SEMANA DE POBRE

SEMANA DE POBRE

Era primeira semana de um mês que nem me lembro

mais, e como todos sabem, dia de pagamento de

assalariados, pensionistas, de todas as categorias

trabalhadoras, e como tais, o dinheiro é exatamente

do tamanho do mês, então, temos nossas prioridades,

aluguel, luz, água, e entre elas, a essencial, o mercado.

Todo mundo precisa ir ao mercado, exatamente

nessa semana, ate aí, sem problemas, mas tem os que

fazem disto um passeio familiar, ou seja; esposa, filho

encapetado, filha mais nova chorona e chata, sogra

e a vizinha que tem de aproveitar a carona, marido

depois de um dia de trabalho, todos juntos num velho

chevette fumaçando e, vão pro mercado, na tradicional

semana dos pobres, chamada assim, porque ao terminar

o passeio, terminou também todo provento auferido

durante o mês.

Chevete azul, chegando ao estacionamento, todos

cantando, “Brasília amarela”, soltando fumaça de

óleo queimado para todos os lados, tem que esperar

desocupar uma vaga, mas não pode desligar o carro

porque depois pode dar trabalho para ligá-lo e, o fumassê

é maior que veneno da dengue, finalmente, encosta e o

marido fica fazendo rampa ate a esposa conseguir calçar

a roda, para ficar seguro, freio de estacionamento não

funciona e primeira marcha, o motor tá tão frouxo que

nem para sair serve... só de segunda.

Todos descem do carro, felizes, até então tudo dando

certo, cada um à entrada do mercado pega um carrinho e

finalmente, todos às compras, o pai passa pela geladeira

de cerveja, reclama que a lata de boemia está quente,

como se tomasse todos os dia, pega sua skol e se dirige

ate a gôndola de bebidas, onde pega duas garrafas de 51

e um fardo de latinhas da cristal, já bebendo sua redonda,

sai a passear pelo mercado a olhar a seção de peças

de carro e fica admirando as bundas das freguesas, já

comprou o que precisava.

A garota, passa pela seção de brinquedos e pega uma

Barbie, das mais completas e caras, e sai a brincar pelo

mercado, como se já fosse sua; O garoto vai aos frios

e pega um yakult, abre e começa a beber, não gosta e

devolve, pega um danone, também não gosta do sabor

e devolve, após umas cinco provadas, decide tomar

um chambinho, e finalmente sai em disparada pelos

corredores e acerta meu calcanhar, que vontade dar

umas palmadas nele e um pau no pai, mas me contenho.

Sua sogra, passa pelo açougue e após muito assuntar o

funcionário, sobre preço e qual a melhor carne, compra

meio kilo de patinho moído duas vezes, para fazer uma

macarronada no domingo, depois pega um pacote de

bolacha de maisena, um sabonete, uma lata de leite

moça para o pavê e sai a passear com o carrinho pelos

corredores do mercado, olhando preços e exclamando;

quem tem coragem de pagar tudo isto nesta bobagem...

A esposa se incumbiu de fazer a dita despesa do mês,

sem calculadora, sem uma lista com os produtos,

confiante na experiência do saber o que é necessário,

alimentos, limpeza, higiene, e os supérfluos, estes ficam

sempre por último. Compra feita, sai a procurar as

crianças, que correm pelos corredores, fazendo a maior

bagunça, machucando os que não prestam atenção nelas.

Enfim, localizadas, pergunta se viram o pai, a menina

diz que não, e o garoto diz que o pai está lá no canto,

falando com uma boazuda. A mãe corre em disparada,

para pegar seu homem, nenhuma sirigaita ia tomá-lo

dela. Felizmente, a boazuda não está mais lá, então não

teremos barraco. Todos reunidos, menos a vizinha que

encontrou uma amiga, pararam seus carrinhos fechando

o corredor para prosear, esquecendo a hora. Sua despesa

está atrasada, vão todos para a fila do caixa, a mãe vê

a filha com uma boneca, toma-a e manda o garoto ir

colocar de volta na gôndola, o brinquedo aberto e agora

sujo do manuseio.

O garoto grita que não vai; ela que pegou, ela que

devolva, o pai da-lhe um cascudo e grita: - obedece tua

mãe, o moleque abre a boca num choro histérico e grita

que não vai, a mãe vira p’ro pai e grita, já falei procê num

bater nele, cê num sabe se ele é seu filho!

O pai desconcertado larga as duas crianças berrando

na fila, sai com a boneca e a devolve na primeira

prateleira vazia que encontrou. A sogra passa primeiro,

menos “trem” e depois passa o pai, sem pagar o que

foi consumido e finalmente, a esposa com as compras,

aquele mundão de “trem”.

Tudo registrado, o pai ajudando a embalar aproveita e

esconde sacolas vazias para depositar o lixo de casa, a

caixa apresenta o valor, o pai grita! Se num fez as contas,

o cheque é menor que esse monte de troços, a mãe sem

se perturbar, vira para caixa e diz: - temos que devolver

um tanto, até dar o valor do cheque, a caixa por sua vez

diz; - o cheque é cadastrado? Se não for, não passa, então

orienta o pai a ir até o caixa central cadastrar o cheque,

enquanto isto, a mãe vai escolhendo o que vai devolver,

mas a cerveja e a pinga, não! O marido já disse que não

devolve... A caixa, acaba por ter uma queda de pressão

pelo ocorrido, também ao ver a fila crescendo, um corre

corre e, a supervisora assume seu lugar, manda abrir

outro caixa para dividir a fila e, finalmente tudo resolvido.

Se encaminham para o carro aos berros e se culpando,

mas ainda não podem ir embora, tem que esperar a

vizinha, que também não tinha calculadora e tava com

cheque...

Cesão
Enviado por Cesão em 21/07/2012
Reeditado em 21/07/2012
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