A Menina e o Jeep
Nos meados dos anos sessenta, no interior do estado de Goiás, o carro mais usado nas fazendas e nas pequenas cidades, era os Jeeps. Carro bem forte, pois aguentava os fortes buracos das estradas, enfrentava atoleiros na época das chuvas, que era uma beleza só. Como também passava tranquilamente pelos córregos e riachos sem apagar, pelos mata-burros sem sacolejar. E lá em Pendura Saia não era diferente do resto do estado e esta história se passou em Pendura.
E foi neste ambiente que Luiza nasceu, menina sapeca, inteligente, muito viva, adorava passear com o pai. Pois como toda criança, ele era o seu herói.
Senhor João, homem bom, honrado, bom pai de família, marido exemplar, amigo dos amigos e dos inimigos também, isso se aparecesse algum, pois ele era uma pessoa estimada por todos da região.
Certa feita, um amigo chegou a sua casa e conversa vai, conversa vem, disse a ele,
-João, o Miguel da Dita esta querendo me vender um gado Nelore, queira que você fosse lá comigo para olharmos o gado. Se puder ir agora vou ficar muito agradecido.
-Claro Jorge! É só o tempo de avisar a patroa.
Dona Tereza, estava na cozinha passando um café e preparando uns bolinhos fritos de polvilho para a visita. Seu João foi até lá para avisá-la, já foi dizendo,
-Tereza, o Jorge está me chamando para ir com ele até a fazenda do Miguel da Dita para olhar um gado.
No que ela disse,
-João, espera mais um pouco, porque estou passando um café e fritando uns biscoitos.
-Está bem Tereza.
Voltou à sala para avisar o amigo e conversar maiss com ele.
Luiza que estava entrando na cozinha porque havia sentido o cheiro gostoso dos biscoitos. Foi para a sala ficando em um canto quieta, mais de olho no pai, porque ela queria ir com ele. Pois adorava brincar com as filhas de dona Dita.
Quando o pai e o seu Jorge acabaram de merendar, levantou para sair, ela disse,
-Papai, posso ir também?
Pediu com os olhos cheios de ternura. O pai não sabia dizer não.
Lá se foram. O pai sentado na frente do Jeep com seu Jorge e ela atrás toda feliz. Chegando à fazenda, enquanto os homens ficaram na sala conversando, Luiza e as filhas da dona Dita brincaram muito, de pular corda, pique esconde e outras brincadeira.
Quando o negocio foi selado entre eles, E foram preparando para ir embora, dona Dita sai da cozinha e diz,
-Os amigos vão ficar para a janta, já coloquei um frango na panela e cortei uma guariroba para fazer o jantar. O jantar será arroz, feijão, frango ao molho de açafrão e guariroba. E com um cardápio deste não tem goiano que resista, até nos dias de hoje é assim. Eles como bom goiano que eram, ficaram para o jantar. Naquela época, o jantar nas pequenas cidades e nas fazendas, era entre as 16h30min às 17h00min. Depois da janta, como sempre sai aquele cafezinho gostoso e fresco. Com ele, mais conversa vai e conversa vem entre os homens.
Quando os amigos saíram da casa do seu Miguel, já era boca da noite. Seu João chama por Luiza para irem embora, ela já estava dormindo, pois havia se cansado de tanto brincar e correr. Aí dona Dita coloca um cobertor na parte de trás do carro e seu João deita a filha nele, e a cobri com outro cobertor. Dona dita diz,
-Ela irá confortável assim, não irá acordar. As minhas meninas também já estão dormindo.
Despediram dos donos da casa, foram embora conversando, falando do bom negocio que o seu Jorge havia feito. Quando estão passando em frente do cemitério o carro passa em um buraco da estrada, pois já era noite dá uma bacada, eles seguem rumo à casa de seu João. Quando o carro para em frente da casa, ele chama pela esposa para pegar a Luiza e a colocar na cama. Mas, ela não está dentro do carro, dona Tereza diz para o marido,
-João, onde mesmo que está a Luiza? Por que aqui no carro não esta.
-Está deitada aí atrás em um cobertor.
-João aqui tem um cobertor sim! Mais a Luiza não está nele. Homem de Deus o que você fez com a minha filha?
Seu João e seu Jorge chegam até ao carro apavorado.
Quando seu Jorge lembra da bacada do carro e disse,
-João será que ela caiu na hora da bacada? Por que a dona Dita a colocou deitada no Jeep. Todos nós vimos. Vamos lá ver.
Dona Tereza disse chorando,
-Vou junto ver o que aconteceu com minha filha, não quero nem pensar no pior.
Saíram em disparada quando chegaram a frente ao cemitério, Luiza estava lá deitada no meio da estrada dormindo, não acordou. Quando a mãe a pegou nos braços, foi que acordou, chorou dizendo que o braço doía. Eles olharam para ver se tinha quebrado, mais não. Era apenas um arranhão por causa da queda. Todos suspiram aliviados, pois Luiza estava bem e tudo não passou de um susto. Pois naqueles anos, a cidade era muito tranqüila quase nunca passava carro pelas estradas. O que não representou perigo para a pequena Luiza.
O único problema era se ela tivesse acordado no escuro e visto que estava em frente ao cemitério e desse de cara com alguma alma pena. Mas como assombração não existe tudo acabou bem para todos. E o povo de Pendura Saia tiveram assunto por uns dias, pois cidades pequenas sem grandes acontecidos tudo vira novidades em seus moradores.
Lucimar Alves