FESTA NO CEMITÉRIO
Todos estavam preocupados com o que estava acontecendo nas proximidades do cemitério da cidade. Após as vinte e duas horas, ninguém passava no local. Mal passava a viatura da polícia, porque era obrigada sua passagem. Pessoas que moravam nas proximidades davam volta. Nem mesmo as corujas e pássaros noturnos resolviam voar por aquelas bandas. Era um mistério. Quem investigaria?, diziam as autoridades da cidade. Todos tinham medo.
Na noite de sexta-feira, em um dia um pouco frio, o Manoel resolveu passear por aquelas bandas e ficou muito surpreso: havia ruídos e luzes misteriosas no cemitério. Ao amanhecer, foi logo correndo à prefeitura para contar o veredito.
Ninguém mais se aventurava. Era o medo geral da cidade.
Um novo professor de música apareceu na cidade e foi contratado para reger a banda de música local. O pior é que a sede da banda era próxima ao cemitério e os ensaios tinham que ser no máximo até as oito da noite. Se passasse, todos saiam correndo e poucos voltariam no próximo dia. Era uma situação geral de pânico.
O que fazer?, dizia furioso o prefeito, que por sinal era um dos mais medrosos da cidade. Após as seis horas da tarde, jamais passava perto. Outro problema maior, é que o cemitério ficava no centro da cidade e raras vezes as pessoas saiam para passear e as festividades ocorriam bem longe do cemitério.
Baseado nestas informações, o novo professor de música, de nome Pedro, reuniu-se com o prefeito e outras autoridades e decidiram fazer uma festa, com o nome de Festa No Cemitério, com danças, apresentações culturais e músicas, para ver se o povo perderia o medo do cemitério.
Foi difícil convencer a população, mas anunciaram vários prêmios, várias brincadeiras e com muito sacrifício e propaganda ( anunciaram até no rádio e na televisão), chegou o grande dia.
Para a armação do palco e das arquibancadas, as pessoas que trabalhariam ficaram até as seis horas e após isto, nem os vigias e tão menos os policiais permaneciam no local.
Chegou o grande dia.
Foram convidados grupos culturais, banda de música, teatro e outras atrações, até mesmo um grupo de forró de nome “ Os Bandoleiros do Forró”, da cidade vizinha.
Por incrível que pareça, o dia da festa foi em uma sexta-feira e começaria às seis horas da noite. Neste dia, decretou-se até ponto facultativo nas repartições públicas e o comércio fechou as portas mais cedo. Era festa total. Muitas faixas, muitos fogos e muitas brincadeiras. A população foi em massa.
Por volta de nove horas da noite, assim dizendo, o senhor prefeito subiu ao palco, juntamente com seus assessores e as demais autoridades. Fizeram discursos, mas o tema sempre foi para que as pessoas não tivessem medo do cemitério. Era ilusão o que pensavam. Os mortos jamais regressam e jamais fazem medo para as pessoas.
Desta forma, todos começariam a ficar otimistas, mas sempre com o pé atrás.
O prefeito foi informado, através de cochicho, no palco, que o açougueiro Fernando não estava participando das festividades, justamente ele, que era vereador e grande admirador das festas.
Em dado momento, o prefeito resolveu convidar as pessoas a dançarem uma grande quadrilha em honra a perca do medo do cemitério. Começou. O grupo de forró começou a tocar e o povo caiu na dança.
Em outra extremidade da festa, estava o Peão, apelido para um homem que tinha o vício alcoólico e gritava, dando vivas ao prefeito e à cidade. Queria comer pastel da barraca, mas o barraqueiro não vendia fiado e o Peão, muito tonto, ficava insistindo.
No ponto mais nobre da quadrilha, sabendo que muitos dos participantes até esqueceram do medo do cemitério, o Sr. Prefeito pediu para que todos virassem para o cemitério e o saudassem dando vivas e que o medo já não estava presente entre a população:
- Viva, salve nosso cemitério, hoje não temos mais medo, viva... viva...
Todos olhavam, batiam palmas, o grupo de forró cantando e tocando, a banda de música tocando...
Bromm, chiaaaaaa....
Neste momento, viram-se um clarão subindo nos fundos do cemitério, gritos, e gemidos... Todos pararam e ficaram em silêncio. Somente ouviram a voz de Peão, bem alta, perto da barraca de pastel, que dizia, vocês não quiseram me dar pastel e então os mortos revoltaram, estão vindo para cá comer todo o pastel...
Não deu outra. O tumulto generalizou-se. Eram pessoas que corriam, gritavam, choravam e no instante a praça ficou vazia. Nem mesmo o grupo de forró, nem a banda de música ficaram presentes. Somente o Peão, que se aproveitou da correria e comeu os dez pastéis que ainda restavam da barraca.
Outras pessoas da cidade vizinha resolveram verificar de onde esta vindo o fogo e os gemidos. Foram até o local e encontraram um lote escondido e por felicidade encontraram o vereador Fernando, o açougueiro, que comprava porco, boi e frango às escondidas e os abatiam. Os ruídos e os gemidos eram dos animais e as luzes era a movimentação de Fernando, juntamente com sua família, para arrumar e vender durante a semana.