TEOBALDO E O PEQUENO SÁBIO
TEOBALDO E O PEQUENO SÁBIO
Numa feita o senhor Teobaldo saiu de casa e disse que não voltaria mais. Sumiria para o mundo. Covardemente falava que não daria nem notícias. E até tentou. O motivo era sua extrema pobreza. Disse que não aguentava mais. Tinha sete filhos pra sustentar, e uma esposa.
Dona Margarida além de cuidar dos filhos pequenos ainda lavava roupas para alguns rapazes que paravam numa república. Ali ela podia tirar um dinheiro que daria pra ajudar o marido reclamão. Esta pelo contrário, sempre dava graças pelos filhos saudáveis, pelo alimento, pela roupa...
Um dia bem de madrugada Teobaldo encilhou o zaino, pegou a roupa e arrumou num alforje e colocou na garupa. Vestido com uma capa gaúcha saiu sem se despedir. Mandou-se estrada à fora, deixando os seus tristes e decepcionados. Andou mais ou menos dez quilômetros e parou pra descansar. Foi surpreendido com a chegada de um menino que queria lhe vender uma setra.
- Tio, compre esta setra, preciso de dinheiro pra comprar comida.
- Não me incomode guri. Não tenho dinheiro e isso não me interessa.
O menino alegre, cantando e dançando apesar da pobreza aparente. O homem simpatizou como ele, porque se parecia com um dos seus filhos.
- Como é o nome do senhor? – Perguntou o garoto.
- Meu nome é Teobaldo, mais conhecido como Teo.
- Estão posso chamar o senhor de Teo?
- Pode sim.
- Pra onde pretende ir, senhor Teo?
- Nem eu sei, rapaz. Sou homem muito pobre e estou indo embora, mas saí sem destino. Vou procurar trabalho nas fazendas, nos sítios e chácaras. É o que eu sei fazer. Simplesmente quero ficar longe da minha família, porque não suporto vê-la na miséria. Saí de casa sem me despedir. Eles devem estar muito preocupados comigo. Até chorando, mas não volto atrás.
- Mas por que o senhor é tão covarde, seu Teo? – Disse o menino com uma certa revolta. Vamos ver se muda de ideia. Quantos filhos o senhor tem?
- Sete filhos.
- Quando que eles foram pra cadeia?
- Que pergunta, guri! Meus filhos são pobres, mas nenhum deu ladrão ou criminoso.
- Sua esposa já lhe...
- Não quero saber mais de interrogação, seu moleque. Já chega! – Interrompeu Teobaldo.
- Agora o senhor tem que me ouvir. Vamos analisar juntos. Acho que já somos amigos, né.
- Analisar o que? Você é psicólogo, ou que?
- Não Sr. Teo. – Respondeu o pequeno sábio. - Apenas gostaria de conversar e ver se volta a sonhar. Com certeza já fez isso. Tem que sonhar com uma família feliz e próspera. Agora pense comigo.
- Pode falar meu filho. – Respondeu o homem interessado na análise do pequeno.
- Primeiro: Sua esposa é fiel ao Senhor e grata a Deus e à vida. Segundo: Seus filhos são honestos e nenhum deu bandido. - Terceiro: O senhor tem boa saúde. A última pergunta vou fazer agora. Se eu tivesse dinheiro e quisesse comprar um dos seus filhos, por quanto me venderia?
- Aí você apelou! Que tipo de pergunta. Não venderia por dinheiro algum. – Disse o homem surpreso.
- Está explicado senhor Teobaldo. Quem disse que o senhor é pobre miserável? Nunca mais fale isso que ofende a Deus. O senhor tem uma riqueza que vale mais que o mundo inteiro.
Enquanto o pequeno sábio falava, Teobaldo chorou. Repensou e decidiu:
- Você tem razão meu filho. Não foi por acaso que lhe encontrei aqui. Vou voltar pra casa, cuidar da minha família linda. Amar minha esposa e valorizá-la mais, que até hoje não lhe dei valor algum. Você me abriu os olhos.
Nesse momento os dois se abraçaram e começaram a rir. De repente o menino começou a cantar e a dançar. O homem o acompanhou. Cantavam e dançavam não se importando com quem vinha por aquela estrada. Os dois de mãos dadas dançando e cantando:
- Se esta rua se esta rua fosse minha / Eu mandava eu mandava ladrilhar / Com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes / Só pra ver só pra ver meu bem passar...
Depois desse episódio o homem só queria viver e garimpar o que é bom da vida. Aprendeu com o pequeno sábio que a alegria é a força que move e conduz à felicidade. Aprendeu a grande lição com o menino que apesar de pobre era risonho, feliz e com muita sabedoria.