Um choque

Aconteceu há muito tempo. Já faz quase uma hora e meia. Eu não tinha nada para fazer, mas nada mesmo. As vizinhas não podiam brincar comigo; as bonecas podiam, mas eu não gostava, porque sempre sabia o que elas iam dizer depois.

Não dá pra brincar de bola sozinha. Nem de pega-pega. Nem de esconde-esconde ou um jogo qualquer. Não me deixaram pular na cama da minha mãe. Então o que eu podia fazer? Minha mãe queria que eu assistisse televisão. Até parece! Os programas repetem tanto que eu já decorei todos. E só tenho seis anos.

Tinha que ser uma coisa diferente.

Fui lá pra fora. O quintal de casa é fininho e comprido, com uns tijolos vermelhos no chão. Parece uma chaminé deitada. Olhei em volta procurando qualquer coisa legal. Vi um arame... e uma tomada.

Uma luzinha acendeu em cima da minha cabeça , que nem naqueles desenhos animados. Viviam dizendo: ”Não ponha o dedo na tomada!”. Eu não gostava de desobedecer aos adultos, mesmo querendo saber o que acontecia. Mas eles não deixavam por o dedo na tomada. Não diziam nada sobre arames.

Dobrei o que eu tinha achado em forma de “U” e, segurando os dois lados do arame, coloquei-os direto nos buraquinhos da tomada.

Vuuuuuush! Fui parar do outro lado do corredor, sorte que era perto. Não me lembro muito bem dos acontecimentos que se seguiram até que eu vim escrever essa história impressionante (porque eu realmente não estava muito bem), mas minha mãe diz que eu entrei, branca feito um lençol, dizendo: ”Eu vou assistir televisão”.