A moça foi pra cidade
e era pra estudar,
perdeu a virgindade
e voltou sem se formar.
Contou o fato aos pais
e se fechou na vidinha.
Da vida não queria mais
do que trabalhar na vendinha.
Era o comércio da família,
de onde vinha o sustento.
O tempo fazendo a vigília.
E o fato no esquecimento.
O arraial foi crescendo.
O povo só que chegando.
O progresso acontecendo.
A vida só melhorando.
Enricaram. Fizeram patrimônio.
Armazém. Hotel. Restaurante.
Pedido de matrimônio
chegava a todo instante.
Mas a moça só seguia
com os homens desiludida.
Ía ficar pra titia
até o final da vida.
Porém, sua mãe enviuva.
As duas na solidão.
Mas numa noite de chuva
chega ao Hotel um peão.
Os olhos dos dois se cruzaram.
O clima se faz então.
As pernas da moça bambearam.
Ficou sem ar o peão.
O amor tem lá as suas manhas.
Cupido é esperto, escolado.
Teceu logo as suas artimanhas.
Os dois ficaram apaixonados.
Marcaram pra logo o casamento.
Mas havia aquela questão.
Melhor não pensar no momento.
O tempo é senhor da razão.
A mãe feliz com o noivado
e sendo grande o casarão,
exigiu que após casados
morassem com ela, senão...
O rapaz era gente de bem,
honesto, sério, trabalhador.
Muito religioso, também.
E fiel ao seu amor.
Isto de fato sugeria
tamanha preocupação, pois
como será que seria
a noite só deles dois?
A mãe sugeriu um artifício:
deixar o rapaz embriagado,
tão bêbado que o orifício
acharia um tanto apertado.
Casaram-se. e por tradição
fizeram o noivo beber,
até quase cair no chão.
Era gozado de se ver.
E lhe deram de presente
dentro da tal tradição,
uma garrafa de aguardente
com mel em grande porção.
Estava assim feita a trama.
O rapaz por garantia,
colocou-a debaixo da cama,
pois a noite prometia.
No entre e sai dos convidados
a noite foi passando.
Os noivos um tanto cansados,
no quarto de nupcias entrando.
A casa, silêncio total,
todo mundo foi embora.
A mãe se encosta no portal
do quarto. E agora?
De repente o rapaz dá um grito
e faz o maior escarcéu:
Quem foi esse maldito
que buliu aqui no meu mel?
É que algum convidado
entrara no quarto furtivamente.
O sacana, o tarado,
bebera metade da aguardente.
A velha que nada sabia
que era esta a questão
falou o mais alto que podia
pra amenizar a situação:
Meu genro, ninguém buliu por aí.
E olhe que eu não falo a esmo...
É que as mulheres daqui
são um tanto afrouxadas assim mesmo...