"PRA ONDE FOI CEREJA"
* PUBLICADO PELA LITERARTE EM 2011*
Criança pensa e é tão inteligente quanto qualquer adulto que se ache
conhecedor da vida. A única diferença é que, com o tempo decorrido, o
adulto já cresceu e ganhou conhecimento do ambiente em que vive, do
meio que o cerca e, para a criança, tudo é novidade e um longo
aprendizado aqui neste planeta.
A historia que agora narro se passa na Espanha, no Norte, lá nas
montanhas em uma aldeiazinha linda e pequenina. A população é de
pessoas guerreiras que sobreviveram à Guerra Civil e a reconstrução
se arrastou por anos e anos fazendo seu povo emigrar para a America.
Por esse motivo essa aldeia somente tinha algumas casinhas habitadas.
Os moradores tinham cabras, ovelhas, galinhas, coelhos,gado e um
porquinho que era criado durante o ano e, normalmente na primavera, se matava e se mantinha no sal em grande mala de madeira. Esse porco
garantia a carne do ano enquanto outro filhotinho já estava na engorda
para o ano seguinte.
O dia da morte do porco era motivo para festa de todos os moradores.
Se fazia até programação de quem mataria o porco, em que dia, pois
todos se reuniam e naquele dia todos colaboravam uns com os outros e o almoço era por conta da casa em que se estava matando o porco.
Dias de grande alegria!
Tinha-se pouco dinheiro, às vezes nenhum, mas a união fazia a
diferença e ninguém passava fome naquele lugar.
Em dias de semear todos se reuniam na segunda feira na casa da Dona
Amélia. Na terça, na casa do Sr Afonso e assim por diante. Todos
serviam uns aos outros. Era uma união digna de admirar: O amor
precedia no sentimento de todos os moradores. Lembro-me das crianças
brincando e chateando uma velhinha que se chamava Maria de Riva, as
crianças per turvavam muito a pobre e querida que tanto amava e que
volta e meia ela fazia castanhas assadas para me fartar de prazer.
Na hora de fazer o grande cozido que era sempre servido no café da
manhã, minha mãe mandava que fosse à horta para colher couves, nabos e o que tivesse na época plantado.
A feira que somente acontecia de quinze em quinze dias em uma cidade
vizinha. Então os adultos tinham que ir até a cidade fazer trocas do
que tinham pelos que não tínham, as crianças nesse dia se deleitavam
de alegria, livres, sozinhas e podiam brincam do que quisessem. A
brincadeira preferida era de fazer refresco de aguardente com açúcar
ovos batidos com açúcar e mexidos na frigideira, ovos com sal e
mexidos na frigideira e também de apostar quem ganhava a gema do ovo, fazendo dois buracos, um de cada lado e cada uma das duas crianças que estivessem participando chupariam ate a gema ir pra um dos lados e é claro comer a mesma. Tinha brincadeiras de fazer roupa de piaçava, pique e muito mais.
Ao anoitecer os adultos chegavam e todos pensavam que as crianças
não tinham comido, pois a comida que eles tinham deixado em casa para cada criança estava intacta. Mal podiam imaginar tamanha farra que tinha sido nosso dia. Lembro-me que quem tomava café na cidade ganhava dois tijolinhos de açúcar para adoçar o mesmo e que meu avô deixava sempre de usar um tijolinho para me trazer de presente; chamais esquecerei tanto amor.
Tinham também um pão feito em casa que se chamava Bica, esse pão era feito de fubá, água quente e sal, amassado e assado em pedra quente junto ao forno de lenha, comia-se com cozido que tinha um pouco de cada coisa: era recheado de batatas, repolho, carne de porco, linguiça de fumeiro feita em casa, couve nabiça, couve manteiga, salsa,
cebolinha e tudo que a plantação nos oferecia. As refeições eram
sempre servidas com vinho. O frio do lugar pedia isso. O leite era
fornecido pelas cabras ou pelas vaquinhas que generosamente nos cediam um pouco deixando de alimentar tanto seus bezerrinhos.
A vida era pura natureza e a maioria das crianças não conheciam seus
pais que eram emigrantes pelo mundo em busca de melhor sobrevivên- cia, sim mais muitos se perderam pelo planeta formando novas famílias e esquecendo as que já tinham. Isso fazia a vida mais dolorida do que já
era. Lembro-me que conheci meu pai aos cinco anos quando ele voltou da grande viajem de emigrante, pois ele tinha saído para América quando eu tinha somente dez meses, ele voltou. e não esqueceu que tinha deixado pra trás uma mulher e duas filhas. Ele voltou. Meu pai voltou e junto com ele a alegria de minha mãe, dos meus avôs e avó.
Fiz um poema com o titulo: Flores da minha infância;, relembrando a
volta dele pra casa quando ele e minha mãe se beijavam após tanto
tempo.
Na época tínhamos três vacas e três bezerrinhas mas uma era a minha
preferida ela se chamava CEREJA era castanha e parava em qualquer
lugar que estivesse somente para que eu pudesse coçar a barriguinha
dela e nesse dia apareceu um forasteiro de outra aldeia e queria comprar uma das bezerrinhas para aumentar a sua criação. Meu avozinho
que sabia da minha preferência deu o preço em duas e dobrou o preço da minha Cerejinha pensando que o forasteiro iria comprar uma das duas mais baratas pois em qualidade as três se igualavam.E ele quis
justamente a minha bezerrinha, naquela época palavra de homem era uma só e então meu avô vendeu a minha bezerrinha. Subi a ladeira que me levava a minha casa chorando e uma vizinha dize que era uma vergonha eu chorar por causa de uma bezerra no que eu tão pronto respondi: Ela como não é sua, a senhora não sabe a dor que tenho dentro do meu peito.
Ela me abraçou e chorou junto comigo, eu somente tinha três anos e
partir daí vivo para proteger os animais.
Era pequena, mas me lembro, e quando meus olhos fecho ainda sinto a
dor que naquela tarde fria em que o vento cortava de dor as mãos, meu
peito apertou e sangrou a minha primeira perda, a dor de uma menininha que perdeu a sua bezerrinha.
conhecedor da vida. A única diferença é que, com o tempo decorrido, o
adulto já cresceu e ganhou conhecimento do ambiente em que vive, do
meio que o cerca e, para a criança, tudo é novidade e um longo
aprendizado aqui neste planeta.
A historia que agora narro se passa na Espanha, no Norte, lá nas
montanhas em uma aldeiazinha linda e pequenina. A população é de
pessoas guerreiras que sobreviveram à Guerra Civil e a reconstrução
se arrastou por anos e anos fazendo seu povo emigrar para a America.
Por esse motivo essa aldeia somente tinha algumas casinhas habitadas.
Os moradores tinham cabras, ovelhas, galinhas, coelhos,gado e um
porquinho que era criado durante o ano e, normalmente na primavera, se matava e se mantinha no sal em grande mala de madeira. Esse porco
garantia a carne do ano enquanto outro filhotinho já estava na engorda
para o ano seguinte.
O dia da morte do porco era motivo para festa de todos os moradores.
Se fazia até programação de quem mataria o porco, em que dia, pois
todos se reuniam e naquele dia todos colaboravam uns com os outros e o almoço era por conta da casa em que se estava matando o porco.
Dias de grande alegria!
Tinha-se pouco dinheiro, às vezes nenhum, mas a união fazia a
diferença e ninguém passava fome naquele lugar.
Em dias de semear todos se reuniam na segunda feira na casa da Dona
Amélia. Na terça, na casa do Sr Afonso e assim por diante. Todos
serviam uns aos outros. Era uma união digna de admirar: O amor
precedia no sentimento de todos os moradores. Lembro-me das crianças
brincando e chateando uma velhinha que se chamava Maria de Riva, as
crianças per turvavam muito a pobre e querida que tanto amava e que
volta e meia ela fazia castanhas assadas para me fartar de prazer.
Na hora de fazer o grande cozido que era sempre servido no café da
manhã, minha mãe mandava que fosse à horta para colher couves, nabos e o que tivesse na época plantado.
A feira que somente acontecia de quinze em quinze dias em uma cidade
vizinha. Então os adultos tinham que ir até a cidade fazer trocas do
que tinham pelos que não tínham, as crianças nesse dia se deleitavam
de alegria, livres, sozinhas e podiam brincam do que quisessem. A
brincadeira preferida era de fazer refresco de aguardente com açúcar
ovos batidos com açúcar e mexidos na frigideira, ovos com sal e
mexidos na frigideira e também de apostar quem ganhava a gema do ovo, fazendo dois buracos, um de cada lado e cada uma das duas crianças que estivessem participando chupariam ate a gema ir pra um dos lados e é claro comer a mesma. Tinha brincadeiras de fazer roupa de piaçava, pique e muito mais.
Ao anoitecer os adultos chegavam e todos pensavam que as crianças
não tinham comido, pois a comida que eles tinham deixado em casa para cada criança estava intacta. Mal podiam imaginar tamanha farra que tinha sido nosso dia. Lembro-me que quem tomava café na cidade ganhava dois tijolinhos de açúcar para adoçar o mesmo e que meu avô deixava sempre de usar um tijolinho para me trazer de presente; chamais esquecerei tanto amor.
Tinham também um pão feito em casa que se chamava Bica, esse pão era feito de fubá, água quente e sal, amassado e assado em pedra quente junto ao forno de lenha, comia-se com cozido que tinha um pouco de cada coisa: era recheado de batatas, repolho, carne de porco, linguiça de fumeiro feita em casa, couve nabiça, couve manteiga, salsa,
cebolinha e tudo que a plantação nos oferecia. As refeições eram
sempre servidas com vinho. O frio do lugar pedia isso. O leite era
fornecido pelas cabras ou pelas vaquinhas que generosamente nos cediam um pouco deixando de alimentar tanto seus bezerrinhos.
A vida era pura natureza e a maioria das crianças não conheciam seus
pais que eram emigrantes pelo mundo em busca de melhor sobrevivên- cia, sim mais muitos se perderam pelo planeta formando novas famílias e esquecendo as que já tinham. Isso fazia a vida mais dolorida do que já
era. Lembro-me que conheci meu pai aos cinco anos quando ele voltou da grande viajem de emigrante, pois ele tinha saído para América quando eu tinha somente dez meses, ele voltou. e não esqueceu que tinha deixado pra trás uma mulher e duas filhas. Ele voltou. Meu pai voltou e junto com ele a alegria de minha mãe, dos meus avôs e avó.
Fiz um poema com o titulo: Flores da minha infância;, relembrando a
volta dele pra casa quando ele e minha mãe se beijavam após tanto
tempo.
Na época tínhamos três vacas e três bezerrinhas mas uma era a minha
preferida ela se chamava CEREJA era castanha e parava em qualquer
lugar que estivesse somente para que eu pudesse coçar a barriguinha
dela e nesse dia apareceu um forasteiro de outra aldeia e queria comprar uma das bezerrinhas para aumentar a sua criação. Meu avozinho
que sabia da minha preferência deu o preço em duas e dobrou o preço da minha Cerejinha pensando que o forasteiro iria comprar uma das duas mais baratas pois em qualidade as três se igualavam.E ele quis
justamente a minha bezerrinha, naquela época palavra de homem era uma só e então meu avô vendeu a minha bezerrinha. Subi a ladeira que me levava a minha casa chorando e uma vizinha dize que era uma vergonha eu chorar por causa de uma bezerra no que eu tão pronto respondi: Ela como não é sua, a senhora não sabe a dor que tenho dentro do meu peito.
Ela me abraçou e chorou junto comigo, eu somente tinha três anos e
partir daí vivo para proteger os animais.
Era pequena, mas me lembro, e quando meus olhos fecho ainda sinto a
dor que naquela tarde fria em que o vento cortava de dor as mãos, meu
peito apertou e sangrou a minha primeira perda, a dor de uma menininha que perdeu a sua bezerrinha.
* PUBLICADO PELA LITERARTE EM 2011*