O MENINO CAIPIRA E O FANTASMA DO CLUBE SOCIAL
Aconteceu em janeiro do longínquo ano de 1956. Eu, um menino da roça com meus treze anos de idade, cursando admissão ao ginásio, morando na casa de meus avôs, com muita timidez e nenhuma experiência com a rotina da vida na cidade. Cumprindo ordem, eu lavava na mão, um cesto abarrotado com as mais belas laranja que se possam imaginar, colhidas no pomar da fazenda de meu avô. Era um presente muito especial ao coletor da receita estadual seu amicíssimo, homem fino, e respeitado na sociedade bom-despachense, a quem vovô recomendara-me a entregar. Morador na área mais nobre da cidade, ao lado do clube. Reduto social chique e sofisticado, freqüentado pela elite, da rainha dos cristais, titulo alusivo ao apogeu do garimpo vivenciado por Bom Despacho em épocas passadas.
Vinte horas, horário em que a granfinagem socialite adentrava para o baile da noite. Com meu jeito brejeiro de menino caipira, meio trôpego com peso daquelas belas frutas, bem a frente do clube social um grupo de senhoritas em trajes de gala todas perfumadas atacaram-me esvaziando o cesto, como se estivessem todas famintas. Valeu-me uma bela jovem que desaprovando a atitude das demais colegas, as ordenaram a devolver-me as frutas. Poucas foram as que acataram sua ordem. Apavorado entreguei o que restou ao coletor e retornei imaginando como seria se meu avô descobrisse tal episódio. Teria eu que inventar uma bela duma justificativa. Por sorte no dia seguinte educadamente a esposa do coletor devolvia ao vovô o cesto com um sorriso de gratidão, tecendo elogios pelo maravilhoso sabor das belas frutas.
Fiquei traumatizado com o clube como se ele fosse assombrado, a partir daquela trágica noite eu passava sempre no lado oposto da rua. Com uma sensação de culpa pelo ocorrido. Decorrido vários anos entrei La pela primeira vez numa assembléia da cooperativa agropecuária, mesmo assim com certo receio, meu trauma tinha dois motivos o primeiro o marcante episódio das laranjas, o segundo o fato de, por longos anos ser um local só freqüentando pela elite, e eu como matuto que sempre fui não me julgava digno a adentrá-lo.
No passado havia uma grande barreira entre as classes sociais e um aparente preconceito que as separava, a classe B e C não se atreviam a freqüentar o clube social.
Eu jamais poderia imaginar que aquele roceirozinho condutor de laranjas um dia iria subir ao palco naquela sala aonde só os nobres tinham acesso, e estar entre os escritores homenageados; como ocorreu no dia dezesseis de maio próximo passado. Quando com muito brilho o colégio Millenio me concedeu a honra de estar entre os dez escolhidos como destaque; em comemoração aos cem anos de emancipação política de Bom Despacho. Um momento histórico e marcante, em que eu não pude deixar de retornar imaginariamente ao passado, há mais meio século naquela memorável noite em que minha ingenuidade de menino caipira se confrontou, com a falta de educação daquelas elegantes e perfumadas jovens da elite bom-despachense dos anos cinqüenta. Espero que a partir deste acontecimento este fantasma brejeiro do meu passado se apague de vez!
Aconteceu em janeiro do longínquo ano de 1956. Eu, um menino da roça com meus treze anos de idade, cursando admissão ao ginásio, morando na casa de meus avôs, com muita timidez e nenhuma experiência com a rotina da vida na cidade. Cumprindo ordem, eu lavava na mão, um cesto abarrotado com as mais belas laranja que se possam imaginar, colhidas no pomar da fazenda de meu avô. Era um presente muito especial ao coletor da receita estadual seu amicíssimo, homem fino, e respeitado na sociedade bom-despachense, a quem vovô recomendara-me a entregar. Morador na área mais nobre da cidade, ao lado do clube. Reduto social chique e sofisticado, freqüentado pela elite, da rainha dos cristais, titulo alusivo ao apogeu do garimpo vivenciado por Bom Despacho em épocas passadas.
Vinte horas, horário em que a granfinagem socialite adentrava para o baile da noite. Com meu jeito brejeiro de menino caipira, meio trôpego com peso daquelas belas frutas, bem a frente do clube social um grupo de senhoritas em trajes de gala todas perfumadas atacaram-me esvaziando o cesto, como se estivessem todas famintas. Valeu-me uma bela jovem que desaprovando a atitude das demais colegas, as ordenaram a devolver-me as frutas. Poucas foram as que acataram sua ordem. Apavorado entreguei o que restou ao coletor e retornei imaginando como seria se meu avô descobrisse tal episódio. Teria eu que inventar uma bela duma justificativa. Por sorte no dia seguinte educadamente a esposa do coletor devolvia ao vovô o cesto com um sorriso de gratidão, tecendo elogios pelo maravilhoso sabor das belas frutas.
Fiquei traumatizado com o clube como se ele fosse assombrado, a partir daquela trágica noite eu passava sempre no lado oposto da rua. Com uma sensação de culpa pelo ocorrido. Decorrido vários anos entrei La pela primeira vez numa assembléia da cooperativa agropecuária, mesmo assim com certo receio, meu trauma tinha dois motivos o primeiro o marcante episódio das laranjas, o segundo o fato de, por longos anos ser um local só freqüentando pela elite, e eu como matuto que sempre fui não me julgava digno a adentrá-lo.
No passado havia uma grande barreira entre as classes sociais e um aparente preconceito que as separava, a classe B e C não se atreviam a freqüentar o clube social.
Eu jamais poderia imaginar que aquele roceirozinho condutor de laranjas um dia iria subir ao palco naquela sala aonde só os nobres tinham acesso, e estar entre os escritores homenageados; como ocorreu no dia dezesseis de maio próximo passado. Quando com muito brilho o colégio Millenio me concedeu a honra de estar entre os dez escolhidos como destaque; em comemoração aos cem anos de emancipação política de Bom Despacho. Um momento histórico e marcante, em que eu não pude deixar de retornar imaginariamente ao passado, há mais meio século naquela memorável noite em que minha ingenuidade de menino caipira se confrontou, com a falta de educação daquelas elegantes e perfumadas jovens da elite bom-despachense dos anos cinqüenta. Espero que a partir deste acontecimento este fantasma brejeiro do meu passado se apague de vez!