VACA É SUA MÃE
Festa do peão, bêbado, vou dormir bem tarde  para poder trabalhar ainda na madrugada, durmo um pouco e acordo 5:00h sem saber se estou bêbado, de ressaca ou dormindo, tomo um banho gelado, uma dificuldade para calçar a bota de cano longo, com seus dois metros de cadarço e após, um café forte sem açúcar, preparo a marmita e vou trabalhar, na empresa pegamos água, a traia e fomos correr linha. Dentro da camionete, ajeitei a marmita entre o banco e a porta e fui dormindo durante o trajeto, chegando ao local, dividimos em duplas. Eu e meu parceiro pegamos nosso rumo, muita água neste caminho e após alguns quilômetros, já por volta das 10:00h da manhã, paramos para almoçar embaixo de um pé de laranja: sentei em cima da garrafa térmica de 5lt de água, desembrulhei minha matula e comi como um frade, terminando, com um bom canivete, chupei  talvez uma dúzia de laranja pra curar a ressaca, tirei uma palha na sombra e finalmente, continuamos a empreita. 
Ao final, retornamos para empresa, e sem que nada demais acontecesse, fomos embora para casa.
Cheguei em casa, tirei a camisa, e para tirar o pó da garganta após um dia de labuta, tomei de uma só vez meio copo de whisky sem gelo, sem água, purinho, purinho, whisky dos bons, mas este desceu, que mais parecia um rolo de arame farpado, rasgou, queimou, ardeu, achei que ia morrer ali, naquela hora. Passado o mal estar coloquei o copo no bico da garrafa ajeite-a em baixo do braço, peguei outro copo e sai.
Ao passar pela varanda, o som ligado, modão de viola dos “bão”, peguei uma cadeira espreguiçadeira e fui para rua; na calçada, caixa de isopor cheia de cerveja e carne, mesa com a traia de churrasco, ao lado a churrasqueira acesa, todos os convidados reunidos, cada um se adaptou como pode, em pé, agachado, sentado no chão, de todas as formas, posicionei minha cadeira na rua, entre dois carros estacionados, virada para calçada, coloquei meu litro em cima do capo de um deles, peguei uma cerveja e sentei-me, logo me entrosei num papo e toma-lhe pinga.
Lá pelas tantas cansado e já embriagado coloquei minhas pernas, uma em cima do pára-choque de cada carro e devo ter cochilado, quando acordo com uma gritaria danada, sem entender o que estava acontecendo, abro os olhos e vejo, uma mulher no meio de minhas pernas com as mãos no rosto, não sei se tentando se proteger de algo ou esconder a vergonha; Fechei novamente os olhos e quando abri, ela ainda estava ali, tentei entender o que estava acontecendo. A garota vinha descendo pela calçada e ao chegar ao portão de casa, os rapazes fecharam a passagem para falar com ela, tentou fugir, e entrou entre os carros na esperança de ganhar a rua, justamente onde eu estava sentado. Sem saber o que fazer, eu disse: Oh, nelorão! Sou muito culto em matéria de palavrões, conheço quase todos, fiquei surpreso, ela sabia todos que eu sabia e mais um monte que despejou em cima de mim. Levantei com o dedo em riste, tomei mais uma dose, virei meu copo de cerveja, coloquei o dedo em minha boca e fiz: shhiiiitttttt, vou explicar, ela sem ter para onde fugir, ficou quieta e todos os rapazes também. Vou te ensinar como se escolhe gado: primeiro, você olha a cor branca do nelore, depois o porte elegante, olha as ancas se são proporcionais e acompanha a curva da espinha, se tem bundão e o ubre, tem que ter as tetas lindas, proporcionais e pra terminar, tem que ser muito braba. Pedi licença e sai, dando passagem para ela que me olhou nos fundos dos olhos e disparou: de raça ou vira lata, vaca é a sua mãe. Sorri, pedi desculpas, convidei-a para o churrasco, ela aceitou e somos amigos ate hoje.


Cesão
Enviado por Cesão em 24/07/2012
Reeditado em 24/07/2012
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