O MENINO DO FORMIGUEIRO(5ª PARTE)

A chuva que caiu mansa e copiosa durante toda a noite, deixou o sitio encharcado, mas o dia amanheceu lindo, os passarinhos festejavam o sol da manhã numa sinfonia encantadora, o astro rei parecia sorrir banhado de luz a serra vestida com seu manto de neblina, o hálito da natureza era convidativo, pelas flores de laranjeiras que manavam seu perfume anunciando fertilidade.

De alma lavada pela boa noite de sono, Margarida preparou logo o café da manhã, virou a caçarola sobre o prato esmaltado soltando nele o bolo de fubá, o fatiando ainda fumegante, iguaria preparada caprichosamente com coalhada e rapadura, assado sob tampa de brasa no decorrer da noite. O velho Joaquim se sentou à mesa, após colocar sobre pé do fogão o balde com o leite recém ordenhado. Saindo do quarto esfregando os olhos, Tavinho entrou correndo rumo à porta da cozinha; -- êpa... Alto lá garoto-, descalço no terreiro molhado, não! Ainda por cima quente da cama?—Vou fazer xixi! –Calce primeiro! –Obedecendo ele voltou ao quarto calçando as alpercatas de couro de boi, saindo ao terreiro, fez sua necessidade fisiológica ali na cerca da horta, foi à bica d’água lavou o rosto escovando os dentes com o dedo indicador, deixou as alpercatas sujas de barro ao pé da escada entrou na cozinha, ocupando a mesa ao lado do avô. Margarida serviu o café. Terminando o velho Joaquim, espichou a mão para apanhar o chapéu sobre a mesa, Margarida o interrompeu:- - um momento padrinho,estive pensando, sabe, vai ser um pouco difícil, mas não tem mais como adiar, temos que contar toda a verdade, a este curioso! – Mai minha fia contá o que? -- A história deste rapazinho!

—É padrinho Joaquim Tô achando qui aquele minino do formigueiro vai sobrar pra mim!--O que está dizendo Tavinho? –Faz tempo qui padrinho me contou um causo acontecido com um bebê que o avô mandou joga pras formigas. –Margarida donde foi quesse minino aprendeu cunversá iguá dotô? As dispois caprendeu lê e iscrevê, to inté ficano cum vregonha de cunversá perto dele! – Que isso padrinho tem que ter vergonha de mim não, eu aprendi nos livros, mas o senhor pode continuar com a mesma linguagem-, não pode, nem deve mudar se não vai estragar este seu jeito bacana de falar que eu adoro! --Ai fia, num to dizeno cu muleque danô de sabido!—Obrigado padrinho, mas são os livros; ainda vou dar muita alegria ao senhor, tome nota do que estou dizendo! –Tumara fio, tumara!

—Mas vamos ao que interessa você Margarida não precisa de muitos rodeios, vai dizer que é minha mãe e que padrinho é meu avô! – De onde você tirou esta idéia menino vai-me dizer que foi também dos livros? – Não essa foi do padrinho na historia do formigueiro! – Que historia é essa de formigueiro que nunca me contou? –Dia destes, li que o homem é medido pelo seu caráter e quem tem caráter é sincero, o padrinho recomendou pra não dizer nada, eu acabei acertando como o que está escrito, porque guardei só pra mim a história. Agora chegou à hora da verdade!—Menino tu está me surpreendendo, parece-me que está possuído, esta linguagem não é sua! – Eu já disse são os livros, os livros!

-Bom, mas você é ou não, minha mãe? Vamos responda! –Ta vendo padrinho o moleque alem de abusado agora deu pra adivinhar virou vidente --, sou sim sua mãe seu pirralho!

Tavinho saltou no pescoço de margarida encheu ela de beijos. Voltou para o velho o abraçou-, agora é sua vez vovô, eu sabia, eu sabia, eu sabia! A emoção só não foi maior que a felicidade que tomou conta daquela família. Margarida secou as lagrimas e respirou aliviada, e o velho idem! O garoto era de fato um fenômeno, inteligente e de percepção admirável nasceu com o dom da sabedoria.

Era domingo e ele estava eufórico com a revelação de sua origem. Margarida não queria esconder mais nada do filho, se sentindo aliviada e feliz paraceu se livrar de um enorme fardo que pesava sua alma. –Bom Tavinho eu sei que está muito feliz, mas agora façamos o seguinte chega de perguntas, amanhã falamos novamente sobre o assunto. Agora vamos cuidar das coisas para que mais tarde possamos ir ao cruzeiro, hoje tem uma nova brincadeira para as crianças, e nada de me chamar de mãe, pelo menos por enquanto! --Posso saber por quê? Olha quero que o pessoal fique sabendo aos poucos, estamos combinados? –Tudo bem, mas posso contar para o Cirilo e para Jerônimo, os dois são meus maiores amigos! – Pode sim-, só a eles ta!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 27/08/2012
Reeditado em 27/08/2012
Código do texto: T3851381
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.