ZECA MASCATERO VERSUS ZECA LAMBÃO
- Bão cumpade?
- Bamo levano.
- Qualé as nova?
- Uai, onte o Zeca Mascatero pareceu no boteco do Zé do Gôlo chamano nóis pra dá mutirão prele.
- Cê besta sô! Mexe caquilo não!
- Diz que vai tê cumilança, cachaça à vontade, rastapé...
- Eu qui num trisco coisa daquelome.
- Tá munto discunfiado cumpade!
- Antão vai e conta dispois.
- Só num fazê catira sô!
- Mutirão é praquê cumpade?
- Os home nas rancação e as muié ristiano os aio do dito.
- Xiiiiiii!
- Cê tá sabeno de arguma coisa que num sei cumpade?
- Minha muié é que fico sabeno da boca das outa, intende?
- Fala logo home!
- Foi no ano passado, esse Zeca feiz esse memo mutirão. Cê sabe que dispois que a muié do outo Zeca, do Lambão; dispois que ficô sabeno dos chifre que toma, anda cuma saia curta, perna meia aberta...
- Coitada, tamém dispois dessas vergonha que passô né memo?
- Antão, ela tava lá no mutirão passado, cumas réstia de aio no meio das perna, pareceu o Mascatero e deu um toque:
“- Que réstia bunita Sá moça!
- Qué comprá?
- Quanto custa um furmusura dessa?
- Quinhento rear!
- Mais num tenho esse tanto de cobre e tamém num posso fazê um negóço dessa partidura num meio de tanta gente!
- Craro. Sinhô num acha que tô cum tanta pricisão, né memo?
- Craro. Mais antão cumé que nóis caba quesse negóco?
- O Lambão tem mania de saí sirigaitano todo dumingo, só chega ca noite véia. Antão o sinhô aparece à tardinha, hora cos fio fica berano corgo, pegano lambari distraído... Vem pelo mato pros vizinho num trapaiá o nosso negóço... Sinhô só num pode isqueçê dos quinhento rear...”
- Tá me dexano afrito cumpade! Me deu inté cumixão, tá sabeno? Vai falá que a muié do Zeca Lambão ficô co Zeca Mascatero?
- Antão. Contô anssim uma cumade que iscutô dota cumade que é inté prima da muié do Zeca Lambão.
- Caba logo quisso sô!
- Diz que o Zeca Mascatero pareceu no cumbinado, pagô os quinhento rear no negóço, saiu na surdina...
- Né possive, veiaco daquele jeito, gastá essa cobrera numa réstia usada?
- Carma cumpade. Diz que lá pelas tanta pareceu o Zeca Lambão; cheio dos perfume de meretriz, sinar de baton pelas manga da camisa surrada; priguntano pra muié se o Zeca Mascatero num tinha aparicido.
- Antão ele discubriu?
- Carma cumpade. Tudo que nóis faiz de errado nóis paga qui memo, inrriba da terra que vai nos cunsumi.
- Essa estória tá me dano gastura cumpade!
- Mais antão! A muié toda discunfiada respondeu que não!
- “Purquê teria que vir?
- Ara, o disgraçado me pidiu quinhento rear imprestado e falô que passava hoje quincasa pra me pagá...”
- Ahahahahah...
- ...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES