O MENINO DO FORMIGUEIRO ( 3ª PARTE )

A morte do professor frustrou o sonho de Tavinho, e das famílias quilombolas, que liderados por Margarida compareceram a tão esperada reunião na casa de escola do povoado. Onde seriam apresentadas ao mestre escola, para tratarem dos assuntos pertinentes ao estudo dos filhos. Genaro atarefado com sua contabilidade na fazenda, se fez representar pelo capataz que deu a triste noticia. Com o falecimento do mestre não haveria mais aulas, dificilmente encontrariam alguém disposto a lecionar naqueles confins do sertão. --Margarida seria o ideal, mas por modéstia não se manifestou.

--Tudo bem Tavinho voltemos pra casa, a você o estudo está garantido aprenderá comigo, o problema são estas pobres crianças, que não terão oportunidade de aprender como tanto desejam. — Como disse Margarida tu és professora? Indagou Benedita, quilombola, idosa, que se fazia presente. – Não; eu quase fui, faltou um ano para me formar normalista. – Normalista quiqueisso? – É professora mesmo!

–Ôh Seu Migué conta pu coroné qui nois tem u, a fessora pertim do quilombo! --Miguel o capataz aproximou-se sentou junta à Margarida no banco de madeira roliça cedido por Benedita; -- então você é professora? – Não cheguei a me formar! Estudei um pouco, mas abandonei os estudos, problemas familiares. –O coronel vai gostar, sabendo que temos uma professora aqui! – Já disse não sou professora! - --Bem vou levar ao conhecimento do coronel. –Com certeza ele vai te convencer a abraçar esta causa! – Acho difícil isto não está em meus planos!

No dia seguinte mal raiou o dia Margarida esfregava as roupas na bica d’água, quando surgiu o tropel de um animal, descendo a encosta indo na direção do sitio. Encostando a montaria à cerca do curral donde seu Joaquim ordenhava a vaquinha mimosa, o cavaleiro o saudou; - bondia sinhô! – Bão dia, qui cidadão deseja? – É da parte da fazenda das almas, to aqui a mando de coroné Genaro!-- intonse é benvino diz purai que Genaro é bão dimai-, fala qui inté sabia desse quilombo mais nunca dexô nium capitão do mato atravessá a terra Del mode caçá os iscravos fugitivos? –Issi eeé sinhô! pode ponhá bão praí afora-, o home farta dinvinhá cus pobre ta persisano mode ajudá, foi o primero a da liberdade pos cativo quando saiu a tar bolição!-- Má de que se trata? – Coroné ta quereno prusiá Cum a tar de Margarida é fia do sinhô? – Quais qui é, na verdade é afiada!

Ouvindo a conversa, Margarida deixou seus afazeres passou ao lado da casa indo se ter com o mensageiro. Bom dia jovem; amarre seu cavalo entre, e venha tomar uma xícara de café! --Gardicido ma coroné Genaro mandô vim num pé e vortá nôto, ocê é Margarida? – sim sou eu! --Coronè pidiu mode cê ilá qué prusiá cocê!

-- O qui o senhor acha padrinho Joaquim? – Ah fia vá mode vê cu home ta quereno! – Acho que já sei quer falar sobre a escola eu não contei ao senhor ainda, mas o professor morreu e estão sem jeito, de recomeçar as aulas, estão querendo que eu vá substituí-lo! – Oia fia Deus abençoa qui coisa mais mió de boa!—Sei não padrinho, pode ser perigoso meu pai sabe como é! – qui nada fia Ca nesse oco de mundo seu pai num vai mais sabê docê não, de jeito ninhum. Há sete anos tamo merguiado neste ermo, ocê inda tem muita vida pra frente, não é justo ficar na solidão abraça esse negoço, é um bão jeito mode ocê intertê livrano da tristeza, trabaiá e divirti; -- mas e o senhor?—Ara ieu? --Tô bem grandim posso cuzinhá inté lavá pra ocê se percizo fô!

-- Tudo bem se é assim amanhã mesmo vou conhecer esse tal coronel que todos dizem ser um anjo em forma de gente!

No dia seguinte chegando à fazenda juntamente à Benedita que se ofereceu acompanhá-la, foram recebidas pela cozinheira que vinha do galinheiro com o seu avental abarrotado de ovos que acabara de colher -, Dexe ajudá ocê minina, vigi quantosovo! – exclamou Benedita. – Bamo intra pra cuzinha, soceis vei percurá o coroné, gurica memo ele chega, ta na hora Del vim cumê, o home veve num a curriria nem cumê direito num come! Margarida estava ansiosa o nome do coronel pareceu estar mexendo com ela, não lhe era estranho, aliás, bem familiar.

Sentaram-se num banco perfilado entre a mesa grande da cozinha e a parede. Quando entra o coronel, tirou o chapéu pendurou-o num cabide da parede, enxugou o suor do rosto numa toalha pendurada noutro cabide e saudou as visitas. --Boas tarde senhoras; Margarida perdeu a voz engoliu em seco. –Mas que o isto meu Deus... É você minha sobrinha? Me da logo um abraço então é a professora misteriosa quem diria... Que surpresa agradável! Margarida foi socorrida pela cozinheira que lhe acudiu com o copo de água com açúcar, só alguns minutos após ela pode falar. —Então é meu tio ou estou sonhando! -- Em carne e osso, minha sobrinha querida Como veio parar Ca neste sertão?

-- Desde que fui expulsa por meu pai há sete anos. Estou aqui! – Eu conheço a historia. Minha irmã, tua mãe me colocou a par de tudo. Só não sabia que estava aqui tão perto de mim, durante todo este tempo, não costumo passar o outro lado da serra, em respeito aos quilombolas, apesar deles trabalharem em minhas lavouras me acostumei a respeitá-los em suas privacidades. E o carreiro Joaquim, como está--, Seu filho? – Está bem tio na medida do possível! –Tavinho é muito curioso vive perguntando pelos pais, não sabe que é meu filho! Com a voz embargada e enxugando as lágrimas ela pergunta: – Mas e minha mãe que noticias senhor tem pra mim?- Tua mãe acredita-se que esteja bem, eu a vi a ultima vez no Natal reunimo-nos em minha fábrica com meus funcionários, sente muito sua falta mais vai levando. – Pobre mãe como tenho saudade dela Deus meu Deus! Debruçada na mesa Margarida foi consolada pelo tio. –Fique tranqüila muito breve vou trazê-la e você pode adorá-la à vontade... Será tio que vou ter esta honra... E meu pai? – Podes até não acreditar, mas seu pai mudou da água para o vinho é outro homem, assim que você desapareceu a fixa caiu, até um tumulo mandou fazer para os restos mortais do bebê teu filho, recolheram os ossos do leitão menos os pés e cabeça que por precaução tua mãe dera sumiço, ,e segundo ela ele ainda tem esperança de encontrá-los, para depositá-los também no tumulo. – Tio eu não creio neste arrependimento de maneira nenhuma! –As pessoas mudam filha!

Mas deixemos de lado as coisas tristes, e vamos o que interessa, eu mandei chamá-la, porque quero que assuma as aulas no povoado, preciso muito que esta gente receba uma educação, aprenda ler e escrever, já tem algumas jovens senhoritas que com a sua orientação em pouco tempo estarão aptas a dar aulas também, e se você quiser poderá vir morar aqui na fazenda, ficará mais perto da escola, e quem sabe até me ajudar. Sua tia minha esposa vive lá na capital cuidando da fábrica e raramente vem por aqui, tenho que desdobrar aqui e lá com sua ajuda posso ficar por La mais tempo.

--Eu fico super feliz ao encontrá-lo, mas o que meu padrinho fez por mim nada no mundo me separa dele. – Quem diz que tens que separar dele? Quero os dois aqui! –Bom me dê um tempo vou conversar com ele, acho difícil, pois ele tem um amor incrível em nosso sitio!—E a escola pode contar com você? –Pode sim para o bem desta criançada eu aceito.

--E assim Margarida e Benedita foram conduzidas de volta as suas casas, desta vez na carruagem do tio, puxada por quatro corcéis brancos um luxo. Ele que sempre ignorou aquela região respeitando a privacidade dos quilombolas, agora já pensava na melhoria da estrada que dava acesso ao cruzeiro, assim poderia diligenciar o transporte dos trabalhadores que prestavam serviços em suas lavoras de algodão, e também manter uma aproximação mais cordial com a vizinhança em especial a sobrinha. Pensava também na aquisição de um automóvel o primero naquele imenso sertão.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 14/08/2012
Reeditado em 14/08/2012
Código do texto: T3829480
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