O causo dos Infartados - II
Sempre se fala de causo de cemitério e todas essas coisas relacionadas com os mortos. Acontece que ninguém dá muito crédito para essas histórias, mas elas são verídicas porque foram contadas para os filhos e aos filhos dos filhos.
Esses causos aconteceram um de cada vez em intervalos de alguns anos, e é por isso que não se deve ir ao cemitério sozinho de noite ou de dia, ou com a cabeça já cheia de medo e pensando bobagem quando se entra lá.
O segundo causo aconteceu com o Angelin.
O Angelin era jagunço do Paraná que vinha para a Campina visitar a segunda família. Vinha todo dia 15 de cada mês e ficava até o dia 30, quando então voltava para o Paraná com a primeira família. Nenhuma das famílias sabia da outra e achavam que os 15 dias passados fora de cada casa era por motivo de trabalho, como ele mesmo dizia. Nunca se soube do que vivia, mas relacionavam a chegada dele com alguma morte que acontecia na região.
Aconteceu num inverno, Angelin vinha de viagem para a Campina e estava usando uma daquelas capas pretas que cobrem as ancas do cavalo até quase o chão. É uma visão horrível de se ver, e vinha ele todo contente e faceiro com presentes para as crianças quando desabou uma tremenda tormenta. Ventava muito, ele teve que tirar o chapéu da cabeça para que não voasse longe e resolveu procurar um abrigo.
Como estava perto do cemitério, entrou. Não queria abandonar o cavalo e procurou uma árvore frondosa em que estariam protegidos. O Angelin não tinha medo das coisas do outro mundo e nem de ninguém e andava sempre com o facão nas costas e a garrucha na sela do cavalo, de modo que ficar no cemitério ou na prefeitura era a mesma coisa.
Num determinado momento o cavalo se assustou com alguma coisa e a ponta da capa do Angelin se prendeu entre um túmulo e sua tampa.
Quando a chuva acalmou, Angelin resolveu partir e deu uma esporeada de leve no cavalo que logo iniciou sua marcha, mas alguma coisa segurava o Angelin que parou o cavalo imediatamente pois não conseguia se soltar.
Não olhou para trás em nenhum momento com medo das forças ocultas que o padre Dilso diz que tem no cemitério quando se entra lá sozinho de noite ou de dia. De tanto puxar a capa, foi ficando nervoso, cada vez mais agitado, exasperado com a situação, que pulou do cavalo de vereda e tentou travar uma luta corporal com o inexplicável, sem olhar para trás. Mas a ânsia foi tão grande, o coração martelando no peito, o desespero tão alucinante que Angelin quedou ali infartado. Foi fulminante.
No dia seguinte, a viúva da Campina, veio fazendo o caminho de volta, pois lá havia chegado o cavalo sem o dono, e o encontrou dentro do cemitério, debaixo de uma árvore, jazido ali mesmo do lado da sepultura de um polícia, o Angelin, todo enrolado na sua capa e morto.