Maldição malígrina!
Quatro e meia da tarde era a hora de buscar os cavalos no pasto, porque se deixássemos para pegá-los mais tarde, poderia escurecer e dificilmente conseguiríamos apanhá-los. Os animais eram ariscos e de difícil abordagem.
Essa era a nossa tarefa, a mais espinhosa, porque éramos os mais jovens e por isso mesmo cheios de espinhas nos rostos. Tarefas espinhosas para os espinhentos.
Voltamos suados e cansados de subir morros atrás dos animais, mas cumprimos nossa missão. Quando retornamos, meus dois irmãos mais velhos e um primo já estavam de banhos tomados, perfumados e com cabelos engomados com gumex. Logicamente eles não iriam arriar os animais, seria pedir demais. Pra quem sobrou? Pros espinhentos, naturalmente. Lá fomos nós selar os três cavalos, a égua e a besta. Outra canseira e mais suor.
Quando terminamos nosso banho e fomos jantar, já estava escurecendo. não vimos mais meus dois irmãos e o primo, já haviam saído para a cidade onde haveria o baile da festa da padroeira. Tudo bem, estávamos acostumados a ir sozinhos, afinal os mais velhos não faziam nenhuma questão da nossa companhia. Eram de outra patota, e pensando bem, era melhor assim, estava cansado de ser explorado por eles.
Jantamos devagar, curtindo o sabor da galinha ao molho pardo, moendo com os dentes a pele de porco crocante e a farofa feita com ovos mexidos e cebolas fritas. Uma gostosura de jantar que a Delmira preparara.
Delmira era mulatinha de cabelos lisos, uma cafuza abusada, de modos atrevidos e língua afiada, sabia provocar aos homens da casa com gestos e brincadeiras jocosas, deixando de fora as coxas bem torneadas e os seios pontudos. Mas parava por aí, não permitia que ninguém da casa ultrapassasse os limites. Uma dessas provocações ficou evidente quando estávamos sozinhos e ela percebeu que eu não tirava os olhos dos seus seios, então ela chegou bem pertinho de mim, deixou que o decote se abrisse e quando eu já me preparava para dar o bote, ela pulou para traz, riu e fez um gesto como se eu fosse me masturbar. Gostosinha e abusada.
Quando terminamos o jantar, meu irmão Dodô foi ao banheiro e me pediu para retirar os animais do curral e deixar em frente da casa para agilizar nossa saída, afinal, até chegar à cidade ainda teríamos uma marcha de mais ou menos uma hora.
Estava muito escuro na área do curral. Quando lá cheguei, onde estavam os animais? Rodeei a casa, fui até ao outro lado do pátio onde se concentravam as vacas para a ordenha, e nada. Será que os cretinos levaram os animais para o terreirão de secagem do café? Foi aí que percebi que os arreios estavam expostos sobre uma laje de pedra em forma de mesa. O sangue tomou conta do meu rosto, as espinhas pareciam querer pipocar na minha face e explodi:
- Bando de filhos das putas, cretinos!
Nesse momento é que percebi que o meu sapato brilhante e escovado para a festa, tinha se afundado na bosta da vaca...
Dodô gritou lá do outro lado da casa, impaciente com a minha demora, cheguei logo em seguida sem os animais e com o pé cheio de merda.
Expliquei a ele a situação e dividi a minha indignação.
Dodô era mais novo do que eu, mas desde pequeno demonstrava ser equilibrado e ponderado, muito diferente de mim, explosivo e pavio curto.
De repente senti que ele tinha tomado conta da situação, não deu margens para que eu continuasse resmungando e passou a dar as ordens:
- Já que você vai ter que tomar banho mesmo e trocar de roupas e sapatos, aproveite, tire os sapatos e a calça e vá procurar os animais.
- Com essa escuridão?
- Para que serve a lanterna?
- Vá logo antes que eles se dispersem por esse morro afora. Vou separar suas roupas e sapatos para trocá-los.
Saímos, eu, minha indignação e a lanterna à procura dos animais.
Bem atrás do pomar encontrei a égua que era dócil e consegui sem demora encabrestá-la. Subi nela em pelo e fui subindo o morro da cachoeira em busca do segundo animal, mas estava muito escuro, o facho de luz da lanterna pequeno e insuficiente para iluminar a nossa frente e fiquei com medo de prosseguir. Resolvi retornar porque descer morro montado em um animal, no escuro, é temeridade. Afinal, poderíamos ir nós dois, eu e Dodô na égua, um iria na garupa e o outro na sela. Na volta inverteríamos, quem fosse na sela voltaria na garupa. Assim nós fizemos, eu fui na sela e Dodô na garupa, bem forrada com uma manta.
No caminho, ainda indignado pela sacanagem que nos fizeram, tentei pensar no troco que poderíamos dar. Nós éramos rapazolas, eles já adultos, não tinha como fazer uma desforra física. Isso nem pensar.
Quando chegamos na cocheira para deixar os animais, lá estavam os nossos dois cavalos e a besta. Naquele instante, como se uma luz brilhasse para nós dois, veio em pensamento o que deveríamos fazer.
A besta durante muito tempo foi usada junto com outras bestas para levar latões de leite, da fazenda para a Cooperativa e sabia retornar sozinha para a fazenda. Não precisei dizer nada ao Dodô, amarrei um dos cavalos no arreio da besta, dei-lhe uma chicotada e gritei, vá pra casa!
Em seguida levamos nossa égua e o outro cavalo para outra cocheira distante e fomos aproveitar a festa, sempre com o cuidado de não sermos vistos por eles.
Os três só chegaram em casa com o dia feito, todos suados, cansados e com os pés sujos de bosta de bois.
Como dizia o Chico Anísio, a nossa maldição foi malígrina!
Quatro e meia da tarde era a hora de buscar os cavalos no pasto, porque se deixássemos para pegá-los mais tarde, poderia escurecer e dificilmente conseguiríamos apanhá-los. Os animais eram ariscos e de difícil abordagem.
Essa era a nossa tarefa, a mais espinhosa, porque éramos os mais jovens e por isso mesmo cheios de espinhas nos rostos. Tarefas espinhosas para os espinhentos.
Voltamos suados e cansados de subir morros atrás dos animais, mas cumprimos nossa missão. Quando retornamos, meus dois irmãos mais velhos e um primo já estavam de banhos tomados, perfumados e com cabelos engomados com gumex. Logicamente eles não iriam arriar os animais, seria pedir demais. Pra quem sobrou? Pros espinhentos, naturalmente. Lá fomos nós selar os três cavalos, a égua e a besta. Outra canseira e mais suor.
Quando terminamos nosso banho e fomos jantar, já estava escurecendo. não vimos mais meus dois irmãos e o primo, já haviam saído para a cidade onde haveria o baile da festa da padroeira. Tudo bem, estávamos acostumados a ir sozinhos, afinal os mais velhos não faziam nenhuma questão da nossa companhia. Eram de outra patota, e pensando bem, era melhor assim, estava cansado de ser explorado por eles.
Jantamos devagar, curtindo o sabor da galinha ao molho pardo, moendo com os dentes a pele de porco crocante e a farofa feita com ovos mexidos e cebolas fritas. Uma gostosura de jantar que a Delmira preparara.
Delmira era mulatinha de cabelos lisos, uma cafuza abusada, de modos atrevidos e língua afiada, sabia provocar aos homens da casa com gestos e brincadeiras jocosas, deixando de fora as coxas bem torneadas e os seios pontudos. Mas parava por aí, não permitia que ninguém da casa ultrapassasse os limites. Uma dessas provocações ficou evidente quando estávamos sozinhos e ela percebeu que eu não tirava os olhos dos seus seios, então ela chegou bem pertinho de mim, deixou que o decote se abrisse e quando eu já me preparava para dar o bote, ela pulou para traz, riu e fez um gesto como se eu fosse me masturbar. Gostosinha e abusada.
Quando terminamos o jantar, meu irmão Dodô foi ao banheiro e me pediu para retirar os animais do curral e deixar em frente da casa para agilizar nossa saída, afinal, até chegar à cidade ainda teríamos uma marcha de mais ou menos uma hora.
Estava muito escuro na área do curral. Quando lá cheguei, onde estavam os animais? Rodeei a casa, fui até ao outro lado do pátio onde se concentravam as vacas para a ordenha, e nada. Será que os cretinos levaram os animais para o terreirão de secagem do café? Foi aí que percebi que os arreios estavam expostos sobre uma laje de pedra em forma de mesa. O sangue tomou conta do meu rosto, as espinhas pareciam querer pipocar na minha face e explodi:
- Bando de filhos das putas, cretinos!
Nesse momento é que percebi que o meu sapato brilhante e escovado para a festa, tinha se afundado na bosta da vaca...
Dodô gritou lá do outro lado da casa, impaciente com a minha demora, cheguei logo em seguida sem os animais e com o pé cheio de merda.
Expliquei a ele a situação e dividi a minha indignação.
Dodô era mais novo do que eu, mas desde pequeno demonstrava ser equilibrado e ponderado, muito diferente de mim, explosivo e pavio curto.
De repente senti que ele tinha tomado conta da situação, não deu margens para que eu continuasse resmungando e passou a dar as ordens:
- Já que você vai ter que tomar banho mesmo e trocar de roupas e sapatos, aproveite, tire os sapatos e a calça e vá procurar os animais.
- Com essa escuridão?
- Para que serve a lanterna?
- Vá logo antes que eles se dispersem por esse morro afora. Vou separar suas roupas e sapatos para trocá-los.
Saímos, eu, minha indignação e a lanterna à procura dos animais.
Bem atrás do pomar encontrei a égua que era dócil e consegui sem demora encabrestá-la. Subi nela em pelo e fui subindo o morro da cachoeira em busca do segundo animal, mas estava muito escuro, o facho de luz da lanterna pequeno e insuficiente para iluminar a nossa frente e fiquei com medo de prosseguir. Resolvi retornar porque descer morro montado em um animal, no escuro, é temeridade. Afinal, poderíamos ir nós dois, eu e Dodô na égua, um iria na garupa e o outro na sela. Na volta inverteríamos, quem fosse na sela voltaria na garupa. Assim nós fizemos, eu fui na sela e Dodô na garupa, bem forrada com uma manta.
No caminho, ainda indignado pela sacanagem que nos fizeram, tentei pensar no troco que poderíamos dar. Nós éramos rapazolas, eles já adultos, não tinha como fazer uma desforra física. Isso nem pensar.
Quando chegamos na cocheira para deixar os animais, lá estavam os nossos dois cavalos e a besta. Naquele instante, como se uma luz brilhasse para nós dois, veio em pensamento o que deveríamos fazer.
A besta durante muito tempo foi usada junto com outras bestas para levar latões de leite, da fazenda para a Cooperativa e sabia retornar sozinha para a fazenda. Não precisei dizer nada ao Dodô, amarrei um dos cavalos no arreio da besta, dei-lhe uma chicotada e gritei, vá pra casa!
Em seguida levamos nossa égua e o outro cavalo para outra cocheira distante e fomos aproveitar a festa, sempre com o cuidado de não sermos vistos por eles.
Os três só chegaram em casa com o dia feito, todos suados, cansados e com os pés sujos de bosta de bois.
Como dizia o Chico Anísio, a nossa maldição foi malígrina!