MENTIRA TEM PERNAS CURTAS E VEREADOR PAGA MICO
La pelo final da década de oitenta, um dos mais atuantes vereadores de Bom Despacho daquela época, homem íntegro, bem falante amigo de todos, inclusive meu. Cometeu uma pequena gafe que acabou o colocando numa situação um pouco desconfortável. Foi uma simples mentirinha coisa insignificante, nada que o desabone. Ele é um grande cidadão. Acredito que dos mais cinqüenta mil habitantes de nosso município ele não tenha si quer um desafeto. O que ocorreu na época não foi nada grave, nenhuma traição conjugal nada disso. Afinal como diz o ditado quem não bebe não fuma e não mente não é filho de boa gente. E depois a meu ver: (a mentira é o lixo do pensamento/ detrito que a mente expele/, às vezes em algum momento/ ela pode nos salvar a pele!) Foi exatamente o que ocorreu com o nosso amigo.
Ele é bom de papo, espirituoso tem o timbre de voz agradável, e dosado com uma pitada de humor. Nesta ocasião após seu expediente diário, ora na câmara ou mesmo em suas outras atividades cotidianas ele gostava de tomar uma cervejinha com os amigos, coisa sadia e mais do que merecida. Aquela rotina acabou mexendo um pouco com seu brio e o incomodando. Por si próprio ele sentiu pisando na bola com a esposa que o esperava paciente sem nada reclamar. A cada dia uma justificativa diferente era apresentada, ao chegar a sua casa alta hora da noite. Até que um belo dia ele recebeu a solicitação do vigário da paróquia e de um atuante cidadão envolvido com as questões sociais dos conterrâneos menos favorecidos. O nobre comerciante Geraldo Freitas. Para a elaboração de um projeto beneficente ao conselho vicentino, que deveria ser aprovado pela câmara. Perdoei-me o leitor se eu tiver equivocado a respeito deste objeto, o fato é que foi um prato cheio, para o nosso amigo, envolvido diversas noites com essa desculpa. A esposa muito paciente raras vezes o questionava: --projeto demorado este não? – Esta burocracia sabe como é! Respondia ele.
Certa noite, entretido com os amigos no bar, ele não viu as horas passar, e extrapolou um pouco no horário, apanhou um taxe para chegar mais rápido em casa. O carro parou bem a sua porta, ao descer do veiculo, ele, pronunciou alto e bom som: --Oh Freitas ia me esquecendo, por favor, volte à casa paroquial e diga ao padre Henrique para deixar os documentos assinados, conversamos tanta coisa e me esqueci este detalhe... Amanhã bem cedo devo apanhá-los!
Seguro de si ele apertou a capainha de sua residência; adivinha quem abriu a porta? – O próprio padre Henrique! Estava a sua espera com a papelada em mãos. – Mentira tem pernas curtas sabia? – Não padre, a minha-, nem pernas ela tem... Ta andando é de cadeiras de roda!