Em 1974 estava a cumprir o serviço militar obrigatório nas dependências do 12º RI, (Regimento de Infantaria), em Belo Horizonte, hoje 12º BI, (Montanhismo), uma das experiências que não me arrependo, apesar das circunstâncias de então. Vivíamos o regime militar e a forte adoção do AI5. Daquela época, carrego comigo as lembranças da Banda Militar do Regimento, suas auroras festivas, seus dobrados e principalmente os desfiles diários, (ordem unida), para o oficialato. Porém, um fato instigante me chamou a atenção, naqueles meus dias de caserna. Quando apresentávamos armas à bandeira, na ordem unida, reparei que o mastro que a sustentava, era crivado de balas.
Entre uma conversa e outra, durante aquele período de um ano, fiquei sabendo que o mastro da bandeira, toda perfurada por tiros, era um dos postes da eletrificação do quartel, quando este foi atacado pela Força Pública do Estado, hoje, Polícia Militar de MG, nos idos de 1930. O motivo dos tiros foi o combate na revolução liderada por Minas Gerais, para depor o Presidente Washington Luis, e impedir a posse de Julio Prestes, e que deu fim à República Velha. Esse imbróglio começou quando os paulistas romperam a aliança que mantinham com os mineiros, denominada, “política-do-café-com-leite”, que era a continuidade trocada entre um Estado e outro na Presidência da República.
Naquele ano a indicação deveria ser dos mineiros, mas os paulistas indicaram Julio Prestes para suceder o Ex-governador paulista, Washington Luis. Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, (que dá nome à avenida que nos leva à região da Pampulha, aqui em B.Horizonte), Governador do Estado de Minas Gerais, acabou apoiando a candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas, quem perdeu o pleito eleitoral para o paulista Prestes. Com a intervenção de Minas Gerais, juntamente com Paraíba e Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas assumiu a Presidência do país, Prestes foi exilado e em 03 de outubro de 1930 teve inicio a era Vargas.
Desde a década de 70 tinha a intenção de pesquisar e escrever sobre essa histórica passagem. No entanto, justamente agora, por ocasião de minha decisão em levar adiante o projeto, ao procurar o serviço de Relações Públicas do 12º BI, para obter a permissão de entrada e a autorização para fotografar as marcas da revolução de então, no poste e nas paredes do prédio, fui informado que em outubro de 2011, o repórter do jornal Estado de Minas, Gustavo Werneck, teve a mesma ideia, tirada de uma palestra proferida pelo atual Comandante do 12º BI, Ten. Cel. Alcio Costa, quem se admirou com a história do batalhão e decidiu recontar ao grande público o contencioso, que é pouco conhecido dos próprios belorizontinos.
Ao ler a reportagem no site do jornal, me surpreendi com a entrevista dada pelo Presidente da Associação dos Reservistas do Brasil, Sr. João de Souza Armani, ao afirmar que o bairro Santa Efigênia, leva em suas ruas e praças, alguns nomes de militares envolvidos no episódio, tal qual, a própria rua onde moro: Tenente Garro. O Tenente Joaquim Garro Ferreira Rabelo, foi o primeiro a morrer no combate, ao tentar destruir um ninho de metralhadora instalado em uma das varias posições de defesa do quartel federal. Ao ser visto, quando rastejava até o seu alvo, foi atingido por uma rajada de metralhadora. Outro que recebeu homenagem e teve seu nome colocado em uma rua, essa onde se localiza o mesmo quartel, (12º BI), no bairro Barro Preto, foi o Tenente Brito Melo, jovem oficial que comandava as tropas sitiadas, que teve o coração trespassado por uma bala de fuzil. E ainda, Tenente Anastácio Moura, Tenente Vitorino e Major Barbosa. Pensava serem esses nomes, dados às ruas do antigo bairro, simples homenagens do 1º BPM da capital, pois, foi o “BG”, como é conhecido pelos antigos moradores, o pioneiro, quando do início de sua habitação, no despertar do século passado.