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Dizem alguns que a vida é como uma viagem de trem.
Somos passageiros e o fim da vida é a última estação.
O grande lance é a surpresa, pois a cada parada, a cada estação, entram e saem mais pessoas e a gente nunca sabe quando é a vez de descer, ou subir, seja lá o que for, para o fim.
Imaginar que a morte é simplesmente a descida de um degrau de um vagão de um trem, pode até ser romântico, se imaginarmos uma neblina intensa, numa noite fria, onde os outros passageiros começam a olhar pra gente com aquele olhar de penúria, como se estivéssemos sendo encaminhados para um matadouro. E poucos minutos depois, a gente some e a voz geral é cruel: A vida continua e pronto.
Mas existem pessoas que parecem ter o dom da adivinhação e estilizam a despedida com uma espécie de sofisticação. E iniciam uma espécie de auto-flagelo e se entregam.
Há uns dez anos, ou mais um pouco, eu tinha uma cliente que registrou uma firma nova, inaugurou sua loja e no contrato social, constava o nome fantasia ULTIMA PÁGINA. Estranhei muito aquela atitude, comentei com minha esposa e mais alguns amigos e cheguei a dizer que a impressão que eu tinha é que ela estava se despedindo da vida, visto que dias atrás ela havia se queixado comigo que um sobrinho seu estava dando muito trabalho como usuário de drogas, etc.
Dito e feito, três meses após, saiu em todos os jornais que ela havia sido assassinada pelo próprio sobrinho.