ARDóSIA 19 : Três opções

Genivaldo é um cara bonito. Simples assim. Poderia ser descrito pelo corte alinhado de seu cabelo, pelo porte físico bem distribuído ou pelos dentes alinhados de seu sorriso. A melhor descrição, porém, é a mais elementar: um homem bonito. E que homem! Havia poucos como ele em Ardósia, uma cidade não caracterizada particularmente pela beleza estética de seus habitantes. Não que sejam feios – embora alguns mereçam um bom retoque do Criador – mas não primam por aquela beleza estereótipo das novelas televisivas. Não Genivaldo. Parecia recém egresso de comerciais de margarina! Desta maneira, fácil entender a dificuldade para uma mulher escapar a seus encantos... ainda mais Tânia, tão volúvel em sua fidelidade. Genivaldo apareceu quando ela cogitava a possibilidade de deitar-se apenas com Agnaldo, seu marido, fato até então raro em três anos de casamento. O novo sentimento ganhou mais força depois que Téo casou, afinal, ele sim parece fiel. Afinal, a esposa é a melhor amiga de Tânia.

Enfim, nesse momento de grande virada em sua vida (ou quase), aquele “Adonis” sorriu-lhe na EntreLaços, a delicada loja de souvenirs onde trabalha Tânia. Esconder o dedo que continha a aliança foi quase instintivo para ela. “Você é novo na cidade? Nunca te vi! Será que finalmente tem carn... digo, gente nova por aqui?” ... “Não, não. Moro na zona sul, na Vila Rúcula. É raro sair de lá. Passava por aqui e decidi comprar uma bolsa” ... “Pra sua namorada, é?” ... “Não. Sou solteiro! É pra mamãe”. Tânia quase explodiu de felicidade. E, instintivamente, soltou outro botão do decote.

No sábado, após o serviço, encontraram-se para passear em Bauru. O cara tinha até carro zero! Cinema, pizza e motel. Programa completo. “Preciso parar com isso...”, remoeu-se Tânia ainda na cama redonda, até sentir os lábios de Adônis/Genivaldo em sua orelha. Começava o segundo round. No dia seguinte, domingão de sol, novamente juntos, desta vez passeando em Jaú; para ela, era conveniente. Divertia-se com o garotão enquanto o marido viajava a trabalho e ninguém em Ardósia a veria nessa aventura. Sorte ele preferir programas em cidades vizinhas... Era perfeito!

Na quarta-feira, Agnaldo retornou para casa e a vida retomou seu rumo tedioso. Ou quase. Empolgada com o galã, Tânia passou-lhe o número de seu celular. Agora não podia deixar que o marido percebesse qualquer ligação estranha. Normalmente seus casos sabiam ser ela casada, mas agora fora tão perfeito que mentiu uma solteirice, temerosa de perder aquele “deus”. Por algum motivo desconhecido, entretanto (“que será isso?”), desta vez Tânia teve medo de perder o marido. E decidiu parar com tudo. Nada mais de sexo casual, encontros às escondidas, beijos roubados ou olhares furtivos. (Bem... olhar não arranca pedaço, né? Não dá pra transformar Amy Winehouse em Sandy do dia pra noite.) O mais urgente, agora, é terminar com o rapaz. O problema é que ele não atende o celular! Ainda bem que mora do outro lado da cidade...

No final de semana seguinte (nenhum sinal do sr. Perfeito!), Agnaldo e Tânia, de folga na EntreLaços, vão passear no centro comercial de Ardósia: uma rua fechada, com um calçadão, recheada de lojas e lanchonetes. A garota estranhou o passeio, uma vez que Naldo dificilmente quer sair, mas gostou, concluindo ser bobagem colocar aquela estabilidade em risco. Devia seguir os conselhos de Laura: se era pra chifrar, melhor separar; se ia continuar, que fosse com a tranqüilidade feliz dos fiéis! De repente, viu-se num ímpeto de abraçar o marido. Surpreso e feliz, ele retribuiu o carinho com mais força. Saíam de uma loja de informática, onde pesquisaram notebooks e periféricos.

Então aconteceu. Os dois abraçados, na calçada, dão de cara com Genivaldo, recém saído de uma loja vizinha. Ele para, com ar de surpresa, observando o casal. Tânia estanca, para estranheza de Agnaldo. Num primeiro momento, pensa em voltar correndo para dentro da loja: “Peraí, esse cara deve ter errado no preço! Aquele mouse tá muito caro!”. No instante seguinte, passou-lhe a ideia de fazer-se desentendida: “Como assim? Desculpa, rapá, deve estar me confundindo. Nossa, amor, tem cada louco por aí!”. A melhor decisão, porém, é mesmo simular um ataque cardíaco e cair dura.

Prestes a despencar como uma banana madura, percebe uma morena enorme que aparece ao lado do tal Adônis, agarrando-o pela cintura.

Dois casais, frente a frente.

Tânia e Genivaldo cumprimentam-se, acenando de leve a cabeça, e seguem seus caminhos.

- Conhece o rapaz?

- Estudei com ele... faz tempo! Demorei a reconhecer!

Adônis nunca mais foi visto. E essa foi a história que Laura ouviu da amiga assim que retornou a Ardósia após sua conturbada lua de mel. Tânia jura de pé junto: foi a última vez!

Nichollas AIberto
Enviado por Nichollas AIberto em 20/08/2012
Código do texto: T3839124
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