O bacalhau do Ataíde
O bacalhau do Ataíde
Maju Guerra
Ele já entrou em casa perguntando:
- Mulher, cadê o embrulho que deixei atrás da estante?
Ela respondeu:
- Um embrulhado em papel azul?
Ele disse:
- Esse mesmo.
- Joguei fora, estava no lugar errado.
- Mulher, eu não acredito!!?!! Você jogou fora o bacalhau norueguês dos bons que o Ataíde pediu pra eu guardar. Era pra ser a surpresa do jantar de aniversário da D. Santinha!
- E eu com isso? Você não me avisou, está lembrado? Posso garantir que dos bons ele não era, nem cheirar ele cheirava, daí eu ter jogado fora. Além do mais, não devo nada pro rei da Noruega.
- E o que eu falo pro Ataíde?
- Fala a verdade, ora, ora. O bacalhau era uma droga, norueguês não era mesmo, devia ser chinês, como tudo mais. Eu fiz foi um favor pro Ataíde, ele ia passar vergonha, pode escrever.
O marido não disse mais nada. Quando ela virava dona da verdade, era melhor se fingir de surdo. No dia seguinte, resolveria o caso do bacalhau do Ataíde.
Maria Julia Guerra.
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