Sonhos Delirantes
A calma de uma mente inerte resplandecia na nuvem branca, única nas profundezas de seu interior. O formato de algodão doce revelava o tempo esquecido de aventuras infantis. Ele dominava a mente no estágio inicial do sono, queria paz e sossego nas horas em que era feliz na solidão do seu mundo. O que não conseguia de olhos abertos, a solidão do mundo real lhe angustiava.
Seu domínio sobre o sono não é verdadeiro, apenas ilusão, como sua vida. Os devaneios e suas loucuras são expressas de forma brutal e irreal, o descompasso do mundo seu, que desconhece. As incertezas de seu rumo são adicionados finitos pensamentos obscuros. Esta noite fantasias e angústias juntas, para dominá-lo.
O escarlate destrói seu controle, raios fúlgidos rompem as lembranças de outrora. O sobe e desce da montanha parada no ar, o desejo incontrolado de gritar, da oris saltam lápis de cores berrantes. O desespero aumenta. O som do atrito da estrela fugitiva com o vento do espaço sideral é ensurdecedor. Salta para fugir do encontro do guarda-chuva e da bola de basquete, inimigos desde que ele trocou o guarda-chuva pela bola.
Caiu no rio formado por lágrimas de sangue da princesa, mas não afundou nas águas da cor ora fúcsia, ora magenta. Ele chora junto, suas lágrimas são negras, o que irrita mais a princesa. Ela se contorce de dor, raiva, desespero, suas lágrimas e ela se reduzindo ao infinito... que preso a um cordão de ouro fica estampado num quadro distorcido de uma matrona medieval, onde ao lado um ponteiro louco de relógio, não para de balançar... pra lá... e pra cá... a sombra distorce o movimento. A sombra toma conta do ponteiro, que trava... a sombra cobre tudo, as corres berrantes desaparecem, só escuridão. Sozinho com as lágrimas ainda escorrendo do seu rosto... perdido... sem saída... a sombra começa a encobri-lo. Não reage. A estrela fugitiva passa voando atrás do vento, levando a sombra embora, o barulho ensurdecedor volta com força. A nuvem branca reaparece. O barulho continua.
Ele abre os olhos, o despertador continuará a tocar enquanto ele não levantar. São 6:15 da manhã a rotina diária começa após uma noite de sono. Um banho quente para tirar o suor da noite.
O dia longo de trabalho é cansativo, ele retorna para casa no final da tarde exausto, mas antes passa na confeitaria e pede:
- me vê um sonho de nata e outro de creme!
A balconista, simpática, informa:
- acabou o sonho de nata e de creme... só temos de goiaba!! o senhor vai querer?
Ele respondeu:
- não! o sonho de goiaba me dá pesadelos! Me dá dois de pães de água!
Pagou a conta e foi embora da Confeitaria Sonhos Delirantes, esta noite não irá sonhar.