O VIGILANTE QUE NÃO MERECIA SER CORNO



Arnaldo era vigilante noturno de uma grande empresa. Responsável pela sua guarda das dezoito, às seis horas da manhã. Quando chegava a sua casa não encontrava a esposa. Ela já havia saído voltando La pelas oito ou nove horas, conseguia sempre lhe apresentar uma boa justificativa. Muitas das quais era o pernoite com o seu consentimento, numa maternidade como voluntária, onde afirmava estar ajudando as mães carentes que ali eram atendidas. Noutras dizia ter ido à padaria ou a farmácia. Mal sabia ele que a maternidade era apenas uma desculpa para suas escapadinhas extraconjugais. Casado com Marisa há quase uma década, ela nunca engravidou. Ele a cobrava constantemente um filho ou filha. Não importa qual fosse o sexo, o importante era o carinho que ele sempre guardava para o fruto deste seu amor. Mas ela atribuía o fato como uma anomalia familiar afirmando ser um problema hereditário uma vez que a mãe só lhe gerou após um longo tratamento, sendo ela filha única. Ele tentava convencê-la a se submeter a um tratamento, ela nunca concordou.
Seu patrão era um empresário bem sucedido, seu amigo de infância o considerava como irmão. Logo percebeu que algo não estava muito bem, Arnaldo andava cabisbaixo e tristonho seu sorriso já não tinha mais o brilho de antes. Preocupado ofereceu a ele tirar umas férias e fazer uma viagem, talvez a uma estância qualquer, mas ele recusou alegando que jamais deixaria de trabalhar para curtir férias, uma vez que seu trabalho não exigia esforço físico e não seria necessário tal descanso.
Alguns dias após, Joel o patrão o procurou pela manhã, dizendo que na maternidade havia ocorrido um acidente naquela madrugada, uma máquina te torcer roupas arrancou a mão de uma voluntária, sendo que a mesma necessitava de sangue universal, talvez ele pudesse doar uma vez que era seu tipo sanguíneo.
Arnaldo gelou ao receber a noticia, ao sair de casa na tarde do dia anterior despediu de Mariza, ela afirmando que iria dar plantão na maternidade naquela noite. Sem nada comentar ele apanhou seu carro e foi direto ao seu encontro, durante o trajeto mil coisas passou em sua cabeça, mas uma única esperança o confortava seu tipo sanguíneo não era universal como afirmou seu patrão. Deveria ser de fato outra voluntaria. O que o tranqüilizou ao constatar que realmente se tratava de outra pessoa. Fez seu gesto humanitário doado seu a sangue à desconhecida, e após procurou por Mariza para levá-la com ele para casa, ninguém deu noticias. Ele estranhou a maternidade não era assim tão grande ao ponto de não se conhecerem uns aos outros.
Chegando a casa a mulher estava com o café à mesa e seu banho já preparado, e o recebeu com um lindo sorriso, de forma tão carinhosa, fazia tempos que isto não ocorria. Ele ficou intrigado com aquela cordialidade. E para complicar ainda mais a situação ela disse: - amor você não imagina como lá maternidade hoje a coisa está complicada, são poucas as voluntárias, se você não se importar vou ter de ajudar todas as noites, pelo menos por algum tempo, aquelas pobres mulheres precisam demais de apoio, falta quase tudo, temos que nos desdobrar nas lavagens das roupas que são muitas, e as doadoras de mão de obra em sua maioria se afastaram! –Tudo bem querida faz como melhor te convier-, ah deixe te perguntar está tudo bem por lá não houve nada de anormal? – Tudo bem sim, só faltam mesmo doadores, carência sempre teve é comum para aquela pobre gente! –Ah então já que não temos filhos ajude mesmo aqueles bebês tão inocentes isso me conforta enquanto nossos filhos não vêm. Saiba que fico feliz com sua atitude, é muito gratificante ter uma esposa assim tão caridosa! Arnaldo apesar de arrasado não deixou se abater nem transparecer sua decepção, há tempos que seu casamento já estava abalado e ele agüentando sem se pronunciar a respeito.
Semanas depois ele encontrou por acaso uma conhecida dona de uma boate que sempre lhe arrumou companhia no seu tempo de solteiro. Conversaram amistosamente sobre os bons tempos passados, e trocaram confidencias de amigos. Ele soube que ela continuava atuando no mesmo ramo, porem atendendo de forma mais discreta, confidencial e sigilosa.
Voltando ao trabalho seu patrão e amigo Joel notou sua tristeza tentou de todas as formas que ele se abrisse dizendo o motivo que o deprimia, não conseguiu. Afirmando estar tudo bem ele o agradeceu. E continuou sua rotina como se nada acontecia.
Mais algumas semanas se passaram, a esposa e ele na mesma rotina, ela se fingindo de voluntaria passando as noites fora de casa, ele no seu trabalho como vigilante. Até que ele decidiu procurar sua amiga Rosa dona da boate. Quando ela lhe apresentou o álbum de fotos das mulheres seminuas, todas casadas, que trabalhavam com ela, para uma possível escolha. Ele sofreu uma pane, ao deparar com determinada foto, seu coração quase saiu pela boca, gelou e empalideceu. Notando seu descontrole Rosa o socorreu com um pouco de água e perguntou: - o que foi Arnaldo? - Nada de mal, apenas uma pequena vertigem, mas esta tudo bem já passou! –Você conhece a dama desta foto meu amigo? – Não, mas é ela que eu quero escolher, vou programar minha folga para daqui dois dias e venho me encontrar com ela, deixe tudo preparado.
Dois dias após armado com seu revolver trinta e oito, ele dirigiu à boate, entrou para a suíte e aguardou meia hora, uma hora, ninguém apareceu. Nervoso ele pediu uma explicação a Rosa. Ela pediu mil desculpas afirmando –, que coisa mais estranha Marisa sempre foi pontual o que terá ocorrido meu Deus! Só pode ser um acidente neste transito maluco!
Voltando para sua casa disposto a apanhar seus pertences e se mudar para uma pensão qualquer, entrou no seu quarto. Imóvel estendido sobre a cama estava o corpo de Mariza, com uma agulha penetrada na artéria da curvatura do antebraço, ligada a uma mangueirinha por onde seu sangue fluiu até se esgotar completamente, numa bacia usada como recipiente à beira do seu leito. Assim findou seu amor!
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 12/06/2012
Reeditado em 20/08/2020
Código do texto: T3719495
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