Façanhas I
Jilobaldo não é nome que se dê a uma pessoa. Muito menos num sujeito boa praça e de irrefutável personalidade. Caso do nosso amigo, objeto deste pequeno artigo. Sinto até certo amargor em pronunciar tal nome. Acho que vocês também. Já quiseram alguns amigos mais chegados, mudar o nome do Jiló (para os íntimos) somente para tirar o amargor. Propuseram Papagaio como novo batismo, em virtude de o amigo possuir o nariz meio adunco, característica que lhe empresta certa semelhança com a ave tagarela. Contudo, a nova alcunha não caiu de bom grado no gosto da moçada.
Todavia, o amargor propriamente dito não está no nome do preclaro, mas sim nas suas atitudes extravagantes. Atitudes excêntricas tornadas, perante todos, até meio folclóricas. Fosse ele negro e gorducho, causaria uma confusão dos pecados com o crioulo Idi Amim Dada, ex-ditador de Uganda. Cujas atitudes extravagantes transcenderam as fronteiras do globo terrestre. As atitudes impulsivas do Jiló não ficam a dever em nada às do famoso déspota ugandense. Por tudo isso, eu sugeriria chamá-lo de Vinde a Mim
Suas façanhas têm causado espanto a gregos e troianos. Não faz muito tempo, Jiló aprontou uma do seu feitio: Enamorou-se de uma bela e formosa cabrocha no Município de Capim Grosso, no sertão baiano. O namoro ia de vento em popa, quando resolveram inesperadamente noivar. Tudo acertado, Jiló tratou de comprar os bambolês e, num curtíssimo espaço de tempo, estava ele na casa da noiva pedindo, num ambiente de muitas bebemorações a mão da futura consorte.
Houve festança como há em todos os eventos dessa natureza nas cidades interioranas. A maioria de vocês, leitores, deve conhecer do riscado mais do que este que vos fala.
O restante do dia transcorreu às mil maravilhas. Principalmente para a noiva, irradiando felicidade. Ela se imaginava em frente ao altar, impecável de véu e grinalda, perante a autoridade religiosa, sendo interpelada se aceitava Jiló como seu legítimo esposo. Estava tão absorta em seus pensamentos que um sim escapuliu descuidadamente.
O dia seguinte ao ato do noivado amanheceu sombrio; nuvens negras impediam os raios solares de banhar os rostos daqueles felizes e sorridentes pombinhos. Nem por isso os entes queridos de Rosangela - ela assim se chamava – deixaram de externar nos semblantes a incontida alegria pelo acontecimento do dia anterior.
Após o café matinal, Jilobaldo seguiu rumo à Estação Rodoviária local, em busca de um ônibus para o regresso a Salvador. Atrás de si, um imenso cortejo de futuros parentes foi embarcá-lo e desejar feliz retorno. Os desavisados poderiam até pensar se tratar de uma procissão em plena manhã de segunda-feira.
Tomou o primeiro ônibus porque quanto mais cedo chegasse à Terra de Todos os Santos, melhor. O dever o esperava.
Passados exatos 30 dias do noivado, Jilobaldo escreveu uma carta à noiva. Pensam vocês se tratar de coisas do coração? Ledo engano. Escreveu uma carta desfazendo o noivado. Isso mesmo. Sem maiores explicações. Coisas do Jiló.
Soube, por intermédio das más línguas, ter sido o amigo pejado pelos ouvidos por um tal de Eron - conterrâneo e pretendente platônico da moça. Ele deitou falação sobre o comportamento dela, insinuando alguns furtivos namoricos na cidade, com o propósito de ver aquela futura união desfeita, tendo o campo aberto para suas investidas.
Sem ao menos certificar-se da veracidade da informação caluniosa recebida, Jiló decidiu pôr fim ao romance.
Até aí tudo bem. As conseqüências desse impensado ato deram, porém, “panos pra manga”. Bastou o recebimento da notícia da cafajestagem do Jiló para os familiares da moça, juntamente com esta, partirem ao encontro do cafajeste na linda soterópoles.
Informaram que a chegada da moça, acompanhada dos seus à repartição onde trabalhava o Jiló, foi um verdadeiro “Deus nos acuda”. Segundo contam, o amigo mais parecia um atleta competidor de corrida com obstáculos, tal a desenvoltura no saltar de janela. Metia inveja a qualquer recordista da citada modalidade esportiva.