Muito educado, fez questão que meu pai sentasse na frente e antes de ligar o carro, perguntou se meu pai tinha alguma preferência. Aí foi que a coisa desandou...

Sempre que meu pai vinha, a gente almoçava num lugar bem barato, comida muito simples, um lugar até um pouco estranho perto da universidade, mais pra atender aos estudantes. Meu pai, meio mão-de-vaca (esse meio foi só pra ser um pouco educado), achando que ia pagar alguma coisa, foi logo sugerindo esse lugar. De cara já absurdo, ficava muito fora de mão, muito longe da onde estávamos. Creio até que o professor estava pensando em alguma churrascaria, na verdade ele sempre levava o pessoal numa churrascaria boa que tinha ali perto, mas naquele dia, acho que pra não contrariar meu pai, aceitou a sugestão sem pestanejar. Fiquei quieto, mas já um tanto envergonhado, acho que ele deve ter pensado que era um lugar um pouco mais sofisticado e eu sabia que a surpresa não seria muito agradável. Pensei em contestar, mas vi que não seria educado, eu sabia que o professor ia pagar e sugerir um outro lugar ia ficar estranho, parecendo que queria aproveitar de alguma forma. 

Chegando lá, foi exatamente como pensei, deu pra ver na cara dele que ele ficou bastante ressabiado, mas não tinha mais jeito. Era um self service, lugar apertado, a fila estava enorme. Vi que o professor pegou muito pouca comida, parecia que estava com medo. Nessas alturas, meu pai já tinha percebido, a muito, que a idéia não tinha sido boa. Na mesa, tentou justificar a sugestão dizendo que ali era um lugar bem em conta: Comida simples, caseira, mas barata. Foi então que o professor disse:

- Mas Sr. João! O senhor não tinha que ter se preocupado com isso não. Fui eu quem convidei, eu que vou pagar a conta.

Falou de uma forma educada, como se estivesse até agradecendo a preocupação do meu pai, na certeza que meu pai sabia, desde o início, que ele ia pagar. Eu, conhecendo bem meu velho, imagino que ele deve ter pensado: "Ah, seu soubesse..."

O pior ainda estava por vir. Já estávamos num outro assunto, mas fazia muito pouco tempo que o professor tinha falado aquilo, quando meu pai virou pra mim e disse:

- Não pegou suco não? Aproveita que é de graça.

Não sabia onde enfiar a cara. O suco realmente era de graça, promoção do dia, mas até então ninguém tinha percebido. Deu a nítida impressão que, o de graça, era porque o professor tinha falado que ia pagar a conta. 

GELComposicoes
Enviado por GELComposicoes em 02/09/2012
Reeditado em 04/09/2012
Código do texto: T3862161
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