O POLICO NO VELORIO
É comum presenciarmos os velórios sendo alvos de políticos, em suas campanhas eleitoreiras. Às vezes eles visitam falecidos que não tem nada a ver com a sua linhagem social, e que em vida tanto o falecido quantos seus familiares nada representaram a eles. Dia destes estávamos no velório de uma amiga e conterrânea, um político aproximou-se me perguntando se a falecida era minha conhecida, e pediu-me para detelhar a biografia daquela família para que ele pudesse prestar-lhes uma homenagem. Simplesmente o respondi; - você não acha este momento muito impróprio para fazer campanha política meu amigo? Você si quer conhece alguém nesta família e está querendo tirar proveito político? Ele deu meio volta e saiu sem entrar no velório.
E baseado neste fato eu escrevi o conto a seguir. “Usando o personagem fictício intitulado: ZECA CAFÉ”
Zeca foi um matuto que mal assinava o nome, alfabetizado ecologicamente por si próprio, na sua vivência cabocla utilizando os métodos oferecidos pela natureza. Um autodidata mateiro muito prestativo, com seu linguajar caipira.
Da cor de café com leite, mais café do que leite, pele de índio lustroso quase sem barba. Conhecido a principio como Zeca do café com leite, não pela cor da pele, mas pela cordialidade oferecendo café com leite aos inúmeros visitantes que o procuravam em busca de uma erva ou raiz na cura de um mal qualquer, ou até mesmo em busca de um conselho para as pendengas travadas entre os matutos sertanejos. O que o tornou uma referencia.
Acabou famoso com sua marca registrada por ser um caipira bonachão. Nas redondezas não havia si quer uma vivalma que não provara o delicioso café com leite oferecido pelo Zeca.
No decorrer do tempo eliminou-se o leite, ficando apenas o Zeca do café. O homem entendia de tudo um pouco, bom conselheiro, castrador de animais de mão cheia, benzedor de mau olhado, mordida de cobra, quebrante e ventre virado.
Curava também o terrível mal de pneumonia com a técnica da caneca incandescente. Ele fez tudo de bem, naquele imenso sertão sem eira nem beira. Curou uma legião de sertanejos, com sua biologia herbácea, mas não pode curar sua velha Donana como era chamada sua querida esposa.
Muito comovido acompanhado dos filhos e uma multidão de sertanejos seus fãs, foram velar a esposa no velório recém construído pela prefeitura da cidade, cujo município abrangia aquele imenso sertão.
Era o primeiro falecimento ocorrido após a construção do velório pela prefeitura, uma bela obra para aquela cidade de pequeno porte. Eufórico o prefeito que cogitava sua reeleição, aproveitando a oportunidade decidiu promover um evento na inauguração do velório. Baixou um decreto que no primeiro falecimento ocorrido na cidade seria promovido tal evento. Mesmo que necessário fosse, contrariar a vontade dos familiares do primeiro falecido que se dispusesse a utilizar aquele funestário.
Quando soube do falecimento da velha Donana, convocou a população que compareceu em massa, atraída pelo sorteio de um tumulo de mármore patrocinado por ele.
Deveria ter sido mais precavido tomando pé da situação, pelo menos conhecendo os familiares da falecida, mas deixou tudo a cargo de sua acessória que lhe repassou as informações biográficas exatas. E por um descuido ele trocou as bolas, e com isso acabou pagando mico.
Zeca do café quando viu a multidão de gente que adentrava o velório comentou com os filhos – Cêis sabe duma coisa fiíis, tem carqué durda me azucrinano o miolo, a mãe doceis era pessoa ispiciar, mais esse tantão de gente ta mim incucando! Nois é cunhicido é dus povo dus mato na cidade nois quais nunvem mode atrai ês povareu tudo!
Chegada à hora do sepultamento La estava inerte no caixão a pobre Donana. De pé ao seu lado muito chorosa vestida de preto sua única irmã com o rosto quase coberto, lamentando sua perda. O caixão era de uma pobreza que dava dó, um pano preto muito ralo quase transparente mostrando a silhueta irreconhecível da falecida. O prefeito já com o seu discurso decorado para o momento começa sua fala enaltecendo a trajetória da vida de Zeca do café, com tamanha perspicácia que deu a impressão ser ele seu irmão. Julgando ser ele o falecido, fazendo referencia aquela pobre senhora que em vigília mantinha-se de pé ao lado do caixão da irmã, afirmando que criaria um fundo de pensão para a pobre viúva, pois jamais iria abandoná—la e o nome do falecido Zeca seria perpetuado numa placa comemorativa como o primeiro privilegiado a jazer naquele velório. Suas lágrimas são lágrimas de gloria minha cara senhora por que teu marido será compensado, por que faleceu em boa hora, ele que doou tanto café com leite para os sertanejos agora terá sua recompensa no reino de Deus e descansará em paz vendo seu nome perpetuar neste velório!
De olhos arregalados Zeca interrompeu seu discurso -- Ispera ai dotô prefeito! Sor nun ta inganado não sô? Essa muié ai é a bastiana minha cunhada, e ieu num murri inda não! A morta é minha veia Donana! Da pu sor ispricá mió, qui mixida é essa, ieu passei infomção pu puxa saco qui ta ai no seu lado, mais num dei torização mode oceis fazê campanha pulitica cum a dor de meus fiii não! Nem dei orde Del falá cu defunto aqui era ieu-, uai! Popará quessa dimagugia besta, nois semu caipira ma nois tem primcipo e dignidade vai fazê campaim Ca mãe dos seus fiis ôh intonse cassua propa sô! Tá qureno trepá inriba da disgraça do zôto né bebé! Mamá na vaca cê num qué?