Coisas de mãe
Maria Osvaldina estava ansiosa para chegar a hora da visita no hospital. Finalmente o relógio marcou três horas da tarde, o recepcionista avisou com um olhar, ela foi até o balcão, apanhou o adesivo que ele lhe entregou, colou em cima da blusa, e dirigiu-se para a ala do hospital, onde ficava a enfermaria onde estava internada sua filha caçula a Sebastiana. Contava os passos para chegar até a sua menina. Caminhava, devagar com cuidado, pois trouxera uns presentes para sua filhinha, que poderiam se estragar, caso andasse depressa demais.
Ao entrar na enfermaria, foi saudada por sua filha mais velha, a Setembrina, que não via a hora de dar o fora do hospital. Estava de acompanhante da irmã, que era especial, e tinha sido internada as pressas, para fazer uma cirurgia de retirada de vesícula. Com sua chegada, e o cheiro maravilhoso que vinha de dentro de sua bolsa, Maria Osvaldina, foi saudada pelas pacientes da enfermaria. Conversou um pouco com a filha, tentando amenizar a dor da Tiana. Ela choramingava baixinho, reclamando: - Quero ir para casa. Quero comida gostosa da mamãe. O que você trouxe para o lanche? A Maria Osvaldina, conseguiu susperar-se no seu zelo de mãe. Retirou da bolsa, um enorme sanduíche de carne assada, recheada com linguiça, abriu uma pequena garrafa de Coca-Cola, e depois ainda mostrou o que daria para sua filhinha amada, recém-operada. Um caldinho básico, feito de aipim e muito camarão fresco, regados a leite de coco.
Quando estava prestes a terminar o horário da visita, chegou o lanche servido para os pacientes. Maria Osvaldina olhou de lado para o pão descorado e o suco de manga, servido em bandeja simples. Esperou a copeira se afastar e retirou tudo da frente de sua filha. Sabia que pelo menos naquele dia ela tinha se alimentado bem, segundo seus conceitos de mãe zelosa.
As pacientes da enfermaria se olhavam pasmas, e não comentavam palavra. Dois dias depois, a Tiana precisou ser entubada, e quinze dias depois veio a óbito. Uma das pacientes que estivera internada na mesma enfermaria, fizera amizade com a Maria Osvaldina e compareceu ao enterro. Ficou ainda mais surpresa, ao ver a pobre mãe, desmanchando-se em lágrimas no enterro da filha. Alguma coisa estranha, havia naquele comportamento. Primeiro, ela preparava um farnel bem pesado e oferecia a filha, como se nem estivesse doente e se recuperando de uma cirurgia, depois chorava copiosamente no enterro. Caminhando por uma das ruas do cemitério quase deserto, ela ouviu algumas frases e conseguiu entender: - A mãe ficou rica, esta filha, era postiça, a velha cuidava dela, desde pequena, ela era especial, agora segundo alguns, a mãe vai herdar uma pequena vila de casas e alguns apartamentos. Os outros parentes preferem assim, já que a finada dava muito trabalho, quando tinha suas crises, e a Osvaldina aguentou firme até o fim.