FAÇA A COISA CERTA
FAÇA A COISA CERTA !
Garoto levado, queimado de sol, pele marronzinha, pela manhã ia para escola de short azul-marinho e camisa branca, meia 3/4 também branca e tênis “conga” preto, o short e a camisa, cortado e costurado pela mãe, que também todos os dias lavava, quarava e passava para estarem sempre limpos.
Na parte da tarde, quando não ajudava sua mãe com os afazeres, após a tarefa ia para o clube onde passava a tarde nadando ou jogando, por isso sua cor marrom. Garoto levado, mas educado,atencioso e todos achavam que um dia seria campeão em alguma modalidade esportiva, afinal passava quase todas as tardes no clube, uns dias mais cedo outros até mais tarde, final de semana o dia todo.Comia lanche para não ir para casa,só não aparecia de segunda porque estava fechado e de sexta por ajudar sua mãe.
Entre os afazeres, tinha que dar comida ás galinhas, cachorro, limpar quintal, por a roupa para quarar, retirar roupas do quarador ou varal, mas o melhor dia era sexta feira. Dia de quitanda, a tarde toda fazendo roscas, bolachas, bolos, pamonha, curau e doces de toda espécie para o final de semana e semana seguinte, sempre que se terminava uma massada de alguma coisa, levava a vasilha, tacho ou forma para lavar, mas não sem antes “rapar” com o dedo indicador e comer tudo que estava sobrando. Como era bom ajudar na sexta feira, ao final da labuta, como premio além do carinho da mãe, sempre ganhava as sobras que por ventura não cabiam nos potes de conserva e se empanturrava de todas as guloseimas do dia.
Em uma segunda- feira á tarde sem nada para fazer, sua mãe pegou uma cesta de bambu trançado, forrou com um pano de linho branco por dentro, igual a uma cesta de piquenique, tão alvo que no sol doía os olhos. Colocou diversos pedaços de doces como: pé-de-moleque, doce de leite, Maria mole, queijadinha, broas de fubá, tudo bem arrumadinho, limpinho, com guardanapos de papel e panos de prato, e saíram os dois, mãe e filho, para tentar vender e arrumar um extra. Caminharam para a porta de entrada de uma firma, e embaixo de uma arvore começaram a oferecer aos trabalhadores que entravam ou saiam. Tudo indo bem, sua mãe lhe perguntou se já tinha aprendido o negócio, preço da mercadoria, voltar troco, não vender fiado, e se foi deixando-o só, tudo bem, já tinha se tornado um comerciante, de calças curtas, mas um homem de negócios.
Um homem se aproximou do garoto, vendo todos os produtos dentro da cesta, fez uma proposta ao garoto: Estou entrando em serviço agora e saio para o lanche em três horas, se até lá você comer tudo que tem aí dentro, pago toda a cesta para você. O menino acostumado a comer doce o dia todo, topou na hora, e começaram a contar o que tinha e quanto custaria. Achou que seria fácil, iria ganhar dinheiro e fazer o que mais gostava,comer doces!Combinaram e o homem se foi e o menino se pois a comer.Depois de vários pés-de-moleque, doces de leite, tudo começou a ficar enjoativo e quanto mais comia, parecia que tinha mais dentro da cesta e após algumas horas, começou a comer metade e jogar o resto no mato,porque tanto fazia, ia receber do mesmo jeito. Já se acostumando com o errado, passou a dar uma mordida e tacar fora o resto e finalmente quando estava preste a vencer o prazo, jogou o que sobrara em um bueiro de captação de água das chuvas, sentou-se e esperou pelo pagador. Ao chegar o homem examinou o balaio totalmente vazio e concluiu: ou este moleque não tem fundo, ou tacou tudo fora, acho que tacou fora, porque depois de tanto doce, no mínimo uma dor de barriga tinha que ter. Sem entender o que se passara ali, avistou o bueiro e foi examiná-lo também, qual não foi sua surpresa ao localizar metade dos doces inteiros e mais um monte de pedaços, agora todos sendo devorados por formigas. Não tinha sido este o combinado, portanto não iria pagar. Moleque desesperado, começou a chorar,porque sabia que iria apanhar ao chegar em casa, tentou de todas as maneiras convencer o homem, que ficou irredutível e não compartilharia deste erro, e se não tivesse sido desonesto, pagaria os doces que o menino tinha comido.Tentou em vão, pegar os doces inteiros, cheio de formigas que lhe picavam as mãos, os limpava com o pano de prato, nada resolvia. Chegando em casa, chorando, todo picado de formiga, dor de barriga, foi ter com sua mãe e tentou explicar, o que não tinha explicação. Tomou alguns tapas, foi tomar banho e após sua mãe cuidou das feridas e da indigestão. Até hoje sua mãe quando quer alguma coisa, fala:
Lembre-se da cesta de doces e faça a coisa certa!