Um prefeito morreu.
E o mundo ilusório,
no qual sempre viveu,
apagou-se no purgatório.
Acostumado à obediência
de quem tivesse juízo,
fez a sua exigência
de entrar no Paraíso.
Mas São Pedro orientado
pelo dono lá do Céu.
Disse-lhe bem exaltado:
aqui não meta o bedel.
Você vai descer comigo
e conhecer o Inferno.
Depois subir, e lhe digo
que a ordem é do Pai Eterno.
Aí você pode escolher
o que melhor lhe convir.
No céu ou no inferno viver,
conforme o que lhe servir.
Desceram. A porta se abriu
e descortinou-se-lhe a visão.
O que o prefeito ali viu
tirou-lhe o fôlego e a razão.
Mulheres, bebidas, diversão...
Amigos que morreram outrora...
Um sem fim de opção
pra se dar bem a toda hora.
Foi por todos felicitado
e já quis por lá ficar.
Mas São Pedro, no cuidado,
o fez para o céu voltar.
Mostrou-lhe o Paraíso inteiro
e que grande decepção.
Tudo certinho, muito ordeiro,
silêncio, paz, oração.
Pra São Pedro deu adeus.
E desceu feliz e contente.
Foi se aliar aos seus,
os amigos de antigamente.
Quando a porta se escancarou
o que viu o deixou surpreso:
seus amigos em mulambos, achou.
Todos pelo tornozelo, presos.
E amontoados num lixão,
em busca de água e comida.
Quis recuar, não deu não.
O Diabo já tinha a sua vida.
E não tendo como escapar
da triste, eterna situação
ao Diabo foi encarar
exigindo explicação.
_ Estive aqui ainda há pouco
que é isso, é palhaçada?
Ou eu tô ficando louco
ou abri a porta errada...
Mas o Diabo tinhoso
cheio de lero e de manha
lhe diz em tom veludoso:
_ Eu estava em campanha
e agora não tem mais jeito,
você é o meu novo devoto.
Você me escolheu, Prefeito,
Você me deu o seu voto...