Mazzaropi e o Caipira
“... a lógica apresenta certas soluções que a própria lógica desconhece...”
Mazzaropi nunca foi um caipira. Foi isto sim, um artista que trazia nas veias esse divino dom que é o de representar. Em sua biografia, se não me engano, nada diz que ele tenha levado uma vida na roça com a pureza e as dificuldades que esse tipo de vida oferece. O que pode se notar é que seu Avô era tocador de viola e animador de festas. Esse é o dado que tenho. O Caipira, foi o filão por ele encontrado para exercer essa função no meio artístico. Sabia ele o que o matuto gostava de ver e ouvir, aquilo que no dia a dia, era. Alegre, imaginoso, inteligente e criativo. E assim partiu para essa especialidade e foi muito bem sucedido.
Conheci Mazzaropi pelo Rádio, no início dos anos 50. Tocávamos uma roça ás margens da Água do Limoeiro ( próximo de onde hoje fica meu Reino encantado), ao lado de uma pequena cachoeira que tinha a função de oferecer seu barulho como uma canção de ninar nas noites frias, escuras, enluaradas e quentes como é próprio do clima daquele lugar. Aos domingos a noite íamos ao patrimônio de Roseta (1 km e meio), “escutar rádio”. Quais eram os programas preliminares não me lembro, mas o principal era Mazzaropi (7 minutos e meio). Adultos e crianças faziam um ajuntamento próximo ao aparelho que ficava na casa do Tio Juvêncio. Disse ajuntamento porque rádio não precisa ser visto, mas apenas ouvido e dai a posição para assistir ao espetáculo não precisa ser privilegiada. O som é algo extremamente democrático.
Entre os inúmeros “Causos” por ele contados e depois repetidos por meu Pai nos eitos, na hora do café na roça nas sombras das árvores mais próximas, está o de um caipira em viagem à Capital de S. Paulo. Já com fome entrou numa pastelaria para fazer ali sua refeição. Um cartaz anunciava: De carne, de queijo e de palmito. Fez o pedido: “Mi trais dois di parmito e pra bebê água de torneira memo”. Num instante foi servido. Examinando com uma rápida “corrida de zóio”, solicitou: “Oia! Troca esses pasteis di parmito por dois di carne”. Foi atendido. Comeu, até que devagar, limpou a boca na manga da camisa, tomou a água. Ficou parado um bom tempo apreciando o movimento. Apanhou o chapéu novo de palha, bateu com ele nas pernas como se estivesse limpando as migalhas, olhou calmamente envolta observando o ambiente, levantou-se e começou a sair. Foi interpelado pelo garçom: “Ué! Não vai pagar?” “Pagá u quê?” “Os pasteis, ora! Os pasteis de carne que o senhor comeu! “Mais us de carne num perciso pagá! Troquei pelos di parmito!”.“Sim! Então paga os de palmito!” “Ué! Mais us de parmito eu troquei pelos di carne!!!” (oldack/06/05/012).X