ARDóSIA 18 : Heróis x covardes
“E aí miguxa? Cumé q tá a lua de mel?”
“Agora está mais tranquila, Tânia. Depois daquele susto em São Paulo, em Santos está gostoso.”
“Q susto hein Laura? Ficamos num aperreio! Inda bem q tem net aí. Podemos tc pra ficar por dentru das novidades!”
“Verdade, Tân. São amigas como você que deixam a gente mais tranquila. Poucas mulheres contam que o noivo da amiga a cantou!”
“Puxa deu tanta confusão isso! Possu até ter me enganadu né? Ainda bem q passou!”
“Graças a Deus. Quanto à net, é verdade. O micro da tia do Téo não é lá grande coisa... Trava toda hora. Mas a velha é muito gente boa, tá recebendo a gente tão bem! Vamos voltar pra Ardósia depois de amanhã, mas já tô com saudade.”
“Vida boa né migucha? Nem dá vontade de voltar! rs rs rs”
“Pois é! Mas já está bom. O Téo se recuperou dos sustos. Está melhorzinho.”
“SustoSS? Teve otro além daquele da rodoviária?”
“Não te contei? O Téo é fd!”
“kkkkkk. Manda aí!”
“Olha o micão! Depois do lance com o ladrão, o Téo ficou se achando o super-herói. Estava todo macho. Fazendo pose. Eu nem disse que percebi que ele ficou com medo naquele dia.”
“Mas ele teve culhão né migucha?”
“rs rs rs. Isso é. Mas enfim, ele nunca foi de bancar o folgado pra cima dos outros. Mas ficou todo-todo. Encarando qualquer um na rua. Pode uma coisa dessas? Até que, já em Santos, a gente foi numa feira de artesanato. Dessas que vendem um monte de bugigangas feitas à mão. Tinha cada coisa linda!”
“Tá trazendu algo pra mim?”
“Tânia! Tem uns brinquinhos MA-RA-VI-LHO-SOS!”
“Ueba! Mas Laura conta o negócio do Téu!”
“Ah, é. Então, a gente estava na tal feira, na maior muvuca. Lotado de gente. Nem dava pra caminhar direito... cotovelo pra lá, pernada pra cá... Todas as barraquinhas com aquele amontoado de cabeças, braços & mãos. E o Téo, você sabe, já começou a ficar de cara feia, o bico lá na esquina. Era só eu passar duas ou três vezes na mesma barraca pra ele começar a reclamar. Ignorei, né? Nem prestei atenção no que ele falava! Até que teve uma hora, menina, eu vi que ia dar merda! Eu olhava uns barquinhos feitos com conchas e ele, do meu lado, começou a invocar com um cara do outro lado da barraca. O homem devia ter uns dois metros!! E o Téo, todo enfezadinho, começou aquela conversa besta:
- Tá olhando pra mim, rapaz?
- É comigo, amigo?
- Não sou teu amigo, ó, Alemão! Tô com minha esposa aqui do lado e percebi que você não tira os olhos de mim. Tá pensando o que?
- Olha, também tô com minha namorada e não quero confusão, certo? Estava tentando olhar as pulseiras da outra barraca.
E nisso todo mundo já olhando, né, amiga! E a anta do Téo continuou:
- Ah! A menina tá olhando pulseirinha? – Aí eu percebi que a namorada do cara segurou o braço dele. Putz, pensei que ia ficar viúva com menos de uma semana de casada! Mas o cara ainda tentou amenizar.
- Olha, amigo. Estamos todos cansados, cheio de gente. Vamos esquecer essa besteira, ok?
- Epa! Já disse que não sou teu amigo. E pode ir! Mas que você tava me paquerando, tava sim!!
- Escuta aqui, rapaz! – o tal Alemão engrossou a voz! – Em, primeiro lugar, eu NÂO sou veado. Em segundo, se eu FOSSE veado, pelo menos teria bom gosto de não olhar pra um cara tão feio. Você é o cão chupando manga!
- Ah é, bichona?! Tá com medo de encarar o cão?
Aí, Tânia, o Alemão gritou “Eu te mato!”, enfiou a mão no bolso do agasalho e foi puxando sabe-se-lá o que. O Téo deu um pulo pra trás, tropeçou, caiu, derrubou a bolsa de uma mulher... e saiu correndo! Eu fiquei paralisada! Muita gente saiu correndo ou se abaixou. Só que, no final das contas, o cara estava com a carteira na mão. Só isso. Pagou uma bailarina de conchas que a namorada comprou, segurou a carteira na vertical em frente da boca e deu um sopro, como fazem nos filmes, em canos fumegantes, e ainda arrematou:
- Arma de mentira... pra corajosos de mentira.
Piscou pra mim e saiu rindo, abraçado com a namorada!”
“Laurinha não foi mico não. Foi um gorila enorme! kkkkkk!”
“Eu enfiei a cara no sovaco e saí de fininho. Fui achar o Téo na casa da tia. Já tinha trocado a calça, claro, toda mijada!”
“Mas agora ele deve tá pianinho né? Migucha! Por falar em mico tenhu q t contá o q aconteceu comigu!”
“Oba! Agora quero saber tua fofoca! Mas você não aprontou nada com o Naldo, né?”
“Ptz”
“Amiga! Ele não merece...”
“Nunka + fassu nada! Juro! Se eu t contá o rolo que deu...”
“Puxa, Tânia. Vai ter q ficar pra depois. Tenho que voltar p/ cama. Você me conta aí em Ardósia!”
“Q foi?”
“O Téo. Tá choramingando. Devem ser novos pesadelos.”