Conto de Minas

É lá na grota. No povoado da Mutuca, terras léguas a sul. Lugar remoto. De pouca gente ir. Lar de homem bruto e trabalhador, lavrador de terra fértil. Mas lá, na grota, era um dia diferente. Chegára da capital, distante quinze léguas, uma carta de remetente importante. Era o tal Senhor Melo e Gomes, fazendeiro importante e maior detentor de terras. Terras vastas de um homem só. No sul da cordilheira, ali conhecido como vale da Mutuca, o então Senhor Melo e Gomes mandava e desmandava, e mandara através da carta, avisar que um tal de Nhô Binhozinho, devia de selar divida antiga, e que por força maior de saúde em tempo remoto, não tinha de sido paga até os dias de então, quando dessa estória. O Nhô Binhozinho, era um homem já de idade, beirava os setenta, e já num tinha saúde boa para o trabalho. Se arranjava na mendicância, assim como a maioria do miserável lugarejo. Senhor Melo e Gomes, parecia pelo visto bravo por motivo desconhecido. O pobre Nhô Binhozinho, não tinha feito nada por demais, e sua divida, tinha sido por motivo de trabalho. Dinheiro ganho sem trabalho suado. Nos desencontros casuais, Senhor Melo e Gomes apareceu como se fosse banco. Emprestava em sonho, cobrava em pesadelo.

A carta era mais conhecida que cristo no povoado, e o povo em agito de susto, desajeitou a arrumar idéia despensada, e numa delas um silêncio surgiu em meio à poeira que subia na porta do pobre Nhô Binhozinho. Maria Preta rezadeira de vela acesa, disse que a solução, podia de ser se viajar lá pro ‘Peixe’, o lugarejo das almas, que distava dias de travessia dura, mas que traria o sossego do esconderijo escondido naquele lugar remoto. Foi então que se apeou logo o único cavalo em condição de partir para longa travessia da cordilheira, em dias de subida e descida pela quartzítica chã. Lá no vale, o calor do meio dia do sol de janeiro, já fazia o povo querer se aquietar em baixo de frondosa sombra.

Em casa, Nhô Binhozinho, véio já de aventura, não quis saber de deixar a casa, nem de ir pra ‘peixe’ nenhum. Conhecia bem o tal Cemitério do Peixe, tinha ido lá na infância, mas de anos já não ia, muito por causa de sua cansada saúde, e pela lonjura de travessia. Caminho era comprido, devia de ter mais de vinte e cinco léguas, e podia ser feito de três modos. Um beirando o lado do sertão, a sotavento da brilhante cordilheira, era por volta de seis dias de caminhada beirando-a, e dois de travessia. Havia outro, mais longe, e mais difícil, que era o do Mato Dentro, que já se ia do lado do ‘peixe’, a barlavento, onde o sol nasce cedo, e o vento úmido do longínquo oceano, esbarra na testa de quem sua ao longo do dia. Contraste de umidade, o caminho do Mato Dentro, era mais difícil por causa das chuvas naquela época do ano. Barro e lama por demais, melhor seria mesmo, ir por dentro da cordilheira. Indo pelo alto, o caminho era mais tranqüilo, menos engenhoso, mas, porém mais montanhoso. Era por volta de seis dias de travessia pesada, e pela idade e saúde, era perigosa e cansativa para Nhô Binhozinho, e teve de ser deixado de lado. Se a viagem fosse feita, tava já decidido, ia ser feita pelo sertão. Mas Nhô Binhozinho tinha já decido, e já velho dizia que não temia o Senhor Melo e Gomes, e que se tivesse de sair da terra, sairia honrando-a em gratidão
Pontinha
Enviado por Pontinha em 22/06/2012
Código do texto: T3738338
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