Contra Golpe.
Um causo que meu pai contava. Havia em uma pequena cidade de Minas Gerais um pobre ceguinho que conquistou os corações da população através de suas cantigas ao som das cordas de sua violinha, com versos elogiosos carinhosos aos quem ajudava-no. Era muito mais um trabalho de que um apelo à caridade pública, poderia chama-lo se fosse nos dias de hoje, artista de rua.
Por sua arte e humildade, ganhava de tudo, roupa, alimentação e até um quartinho para proteger-se das intempéries do tempo.Como ganhava de tudo, foi guardando o dinheiro dos auxílios em uma panela velha e chegou a juntar Um Mil Cruzeiros, um dinheirão na época. Um larápio descobriu e furtou-lhe todo dinheiro. À noite o ceguinho colocou à mão dentro da panela, notou que o dinheiro fora furtado. Não deu alarme, ficou caladinho. No outro dia pegou sua violinha, cantou em todos esquinas da cidade essa cantiga:- “Eu tenho Um Mil Cruzeiros/ dentro de uma panela/ mais logo vou colocar mais Um Mil dentro dela”. O larápio ouviu e deduziu:-se ele não achar o dinheiro não coloca mais Um Mil na panela, volto com dinheiro e depois pego Dois Mil Cruzeiros. Assim procedeu. O ceguinho chegou à noite pegou à grana escondeu noutro lugar. No outro dia seguiu sua rotina de cantar pela cidade. O larápio voltando à panela nem Um Mil, quanto mais Dois.
O ceguinho mudou à versão da cantiga:- “Nunca tive Um Mil Cruzeiros dentro de uma panela / colocar mais Mil dentro/ foi pura balela / alguém caiu na esparrela”.
Lair Estanislau Alves.