Ía o carioca dirigindo
seu lindo carrão envenenado.
Entrou numa estrada, tinindo,
sem se mostrar preocupado.
Confiava no seu carrão
e ía a toda velocidade,
mas vinha na sua mão
uma boiada, à vontade.
Pra não bater, desviou.
Não teve como escapar,
pois o carro derrapou,
foi capotando, até parar.
A boiada, assustada, foi pro mato.
O carrão fumegando pro barranco.
O carioca ileso, neste ato,
tentava ligar o carro, no tranco.
Caía a noite. Esfriava.
O carioca buscou proteção.
Andou muito, já desanimava
quando viu, ao longe, um barracão.
A dona da casa, viúva recente,
ouviu a história e concordou
em ajudar o rapaz, prontamente,
mas bravamente, avisou:
_ Só tem a cama de casal,
portanto não venha na surdina...
Se tentar me fazer algum mal,
lhe dou um tiro de carabina.
Trato feito. Jantaram. Foram deitar.
E a noite foi difícil demais.
A viúva não parava de alisar
o carioca. Não o deixava em paz..
O rapaz ficou bem quietinho,
não deu um pio sequer.
Se afastava pro canto, caladinho,
lembrando-se do aviso da mulher.
A manhã chega. Cheiro de café.
O carioca verifica no quintal
várias galinhas e um garnizé
vigilante, atento, cara de mau.
Curioso, pergunta sorridente:
Senhora, só este galo existe
pra tantas galinhas?_Certamente.
_ disse a viúva, dedo em riste.
_ É um galo bem macho, mineiro...
Mas tem outro que nelas nem toca...
É o ¨fresquim¨ aqui do terreiro,
eu acho, até, que ele é carioca.