A cor da cueca do prefeito

A COR DA CUECA DO PREFEITO

Após a cerimônia de inauguração do chafariz na praça principal de Diamante Rosa, não se falava em outra coisa. Os comentários maliciosos, jocosos, saíam de bocas desdentadas, cheirando a pinga barata, de outras bocas finas cobertas de batom com hálito doce, nas bocas gulosas e nervosas cheias de carne de porco, escorrendo gordura pelos cantos e umedecendo barbas e bigodes, em muitas bocas, até para fora dos muros da pequena cidadezinha.

A cueca do prefeito era vermelha, como a cara que ele fez de vergonha, ao sentir que a calça se abria de ponta a ponta. Amaldiçoava o alfaiate, que fizera o terno novo. À noite, o demônio da consciência desperta, fustigava lhe o relho forte, nas costas pesadas de pecados que não queria carregar. Ele bem sabia, e não conseguia dormir com sua culpa. Ele mesmo pedia ao alfaiate para economizar até mesmo na linha que iria costurar o terno.

Em sua modesta e aconchegante casa, o alfaiate ainda acordado comentava com sua esposa o ocorrido. Ambos riam e debochavam do prefeito. Fizera tanta economia, para gastar em sua próxima campanha, que mandara utilizar a linha de uma de suas fábricas. Acabou economizando tanto que mostrou o próprio traseiro.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 30/07/2012
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