LENHADOR
Fomos pescar, em uma fazenda, eu e mais quatro companheiros, só eu e meu irmão de nativos, os outros três, paulistanos P.O. (Puro de Origem).
Chegamos às margens da represa, de uma Usina Hidroelétrica, já no finalzinho da tarde. Entramos na casa, abandonada, sem luz, sem água, o banheiro era uma casinha externa, com uma fossa, não tinha forro e nem era pintada, mas ia dar para abrigar por um final de semana apenas.
Montamos acampamento, pegamos lenha, colocamos fogo no fogão para o jantar e também pra esquentar água pro banho, conferido; querosene nas lamparinas e camisinha no lampião, guardamos as coisas, aproveitamos o resto da luz do dia para arrumar onde dormir.Municiei minha espingarda cartucheira, de dois canos com os dois cartuchos correspondentes, coloquei meu colchonete encostado na parede atrás da porta, e a arma no chão entre a parede e o colchonete, tarefas distribuídas, fiquei eu e uma guria, irmã dos dois outros paulistanos, com a cozinha, meu irmão, e os outros foram pescar.
Preparamos o jantar, a caipirinha de pinga da própria fazenda, cerveja na caixa com gelo, tomamos banho e ficamos aguardando os pescadores regressarem.Quando chegaram, já dava pra perceber a embriagues nos turistas, pinga pura e cerveja. Se lavaram e jantamos, peixe que é bom, nenhum, só conversa...
Apos arrumarmos a cozinha, e prepararmos a mesa pro truco, o fazendeiro foi nos fazer uma visita e disse que já que íamos passar o final de semana no rancho, aproveitando que tinha gente na fazenda iria para cidade, despedimos e agradecemos a hospitalidade e antes de partir, alertou-nos para tomar cuidado com o “lenhador”.
Meu irmão colocou o revolver na cintura e eu disse: Mano, isto é lenda, não existe “lenhador”. Ele retrucou bravo, mas se existir, hoje eu pico ele na bala. Todos os turistas, brancos, pareciam neve e ficaram petrificados, acalmei-os e, formamos a primeira mão de truco, eu e a guria contra seus dois irmãos, meu irmão teria que esperar acabar a rodada e escolher um dos perdedores. Jogo em andamento, caipirinha e cerveja á vontade, derrepente meu irmão começa a ficar inquieto, e toda vez que se fazia silencio, escutávamos o toc toc na mata e, meu irmão começou:- To falando, ta escutando o “lenhador”, toc toc? aquilo para os turistas, foi ficando cada vez mais assustador. Meu irmão se fazendo mais bêbado do que estava realmente, sacou o revolver, abril a porta e saiu para o mato, procurando o “lenhador”, momentos de pânico, a guria começou a chorar e a gritar:- Não vá, é perigoso e eu (segurando o riso) dizia:- Não tem perigo não, ele foi um bom soldado, sabe se cuidar, ate que um quis saber quem era o tal “lenhador” e eu comecei a contar a historia; há muitos anos passados, nesta região morou um homem que costumava pegar lenha á noite para que pudesse esquentá-lo do frio, numa destas noites frias encontrou com bandidos muito maus que com seu machado, picaram ele todinho, ainda vivo.
Por isso sua alma penada fica andando na mata, cortando as arvores com seu machado toc toc.Nisso, meu irmão começa a dar tiros do lado de fora, saquei meu revolver de dentro da mala e abri a porta, meu irmão entra esbaforido, branco como a neve, corre para o quarto, se deita, esconde o rosto embaixo do travesseiro,tremendo todo e acaba adormecendo.Acalmei o resto do pessoal e os dois irmãos foram deitar.Fiquei na sala com a guria, explicando que aquilo era uma lenda.Mas, quanto mais a noite avançava, mais nítido ficava o toc toc.Um dos irmãos, que deitou ao lado de meu colchonete, começou a gritar que tudo tava rodando, era a pinga fazendo efeito.Um pouco mais tarde, a lua passou sua luz por um buraco no telhado, com o mundo girando, a luz girou junto, achou que era um disco voador, pegou minha espingarda e deu um tiro na luz, no buraco, no telhado, sei Lá mais onde, só sei que foi telha pra todo lado e todos sararam da carraspana, meu irmão acordou e tomou a arma dele.
Não sabíamos se riamos, chorávamos, ou batíamos nele, um pedaço de telha caiu em sua cabeça, o que lhe valeu oito pontos.
Então, após a tragédia contamos que o toc toc era só o carneiro jogando água para a sede da fazenda, a pescaria acabou naquela hora e nem pude sair para caçar aquela noite.
Conclusão: O medo é a pior arma do homem.