Uma história de Befana
Na beira de uma estrada de terra uma pobre casinha podia ser encontrada, única e solitária. Traços de simplicidade se encontravam em todas as partes: fora e dentro da casa, principalmente nos cômodos que se dividiam por tecidos amarelados devido à ação do tempo. Pobreza e humildade podiam ser encontradas ali. Uma cadeira rangente de madeira podia ser encontrada em frente a uma espécie de lareira. Sobre o fogo encontrava-se um enorme caldeirão chamuscando e, dentro dele, uma guloseima deliciosa. O cheiro se fazia percorrer por toda a casa e dava para saber que era doce de leite.
Sobre a cadeira uma velha senhora se acomodava, costurando algo que parecia ser um pagãozinho e que ofertaria um recém-chegado bebê. O peso dos anos já se mostrava por meio das rugas, da fragilidade e da habilidade com que as mãos calejadas pelo trabalho teciam a pequenina veste. Ali permaneceu até o término do trabalho, sendo que depois deste dirigiu-se até o pesado caldeirão, retirando de dentro dele todo o doce de leite, quente e recém preparado, e espalhando a gostosura em uma lisa superfície de pedra. Alisava a massa doce deixando-a homogênea. Esperou alguns instantes e com uma faca sem fio cortava em pedaços irregulares o saboroso doce. Assim fez, sem perceber que o tempo acelerava. Já era noite,e Befana se pôs a admirar o céu como sempre fazia. Era uma das mais belas noites que se podia ver. Nenhuma nuvem atrapalhava o brilho das estrelas e quase se podia ver a claridade de todas elas. Sim, quase. Não fosse o fato de uma das estrelas brilhar mais forte que as demais as estrelas no céu brilhariam uniformemente. Befana ficou admirada com a beleza de tal estrela. De seus olhos cansados rolaram lágrimas de amor e fé.
Befana entrou novamente em sua casa, pegou sua vassoura e começou a limpar o pouco de fuligem que restava próximo à lareira. Parou. Segurando a vassoura viajava no tempo, lembrando desde o tempo em que era criança até a idade com que estava. Nunca imaginava que viveria tanto tempo. Três batidas fortes na porta despertaram Befana de seu devaneio. Vagarosamente a humilde senhora caminhou até a porta, abriu-a e se deparou com três homens, cada um portando trajes diferentes e dois montados em belíssimos cavalos, sendo que um terceiro animal encontrava-se à espera de seu dono. Befana percebera que deveriam ser nobres e, calmamente, dirigiu-se ao visitante:
- Pois não, nobre cavaleiro, em que posso ajudar? – disse com voz trêmula e fraca
- Perdão, minha senhora – respondeu um dos homens – me chamo Baltazar e estamos à procura do Menino Rei que, a esta altura, já deve ter nascido. A senhora sabe onde podemos encontrá-lo?
Befana se alegrou. Então era verdade o sonho que tivera quando era jovem.
- Sim, meu rapaz – respondeu ela – Adiante se pode ver uma estrela, a que mais brilha no céu. Se vocês a seguirem ela a levará ao local onde o pequeno Rei acabou de nascer.
Vendo a expressão de alegria da senhora, Baltazar exclama:
- Obrigado, minha senhora. Será que não gostaria de nos acompanhar até o local onde se encontra o Rei dos reis?
Befana para, por um minuto. Lembra-se que ainda há muito o que fazer, o caldeirão para lavar e a fuligem para limpar. Diz a Baltazar que está muito atarefada e que, naquele momento, não poderia acompanhá-los. Os três se despedem da senhora e seguem seu caminho sempre olhando para o céu, tendo como guia aquela estrela tão brilhante.
Befana entra, agarra sua vassoura e começa novamente a limpar a fuligem. Quando percebe lembra-se novamente do sonho que tivera quando jovem, sonho esse que a revelou o nascimento de um pequeno Rei, uma Majestade que reinaria por toda a eternidade e que, como única arma para derrotar o mal usaria o Amor.
Arrependida por ter recusado o convite Befana pega uma cesta, coloca todos os pedaços de doce de leite, monta em sua vassoura e sai procurando pelos três homens. Só que Befana nunca mais os encontrou.
Cada criança que a velha senhora encontrava ela dava um pedaço de doce de leite pensando ser aquela o menino que se tornaria o Rei dos reis. Sempre voando Befana seguia procurando por todos os lares a tal criança, até que chegou a uma humilde casa, bateu na porta e encontrou com Maria, mãe de Jesus. Ela então mostrou se filho, não mais um bebê, mas um lindo menino. Quando Jesus vê Befana abre um lindo sorrindo, sendo presenteado com um enorme pedaço de doce de leite que a velha senhora havia feito há muito tempo, mas que conservava o mesmo sabor do Amor de muitos anos.